segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Fundação da JS e o 25 de Abril, por Alberto Arons de Carvalho


A JS foi formalmente criada em duas reuniões realizadas nos dias seguintes ao 25 de Abril na Cooperativa de Estudos e Documentação, na Avenida Duque de Ávila em Lisboa. Esta cooperativa funcionava, desde alguns anos antes, como uma espécie de discreto local de encontro dos socialistas, embora mantivesse uma interessante actividade de animação cultural, nos limites da actividade política.

A Juventude Socialista resultava, todavia, da continuação da actividade dos Jovens Socialistas da Acção Socialista Portuguesa (ASP), antecessora do PS. Essa estrutura, criada em torno da actuação da CEUD na campanha eleitoral para as “eleições” para a Assembleia Nacional, em 1969, tentaria alargar a sua influência entre os estudantes universitários, prosseguindo a sua implantação e actividade de forma inorgânica. Por um lado, os jovens socialistas tinham como objectivo a participação nas estruturas e actividades associativas dos estudantes, envolvendo-se no movimento estudantil e nas greves, manifestações ou outras iniciativas contra o regime de então. Por outro, ensaiaram algumas acções de protesto e de combate político, entre as quais a distribuição na Universidade de panfletos próprios ou do jornal da ASP, o Portugal Socialista, a inscrição nas paredes de Lisboa, sobretudo na Universidade Clássica, de frases contra o regime fascista ou pela libertação de presos políticos como Salgado Zenha e Jaime Gama, a elaboração e a distribuição do “Esquerda”, órgão dos Jovens Socialistas Portugueses, um jornal em formato A4, cujo segundo número seria, em condições atribuladas, impresso em casa de Mário Cal Brandão, uma das grandes figuras socialistas do Porto.

A fundação da JS, logo a seguir ao 25 de Abril, envolveria também um importante grupo de jovens originários de sectores católicos progressistas ligados à Juventude Universitária Católica (JUC), nomeadamente José Leitão e Margarida Marques, cujos primeiros contactos e participação nas actividades dos jovens socialistas se tinham já concretizado no início dos anos 70.

A implantação de um regime democrático, graças à revolução do 25 de Abril de 1974, imporia novas responsabilidade aos jovens socialistas, a começar pela sua constituição formal enquanto organização juvenil de um partido, o Partido Socialista.

A formação da JS traduziu-se em vários desafios. O primeiro deles foi o da organização e implantação entre os jovens portugueses.

Nos meses seguintes à Revolução de Abril, não era necessário qualquer esforço especial de mobilização para atrair novos militantes. Bastava existir uma sede aberta para que dezenas, centenas de jovens pretendessem aderir à JS. Em Fevereiro de 1975, cerca de dez meses depois da institucionalização da JS, altura em que se realizou o I Congresso, já havia cerca de 8 mil militantes. No segundo congresso, em Novembro de 1976, a JS já registava 15 mil inscrições. Impunha-se por isso criar estruturas em todos os concelhos, integrá-las no PS, garantir que esses núcleos da JS teriam uma voz activa no partido, articular as estruturas distritais e uniformizar – na medida do possível naquela época de enorme instabilidade e efervescência…- a orientação política e ideológica.

Os acontecimentos posteriores ao 25 de Abril iriam trazer novos desafios. Com efeito, passada a fase eufórica, iriam defrontar-se na sociedade portuguesa duas correntes político-militares: de um lado, uma facção vanguardista e revolucionária, de inspiração marxista-leninista, notoriamente pouco sensível às liberdades ditas burguesas e ao parlamentarismo, onde alinhavam o PCP, diversos grupos da extrema-esquerda e uma corrente do MFA (Movimento das Forças Armadas); do outro, os defensores de uma concepção pluralista, integrada no tradicional modelo europeu de democracia política.

Apesar das cumplicidades reforçadas na luta antifascista com outras forças da esquerda, o PS alinharia, ou melhor, lideraria a corrente democrática e plural que sairia vencedora no 25 de Novembro de 1975.

Os primeiros dois anos da vida da JS seriam, desta forma, marcados por uma evidente contradição. Os jovens socialistas estavam solidários com o Partido liderado por Mário Soares, mantinham-se fiéis aos ideais democráticos que presidiram à sua criação e bateram-se pela consolidação das liberdades fundamentais pelas quais tanto tinham combatido os socialistas durante o regime fascista. No entanto, sobretudo entre os estudantes universitários, imperavam claramente as correntes esquerdistas, que despertavam o entusiasmo dos mais jovens.

Esta contradição não impediria que a JS consolidasse a sua influência estudantil, nomeadamente através da vitória de listas por si apoiadas em associações tão relevantes como a Associação Académica de Coimbra ou as Faculdade de Direito, Letras, e Medicina e o ISEL em Lisboa.

Esses primeiros tempos da JS – entre a sua fundação formal logo a seguir ao 25 de Abril e o II Congresso em Novembro de 1976, ficaram igualmente fortemente marcados por dois aspectos: em primeiro lugar, a estruturação e implantação no terreno da organização, através da constituição e legitimação dos seus órgãos nacionais e dos núcleos de residência, de empresa ou de escola; em segundo lugar, a mobilização dos jovens socialistas, ao lado das estruturas partidárias, para o combate pela consolidação de uma democracia política.

Neste contexto, o debate sobre temas específicos dos jovens trabalhadores e estudantes e a afirmação de propostas reivindicativas de política educativa ou laboral seriam claramente secundarizados, apenas sendo tornados prioritários mais tarde.

Estas prioridades não impediriam que a JS prosseguisse uma importante acção noutros domínios, nomeadamente através da publicação regular de um jornal – Jovem Socialista, dirigido pelo José Leitão – e de algumas acções no âmbito internacional, entre as quais o apoio à organização e a realização em Sintra de um Congresso das Juventudes Socialistas do PSOE, com centenas de participantes vindos do país vizinho, numa altura em que não estava ainda implantado um regime democrático em Espanha.

De resto, depois de uma época de claro confronto entre diferentes concepções político ideológicas, terminada com o 25 de Novembro de 1975, começava o tempo da afirmação das políticas sectoriais. A JS, que estivera do lado certo nos combates no tempo do PREC (expressão então em voga que significava “processo revolucionário em curso”…), saberia manter o grau de exigência e responsabilidade que se impunham à organização dos jovens do maior partido português.

Para a semana:

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