sexta-feira, 6 de abril de 2012

Voz que escuta, 25 dias, 25 poemas




O poema de hoje é da autoria de Políbio Gomes dos Santos, poeta que apresenta características de tendência Neo-Realista.
De facto, podemos encontrar este poema, intitulado "Voz que escuta" no Novo Cancioneiro, cancioneiro onde se encontram reunidos poemas Neo-Realistas e de cariz engagé.


Chamam-me lá em baixo.
São as coisas que não puderam decorar-me:
As que ficaram a mirar-me longamente
E não acreditaram;
As que sem coração, no relâmpago do grito,
Não puderam colher-me.
Chamam-me lá em baixo,
Quase ao nível do mar, quase à beira do mar,
Onde a multidão formiga
Sem saber nadar.
Chamam-me lá em baixo
Onde tudo é vigoroso e opaco pelo dia adiante
E transparente e desgraçado e vil
Quando a noite vem, criança distraída,
Que debilmente apaga os traços brancos
Deste quadro negro - a Vida.
Chamam-me lá em baixo:
Voz de coisas, voz de luta.
É uma voz que estala e mansamente cala
E me escuta.

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