sexta-feira, 30 de março de 2012

Estão a destruir o Marco de Canaveses. Queres lutar?

É com muita tristeza e que constato que, em 2012, o Marco de Canaveses está ainda mais isolado no seio do distrito. Este sábado há comemorações. Quero lá estar para saber o que vão comemorar. Hoje percebi o drama dos comboios e dos que todos os dias frequentam a linha Marco - Porto. 

A greve dos maquinistas dura há muito e promete continuar. A decisão prende-se por alegados processos disciplinares que a empresa quer aplicar aos maquinistas. No entanto, a situação parece não ser temporária. Entre os trabalhadores, há muito que se comenta, que se diz, que se ouve que as ligações entre Caíde e Marco de Canaveses são para terminar. Aproveitando-se do direito de greve dos maquinistas, a CP está a experimentar como seria a supressão parcial ou total destas ligações. A empresa de comboios deseja há muito ver-se livre de um serviço que todos os dias transporta centenas de marcoenses e aproveitar para se livrar também de alguns postos de trabalho que passariam a ser desnecessários.

Muito está em causa. No final desta sexta-feira, cheguei a Campanhã e perguntei se valia a pena tirar um bilhete até ao Marco, visto que as greves constantes têm diminuído significativamente as ligações. O funcionário informou-me que não sabem se vai haver ou não comboio (que seria em Caíde, cerca de 50 minutos depois). Compro um título até ao Marco e chego a Caíde e constato que não há ligação. No entanto, os que fazem a linha todos os dias já estavam precavidos, já trazem transporte particular até àquela estação e não esperam por um comboio que nunca virá.

Tudo poderia parecer um dia normal de greve, a não ser os seguintes factos: Dura há mais de um mês; promete continuar; não é anunciada a supressão dos comboios (como se já não existissem); para termos informações temos de nos deslocar ao gabinete do chefe de estação; a CP não devolve o dinheiro do bilhete até ao Marco; são muitas as dezenas de marcoenses que ficam em Caíde à procura de uma saída...  

Segundo informações de vários funcionários da CP, a empresa prepara-se mesmo para reduzir ao máximo ou simplesmente suprimir as ligações entre o nosso concelho e aquela estação, que passaria a ser a estação terminal daquela linha dos urbanos do Porto. 

Constatei hoje também a indiferença e o comodismo de muitos marcoenses. Notei que a maioria prefere discutir com os funcionários que não têm qualquer responsabilidade e acomodar-se, mudando as suas rotinas e acabando por ceder à vontade economicista da empresa. 

Se queremos que o Marco de Canaveses continue com ligações aos urbanos ou a tão prometida eletrificação teremos de lutar. E a luta já esteve mais longe. Nestes momentos, temos de nos unir e mostrar-nos fortes. Não deixaremos que continuem a isolar o Marco de Canaveses, a destruir um concelho já debilitado e a morrer, pouco a pouco, nos últimos anos. 

Espero estar errado, mas é cada vez mais uma certeza. 

Congresso do Município

Este fim de semana realiza-se o Congresso do Município no Marco de Canaveses. O evento enquadra-se nas comemorações dos 160 anos do concelho e terá muita história, convívio e muito orgulho em ser marcoense à mistura. A Juventude Socialista vai lá estar. Junta-te a nós! Consulta o programa aqui

quinta-feira, 29 de março de 2012

Empreendedorismo Social - Parte II por José Carlos Alves


A saída da crise pelo combate à pobreza

Entendo que poucos perceberam o cerne da actual crise financeira internacional e, que por isso, não a estão a atacar no seu ponto certo. John Kenneth Galbraith, a propósito da crise de 1928, colocou a desigualdade na distribuição de rendimentos como sendo a sua principal causa. O problema não era o consumo, mas existirem poucos consumidores, o que tornou a economia dependente de um alto nível de investimento ou de um elevado nível de consumo de bens de luxo, ou de uma composição de ambos. O capitalismo moderno tentou resolver o problema através do crédito. Mas, a solução passa necessariamente pela correcção real das desigualdades na distribuição de rendimentos. Numa sociedade onde a riqueza é melhor distribuída, esta circula melhor. Mais vale entregar migalhas a milhões, do que muito a poucos.

Considero que a origem desta crise não está errado acesso ao crédito. Não se podem assumir alguns dos comportamentos desviantes a este nível como a regra geral. Mas, que a sua razão está na queda do rendimento disponível das pessoas. As tais pessoas que são o princípio e o fim de tudo. Então, há que combater esta queda do rendimento disponível das pessoas[1], das tais pessoas que se constituem em Estado, em empresas, em contribuintes… que são o princípio e o fim de tudo o que existe no mundo.

A Queda do Muro de Berlim em 1989 eclipsou o ideal socialista da Economia Estatal ou Planificada, enquanto a crise do Sub-prime nos EUA em 2007 esteve na origem de um tremendo abalo do sistema financeiro à escala global, obscurecendo o paradigma liberal da Economia de Mercado. Na altura, cerca de 95% do montante das trocas monetárias realizadas em todo o mundo diziam respeito a transacções de natureza puramente financeira e especulativa. As taxas de crescimento económico dos países desenvolvidos eram permanentemente baixas. Cerca de 15% da população mundial consumia 80% dos recursos disponíveis no planeta e quase metade da humanidade vivia na pobreza (com menos de 2 dólares/dia).

É assim por demais evidente que estes sistemas têm de ceder o seu estatuto predominante à Economia Social e Ambiental de Mercado, único modelo de desenvolvimento sustentável para o século XXI. Segundo Philip Kotler, “o crescimento da economia mundial dependerá da forma como se conseguir transferir poder de compra para as mãos dos mais pobres, seja desenvolvendo produtos apropriados e baratos, seja promovendo o empreendedorismo”, “ … a solução passa pelos 4 mil milhões de pessoas que vivendo em posição de pobreza relativa – rendimentos anuais inferiores a três mil dólares – passem a ser encarado como consumidores em potência”. E acrescenta ainda “ Há sobrecapacidade de produção. O problema é que a classe média não vai consumir muito mais, já tem o que precisa. O desafio é, então, fazer da base da pirâmide um segmento de mercado, numa dupla aposta, negócio e combate à pobreza”.

Hoje, mais do que nunca, a utilidade marginal de cada cêntimo despendido a mais em actividades que visam interromper o ciclo de pobreza é incomensuravelmente superior à utilidade do dinheiro que se gaste em outra actividade económica, seja ela qual for. Nas actuais circunstâncias de profunda crise, na medida em que ao combater-se a pobreza se está a contribuir para ampliar o mercado global a médio/longo prazo, não se vislumbra outra saída.

Não existe outro negócio com tanto tamanho acrescentado quanto este, não há outro tipo de projecto com um valor actualizado líquido mais garantido e precioso do que este de erradicar a pobreza.[2]

A questão é que a maior parte das soluções para a saída esta crise reside neste tipo de iniciativas, para a qual há que mudar a sensibilidade e a prática dos dirigentes, ao mais alto nível do país. É preciso fazer nova doutrina, no âmbito da economia social de mercado, para sairmos desta crise.


As Empresas Sociais

Estas caracterizam-se por regras muito simples: é um negócio que contribui para trazer o bem às pessoas, sem a intenção de directa e imediata do lucro mas da sustentabilidade. Quando se coloca 1 milhão de euros neste negócio, não se espera ter um retorno extra, mas tudo o que se pretende é recuperar o milhão de euros investidos, ao mesmo tempo que se cria uma empresa que resolve um problema social. Por exemplo, ao nível da saúde, através da uma empresa farmacêutica, que apresente ao mercado medicamentos mais baratos para que todos os possam comprar. Como não há intenção de lucro, será possível baixar os preços na comercialização, investindo-se menos nas embalagens e em campanhas de publicidade. As pessoas não são curadas pelas embalagens.

As pessoas funcionam por motivações, o segredo está na sua definição e dos prémios associados. Os incentivos dos mercados de hoje não são construídos de forma a encontrar a óptima afectação de recursos a mais longo prazo. O truque está em saber usar os interesses egoísticos em favor do bem comum. Os Gestores são premiados em termos de bónus se, em vez de maximizarem os lucros para a sua distribuição aos accionistas, alcançarem os objectivos sociais pré-definidos.


A âncora deste novo sistema: o Banco Social

E porque não combater a pobreza com um Banco Social? O projecto passa por mobilizar os activos financeiros não reclamados nos Bancos para o combate à pobreza. Em Inglaterra existem 19 mil milhões de euros em activos não reclamados e de carácter financeiro, isto é, contas bancárias não movimentadas há mais de 20 anos, juros de obrigações, dividendos de acções, prémios de seguros e certificados de aforro não reclamados e que, no fundo, pertencem à sociedade e não aos balancetes dos bancos, das seguradoras, das instituições em que estão perdidos. Segundo o Presidente da TESE – Associação para o Desenvolvimento, João Wengorovius Meneses “bastaria em que em Portugal se tivessem mil milhões de euros para se fazer uma revolução ao nível da coesão social”. Esta ideia foi apresentada de forma informal aos Governos, mas até hoje nada foi concretizado.

Em Inglaterra criou-se uma comissão de activos não reclamados e depois um Banco Social, sendo este que financia as políticas do Ministério para o Terceiro Sector, com dinheiro que pertence e deve ser devolvido à Sociedade. Em Portugal ainda está perdido nos balancetes dos Bancos e das Seguradoras. Mas não basta querer o dinheiro. É preciso uma lógica de actuação e os projectos que criem riqueza.

Exemplos, entre outros, de projectos concretos do Banco Social:

  1. Instituto Goia, Vitória, Espírito Santo, que capacita jovens para fazer restauros de edifícios históricos e para a geração de rendimentos para as suas famílias
  2. Verdadeiro micro-crédito, em vez do actual crédito-micro oferecido pela Banca
  3. O Joãozinho
  4. Bolsa de Valores Sociais
  5. Fundo Social para o Desendividamento
  6. Fundo de Reabilitação Património Religioso
  7. Fundo de Reabilitação Urbana
  8. Gestão Aeroportuária do Francisco Sá Carneiro
  9. Projectos de consolidação de empresas: comboios turísticos no Douro e Tua
  10. Marketing no apoio a causas sociais
  11. “NEW YORK OPPORTUNITIES” – prémios em vez de Subsídios
  12. Hortas Urbanas
  13. Banco de Terras Rurais para Empreendedores rurais
  14. Hipotecas invertidas para aumento rendimento de reformados
  15. Plataformas de co-working – HUB Porto
  16. Fundo para a Inovação Tecnológica Social (…)



O papel da Inovação social

Ainda predomina, frequentemente, uma visão assistencialista dos mais pobres e a maneira como as instituições sociais olham para os beneficiários ainda não é de igual para igual, sendo necessário passar a ver no outro uma oportunidade, em vez de um problema, sendo para isso necessário criatividade e imaginação, sendo que muitas das ideias que podem fazer a diferença nem custam dinheiro, apenas precisam de apoio na sua implementação.

A inovação tem sido considerada o principal factor de geração de valor ao nível da economia, dos negócios, da ciência… Porque é que no domínio social não se percebe que pode ser igualmente geradora de valor, tanto mais que as realidades sociais estão sempre a mudar?

O que é isto de inovar socialmente? Por exemplo, a Google e a General Electric criaram um contador que mede a energia eléctrica gasta, não em kws, mas em euros ou dólares. Este contador fica à vista e fica-se a saber quanto custa em energia o fazer uma torrada, o manter a tv ligada, etc., concluindo que gera poupanças mensais na ordem de 15% a 20%, só por alteração do comportamento das famílias, contribuindo para a questão energética do lado certo, o da procura. Em termos de impacto ambiental, se seis famílias pouparem este montante é equivalente a tirar um carro da estrada para sempre, em termos de emissões de carbono. Quanto custa ao Estado? Zero.


Exemplo de projectos inovadores, a nível financeiro: O Fundo de Desendividamento

“Quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo.”

Mahatma Gandhi

Existem muitas pessoas que caíram na armadilha do sobre-endividamento, pelo recurso indevido a cartões de crédito acima dos seus rendimentos disponíveis, que estão a pagar taxas anuais efectivas superiores a 30% e que poderão até ascender a 34%, segundo a muito recente decisão do Banco de Portugal. O resultado é o não conseguirem amortizar o financiamento, estando a pagar nas prestações apenas o juro, ficando assim presos para longos períodos de tempo, com fortes impactos sobre a sua estabilidade pessoal e profissional.

Recordo um dia, após sujeito no Aeroporto de Lisboa a um controlo de bagagem de mão, de ser abalroado por alguém no seu trabalho de me conquistar para um cartão de crédito e do absurdo desta situação me parecer querer sinalizar algo…

Depois, veio o dia em que um amigo, rompendo o silêncio de uma vergonha não merecida, me pediu ajuda, por há mais de sete anos estar a pagar cerca de 400 euros mês – para um rendimento mensal de 600 euros – e que já não aguentava a situação de pressão, tendo o seu estado de espírito passado à fase de raiva e de revolta, antecipando-se o da perigosa passividade. Procuramos então uma Instituição Financeira que lhe emprestasse os 17.500 euros que devia (de um valor inicial de 10.000 euros), a uma taxa de juro decente e com a indicação de um plano de reembolso de capital e de pagamento de juros, que garantisse a integral liquidação da dívida. O empréstimo foi recusado, com o novo Banco a alegar a não regular situação junto do Banco de Portugal por incumprimento de prestações. A Instituição emissora do cartão de crédito exigiu que para a regularização teríamos de pagar a totalidade dos 17.500 euros... Ficamos com uma  " pescadinha de rabo na boca  " .

A substituição deste financiamento por um plano a prazo de reembolso, com uma taxa de juro moralmente adequada, permitiria, com menor esforço de pagamento, proceder à regularização desta situação num  dado prazo, de acordo com o exemplo que apresento: 

Em oito anos, como na situação que vivenciei, pagam-se em juros mais do dobro do capital emprestado, que se mantém totalmente em dívida. A uma decente taxa de Euribor + 4,5% = 6%, seriam pagos 5 mil euros em juros e reembolsado o capital em oito anos. Aliás, a DECO, se mais consciente da fórmula de cálculo de renda anuais, deveria exigir que, no caso do crédito à habitação, as rendas mensais incluíssem reembolso de capital desde o momento zero. O cumprimento, em condições adequadas, é também um projecto “win-win”. Ganham, (i) a entidade credora inicial, que não perde o seu crédito (se bem que com menores remunerações), (ii) o eventual novo Banco Financiador, que toma um cliente que percebe bem os riscos e os pesadelos do incumprimento e (iii) sobretudo, porque foi pensado para ele, o devedor, que verá a vida como ela deve ser vivida, com alegria e esperança.

Um mundo que não aprende com a história está condenado a repeti-la”, destacou recentemente, neste âmbito, o Presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O endividamento por taxas usurárias é uma forma de escravidão…É muito fácil ajudar, se derrubarmos a barreira do silêncio dos decisores acomodados. Posso ser muito ingénuo, mas para mim, a vida é para se ser feliz e sentir que os outros também o são.


O papel dos mais excluídos na dinamização económica: a Reabilitação Urbana pelos mais idosos

Em termos de ponto partida, admita-se que um reformado tem um imóvel desonerado, ou seja, sem qualquer hipoteca ou outra responsabilidade associada. E que pretende aumentar o seu rendimento.

Em Espanha, há instituições financeiras que disponibilizam soluções, em que é feita uma hipoteca sobre a casa, em troca da qual o proprietário passa a receber uma renda mensal vitalícia.

Com este sistema, as contas de alguns Bancos apontam para que um aposentado médio espanhol, que recebe uma pensão de 600 a 700 euros por mês, possa duplicar os seus rendimentos mensais. Neste país, trata-se de um veículo financeiro que funciona como um sistema complementar dos rendimentos de reforma, decisivo neste período de busca de soluções para a sustentabilidade da Segurança Social. Após a morte do mutuário, os herdeiros têm um ano para vender o imóvel e amortizar o capital e os juros em dívida. Ou, simplesmente, para liquidar o empréstimo e manter a propriedade. Se nada disto suceder, poderá sempre a Instituição de Crédito transferir o imóvel para Fundos de Investimento Imobiliário Especializados, previamente contratados, e acertar contas com herdeiros (sendo que os descendentes nunca herdarão a dívida que não possam pagar com a venda da propriedade).

Onde poderia aqui entrar a reabilitação urbana? Em termos complementares a esta solução? Presume-se a existência de muitos imóveis no Porto que são propriedades de famílias idosas, sem possibilidades financeiras para a sua recuperação, e destinados a habitação própria ou arrendamento. E se esse fluxo vitalício de rendimento, atrás apresentado, fosse afetável, parcial ou integralmente, ao pagamento das obras de recuperação? Que até potenciariam o seu próprio valor passível de hipoteca. Ou seja, complementarmente ao que é feito em Espanha, em Portugal seria como um veículo para o financiamento das necessidades com a reabilitação de edifícios que são propriedade de idosos, de uso próprio ou arrendamento (senhorios, idosos, com poucas posses).Eventualmente, dada a actual crise internacional precisamente nos mercados imobiliários, poderá este risco não ser passível de assumpção por entidades bancárias privadas. Mas, dentro daquele princípio em que a intervenção pública deverá existir para suprir as carências de mercado, parte dos fundos para a reabilitação do QREN poder-se-iam constituir, por esta via, como um Banco de Fomento da Reabilitação Urbana para imóveis propriedade de cidadãos da terceira idade.


O papel dos sistemas multiplicadores do rendimento

Devem-se procurar sistemas multiplicadores, distribuidores e indutores de impactos no maior número possível de agentes. Ou seja, em vez de se aplicarem 500 mil euros directamente na reabilitação de cinco edifícios da baixa do Porto, entendo preferível apoiar 20 projectos de micro-geração, no valor unitário de 25.000 euros, que depois proporcionam em cada casa uma renda mensal de 250 euros, capaz de suportar um financiamento de 75 -100 mil euros. Em vez de quatro casas, reabilitam-se vinte.

Ver parte I aqui.



[1]  - “Hoje, a maioria das pessoas acredita que a pobreza é parte da vida. A partir do momento em que se aceita isso, nunca se pensa em eliminá-la. Eu coloco a questão de outra forma: a pobreza não é parte da vida, não pertence à humanidade, é-lhe imposta de forma artificial pelo sistema. Sendo assim, podemos eliminá-la e libertar as pessoas dela. Se pudermos todos globalmente acreditar nisso, então é possível mudar isso e, globalmente, um dia eliminar a pobreza”. Muhammad Yunus
[2] Pedro Aragão Morais – Sector 3, Consultoria de Gestão

quarta-feira, 28 de março de 2012

Comboios: PS apresentou proposta para eletrificação

Em relação à eletrificação da linha entre Caíde e Marco de Canaveses, é com agrado que a JS Marco tem conhecimento de que o grupo parlamentar do Partido Socialista na Assembleia da República apresentou um projeto de resolução (N.º 261 /XII/1.ª), a 17 de março, em que "recomenda ao Governo a requalificação e eletrificação do troço Caíde-Marco na linha do Douro".

É importante verificar que não estamos esquecidos e que há alguém que realmente pensa em fazer alguma coisa em relação a este estruturante projeto para o Marco de Canaveses, há tantos anos prometido e não cumprido pelos sucessivos Governos.

O grupo parlamentar propõe:

1. A concretização do projeto de modernização do troço Caíde/Marco de Canavezes, na Linha do Douro, que inclui a retificação do traçado e a renovação integral da via, a implementação de sinalização eletrónica, telecomunicações e a sua eletrificação, bem como, a remodelação das Estações de Vila Meã, Livração e Marco de Canaveses e dos Apeadeiro, a construção de interfaces rodoferroviários e a beneficiação dos túneis de Caíde, Gaviara e Campainha.

2. A integração do troço Caíde/Marco de Canavezes da linha do Douro na Rede suburbana do Porto e o aumento da frequência dos horários.


Projeto de resolução disponível aqui.

Dia Mundial do Teatro, um momento para reinvindicar

No dia de ontem comemorou-se o Dia Mundial do Teatro, no entanto em Portugal essa comemoração deu asas a uma reinvidicação junto à Assembleia da República convocada pelo Sindicato dos Músicos, dos Profissionais do Espectáculo e do Audiovisual (CENA). A estrutura sindical referiu em comunicado: "No Dia Mundial do Teatro, não há, em Portugal, grande lugar a festejos. A displicência que este Governo mostra para com quem faz e vive das artes e da cultura foi mais uma vez evidente com o anúncio do corte de 100% nos apoios anuais e pontuais que a Direcção- Geral das Artes dava às estruturas artísticas."
Portugal assiste a um assassinato cultural levado a cabo pelo governo PSD/CDS. Portugal tem a capital Europeia da cultura (Guimarães 2012). Na sua abertura Cavaco Silva e Passos Coelho referiram na afirmação de Portugal no sector cultural mostrando os valores de um povo ao mundo.
Passos Coelho em Matosinhos afirmou "(...) é em  momentos como aquele que estamos a atravessar  que devemos misturar ainda mais as nossas vidas com as artes e com a cultura" (????) Como, sr. primeiro ministro? Cortar a 100% no investimento das artes cénicas é misturar a vida dos portugueses com a cultura?


Desde já alerto para a existência de um sindicato dos músicos, dos profissionais do espectáculo e do audiovisual (CENA). São instituições como estas que deverão ganhar expressão e voz perante o governo, salientando mais do que nunca a importância do investimento cultural.

                                                                         

terça-feira, 27 de março de 2012

Comboios: Manuel Moreira mentiu?

Crescem as dúvidas, as greves continuam, as negociações também. O certo é que as ligações regionais (serviço urbano CP Porto) entre Caíde e Marco de Canaveses quase deixaram de existir. Fontes da CP contactadas pela JS Marco garantiram que a empresa prepara um corte profundo no número de comboios a circular, não a partir de 1 de abril, mas sim a partir do primeiro dia de junho. Asseguram também que o presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses já há muito saberia do caso. Verdade ou mentira?

Ora, na última Assembleia Municipal, realizada em Soalhães, o presidente do executivo garantia que as negociações com a CP corriam a bom ritmo e até estava no horizonte a possível eletrificação da linha entre Caíde e Marco, ainda que sem a remodelação das estações. A JS chegou a felicitar os avanços anunciados pelo presidente, mas agora a história parece ser outra.

Se, por um lado, o deputado marcoense na AR, Luís Vales, garantiu que é mentira o que se diz por aí, por outro, não é possível esconder-se o cada vez menor número de comboios a circular no nosso concelho.

Todos os dias, um número muito significativo de marcoenses vai até às estações com serviço urbano mais próximas para se deslocarem para o trabalho, para a escola, etc. E quem não tem possibilidades? E quem não tem transporte pessoal? E quem não tem rendimentos que permitam (como aos senhores que nos governam) despender de dinheiro para efetuar estas deslocações?

Sabemos qual é a estratégia: retirar comboios para que os que ficarem a circular não irem ao encontro das necessidades das populações, o que, por sua vez, levará à redução da afluência. Consequentemente, fazem um estudo, mostram que nao há viabilidade para continuar a haver comboios a circular, e pronto, acontece como a linha do Tâmega. Esquece-se o assunto, e mais uma vez quem é prejudicado? 

O que temos assistido é grave, é sério, e os marcoenses precisam de estar atentos. Se uns acham que isto é aproveitamente político, outros estão cá fora, andam de transportes públicos, saem à rua, vêem a realidade, e não se conformam!

Queremos e temos o direito de saber o que se está a passar e o que estão a fazer com o Marco de Canaveses, já muito afetado nos últimos tempos pelas circunstâncias que todos conhecemos. A JS Marco promete não baixar os braços a esta luta. Estamos e estaremos pelo interesse dos marcoenses, pelo interesse da maioria e não de uns senhores que colocam, na mesma balança, receitas (lucros e prejuízos) e cidadãos, com o intuito de saberem qual deles tem mais peso.

É inadmissível que a CP, sabendo da situação, cobre, por exemplo, aos utentes que possuem passe mensal mais dinheiro para frequentarem os interregionais provenientes da Régua e que acabam por ser a única alternativa em certas alturas do dia.

E, senhor Manuel Moreira, não me venha dizer que a JS Marco só se lembrou agora da eletrificação, porque há muitos anos que lutamos por esta causa, independentemente do partido, da cor ou das caras. Porque acima de tudo estão os marcoenses.

Eu ando de comboio. E o senhor presidente?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Empreendedorismo Social - Parte I por José Carlos Alves


De acordo com um recente apelo de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, aos jovens, “está na hora de fazer e de fazer bem” – isto é o empreendedorismo – e “de fazer o bem”  - isto é empreendedorismo social (ES) -.

Empreendedor é aquele que idealiza e mobiliza recursos para concretizar uma ideia de negócio. Apesar do conceito de empreendedor estar associado à ideia de criação de negócios privados e lucrativos, podemos estar a falar de projectos sociais com ou sem fins lucrativos. Importa, sobretudo, identificar os empreendedores sociais como aqueles que reconhecem e resolvem problemas da sociedade com soluções organizacionais que não privilegiam o lucro financeiro mas o seu avanço.

Qualquer novo movimento teórico e empresarial necessita de uma sistematização de conhecimentos, de um “framework”. para que se evite a perda do seu fio condutor e se corra o risco das raízes pouco profundas saírem desvirtuadas,

Assim, o ES é uma abordagem de Negócio, que se alicerça em elementos chave:
  • Aborda problemas negligenciados da sociedade
  • Desafiando a visão tradicional e o “status quo”
  • Concebendo modelos de negócio inovadores
  • Que capacitam as pessoas
  • Trazem soluções sustentáveis
  • Com um impacto positivo para a sociedade
O que é um problema negligenciado? Existem 70 milhões de minas activas no mundo, presentes em mais de 1/3 dos países e demorará 500 anos, ao ritmo actual, a encontrá-las e desactivá-las  

O impacto? As minas causam danos a entre 15.000 e 20.000 pessoas todos os anos. Custa 3 USD a produzir e colocar mas mais de 1.000 USD a localizar e a desactivar.
 

Que solução? Ratos Africanos treinados para salvar vidas, fazendo mais depressa e mais barato do que o método tradicional de peritos com detectores de minas.


Concebendo modelo de negócios inovador, capacitando as pessoas e com impacto positivo para a Sociedade.
Treino centralizado e uso descentralizado, cria emprego local e rendimento para agricultores que não podem cultivar a terra.




Mas, não precisamos de ir tão longe no mundo, e na parte final este texto vou debruçar-me sobre um problema negligenciado na nossa economia: a escravatura financeira.

O que significa tudo isto? Será apenas a mais recente moda da gestão, destinada em breve a ser substituída por outras? Será diferente do empreendedorismo tradicional? O que traz o empreendedorismo social de original, comparando com as IPSS, os serviços municipais e a responsabilidade social das empresas?

Vale a pena aprofundar estas questões...

And by directing that industry in such a manner, he intends only his own gain, and he is in this, as in many other cases, led by an invisible hand to promote an end which was no part in his intention. Nor it is always worse for society that it was no part of. By pursuing his own interest he frequently promotes that of society more effectually that when he really intends to promote it.
Adam Smith, The Wealth of Nations 1776

De acordo com esta perspectiva, que sustenta o sistema económico capitalista, se olharmos para o interesse próprio, temos um incentivo para desenvolver acções em nosso benefício. Se todos o fizermos, os recursos do mundo são naturalmente correctamente afectados, colocando os recursos de forma eficaz, onde são mais necessários.

A lógica do modelo capitalista, ensinado nas escolas de gestão e MBA é a da mão invisível, que é o mecanismo de mercado:
- O sistema é baseado pelo interesse próprio
- Para influenciar comportamentos, tento dar incentivos
- Quero capturar valor
- Usando a organização empresarial
- Maximizando o lucro na empresa
- Protegendo o conhecimento, não quero partilhar a competência
- Lógica de controlo da cadeia valor
- Construindo vantagem sustentável para as empresas, usando o conhecimento para capturar valor

Mas, será que este sistema funciona? Não há dúvida que sim... Tivemos 200 anos de extraordinário progresso económico e social, e o capitalismo de mercado recompensa o empreendedorismo e a inovação descentralizada, gera economias de escala pelo crescimento dos melhores, aumenta a sustentabilidade da oferta através da criação de indústrias e dá incentivos contínuos para melhorar a utilização recursos.

No entanto, existe um sentimento de que algo não está bem... Este sistema não respeita totalmente a natureza humana e tem lacunas que precisam de ser resolvidas Mas onde falha o sistema capitalista?
- O interesse próprio não é eficaz como guia de comportamento na presença de externalidades positivas – quando grande parte do valor criado numa transacção espalha para além se dessa transacção (ex. áreas de educação, vacinação)
- Há oportunidades de criação de valor para a sociedade que não são exploradas pelo mercado porque não permitem potenciar o lucro empresarial

Os governos devem intervir e corrigir estas falhas de mercado... E muitas vezes fazem-no, providenciando bens públicos que beneficiam a sociedade como um todo (ex., vacinação obrigatória e gratuita, recolha de lixo, educação primária). No entanto, os poderes públicos têm dificuldade em ouvir e resolver problemas com externalidades localizadas em segmentos específicos da população (muitas vezes os segmentos mais desfavorecidos - grupos sem voz activa ou sem capacidade de organização).

Mas, será possível um sistema mais fiel à natureza humana?

“How selfish so ever man may be supposed, there are evidently some principles in his nature, which interest him in the fortune of others, and render their happiness necessary to him, though he derives nothing from it except the pleasure of seeing it.”
Adam Smith, The Theory of Moral Sentiments 1759

O Homem preocupa-se com o seu interesse próprio mas também com o amor ao próximo. Será que conseguimos conceber um sistema económico mais fiel à natureza humana? O mercado não é a panaceia para a solução de todos os problemas. Quando existem externalidades negativas, faz-se mal à sociedade, a solução é má para a sociedade. E há coisas que se poderia fazer, que podem ser positivas para a sociedade, mas não o faço. São as externalidades positivas (vacinação e educação, por exemplo). Há oportunidade de criar valor, mas que não são exploradas pelo mercado porque não potenciam o lucro empresarial.

Os Governos devem intervir e corrigir as falhas de mercado e fazem-no, providenciando bens públicos. Quando alguém tem poder e voz as coisas são fáceis. Quem não tem poder muitas vezes é ignorado.

É aqui que entra o ES. É a procura de soluções sustentáveis para problemas negligenciados pela sociedade e que envolvem externalidades positivas. É a segunda mão invisível de Adam Smith, guiada pelo amor ao próximo, não pelo interesse próprio, conduzindo o sistema capitalista a melhores resultados ao alavancar de forma descentralizada, explorando sistematicamente oportunidades e incorporando externalidades positivas, criando assim valor para a sociedade.

E surge a mudança de paradigma, o antes e o após.

Vantagem Competitiva Sustentável
Soluções Sustentáveis
Lógica de Controlo
Lógica de Capacitação
Proteger o Conhecimento
Partilhar o Conhecimento
Maximizar o Lucro
Maximizar o Impacto Social (Missão)
Empresas
Soluções Sistémicas
Captura de Valor
Criação de Valor
Incentivos
Motivação
Interesse Próprio
Amor ao Próximo

O ES é a procura e implementação de soluções sustentáveis para problemas negligenciados pela sociedade que envolvem externalidades positivas.

O ES envolve uma abordagem não dogmática aos problemas da sociedade, utilizando as instituições mais eficazes para cada caso (mercados, governo central, governo local, comunidades, cooperativas). O foco central de atenção deve ser a solução sustentável para um problema social (e o modelo de negócio que lhe está subjacente), não a organização social – ex: micro crédito e o Grameen Bank. Quando se pensa em ter impacto, pode fazer mais sentido disseminar a solução do que crescer a organização. Os líderes empresariais e políticos podem aprender com as soluções inovadoras desenvolvidas pelos empreendedores sociais (lógica de capacitação, uso de recurso subvalorizados, foco em soluções sistémicas).

“If you want to go fast, walk alone
If you want to go far, walk together”

O mundo que conhecemos está em verdadeira mudança. Assistimos à decadência dos actuais modelos económicos e as novas gerações estão cada vez mais desprotegidas. Urge ter sangue nas guelras, querer agir com paixão e ética para responder a estes desafios que se colocam. Ser empreendedor social é perseguir finalidades sociais e o interesse colectivo, como a criação de emprego, o desenvolvimento local e mundial; é responder de forma inovadora a problemas e necessidades elementares, como levar água, energia e educação a populações carentes; é criar instrumentos e estruturas de trabalho, potenciando toda a mão-de-obra e capital intelectual que os nossos desempregados reúnem; é enfrentar estes e tantos outros desafios como oportunidades, recombinando pessoas, ideias e objectos em soluções para um mundo melhor.Com tantos problemas/necessidades sociais que temos para satisfazer, as oportunidades são imensas. Inspiremo-nos, sejamos criativos e mãos à obra!

Numa altura que tanto se fala de fiscalização aos apoios sociais, afinal:
  •     Que eficácia têm tido estas acções?
  • Que recursos humanos e financeiros têm sido envolvidos?
  • Que papel para a educação e para a formação neste domínio?
  • Que lugar para a inovação no combate à exclusão social?
  • Que política social deve ser desenvolvida?

(continua dia 29 de Março de 2012)