segunda-feira, 30 de abril de 2012

O meu 25 de Abril




Corria o ano de 1969, quando fui surpreendido pela imposição do regime ditatorial salazarista a defender os territórios coloniais, pomposamente designados por “províncias ultramarinas”, mistificando assim a ideia de que Portugal era uma nação única aquém e além-mar.
Iniciei então a minha vida militar como “voluntário”, no ex - G.A.C.A – 2, de Torres Novas, tendo aí sido incorporado no Batalhão de Artilharia 2918 e embarcado em princípios de 1970 no velho “Niassa”, a caminho da ex – colónia Moçambique, como oficial médico da Companhia de Artilharia 2717, tendo regressado só a Portugal em finais de 1972.
Em Moçambique durante o desenrolar da minha comissão de serviço militar (pomposo nome dado a uma imposição), o privilégio de conhecer e conviver com alguns dos oficiais, que viriam a encarnar as figuras dos Capitães de Abril, revelando-se já no nosso convívio diário, como militantes duma mesma cruzada, a concretização dum sonho, que desde os meus tempos de estudante universitário, já então procurara com as lutas académicas da década de 60, a libertação de Portugal e dos Portugueses dum execrável regime político, completamente limitador do usufruto dos mais elementares direitos, como os direitos à liberdade de expressão e do pensamento, à livre circulação de pessoas e bens, o direito à livre reunião de pessoas, o direito à Escolaridade e à Saúde, com carácter universal e tendencialmente gratuito, o direito ao Apoio Social, etc..
Pude em breve, com a vivência nas nossas tertúlias, concluir que me encontrava entre gente com as mesmas afinidades e as mesmas ambições políticas, recuperar a Liberdade e restaurar a Democracia em Portugal, que um golpe militar fascista há muito nos tinha espoliado.
O convívio, quase diário, com capitães, como Sousa e Castro, mais tarde designado para porta-voz do Conselho da Revolução, como Cal e Simões, todos camaradas de armas do meu batalhão e que se revelaram mais tarde como agentes fautores na preparação da revolução de Abril de 74, permitiu-me tomar muito cedo o conhecimento, que algo estava em preparação e que deveria despoletar a curto prazo.
E tal veio a acontecer. Primeiro, o chamado Golpe das Caldas (da Rainha) a 16 de Março de 1974, chefiado por um dos mais corajosos capitães, o saudoso Salgueiro Maia. Depois, a Revolução de 25 de Abril, também conhecida pela revolta dos capitães.
Mas respeitemos a cronologia dos acontecimentos da minha vida.
Avisado como estava, recém-chegado a Portugal e ao meu Marco, terminada que estava a minha comissão militar de “voluntário” por imposição dum regime político ostracizado por todo o Mundo Livre, em meados de Setembro de 1972, logo tratei de me preparar e aos meus, para a possibilidade duma revolta militar, com características bem diferentes da célebre “revolução dos cravos”.
Com o meu irmão mais novo, estudante universitário em Lisboa, avisado para estar alerta e que me passasse palavra o mais cedo possível, se tal viesse a acontecer. E assim foi.
No dia 25 de Abril de 1974 pelas 06 horas da manhã, tocava o telefone na minha residência familiar, com a mensagem de alerta, breve e simples, do meu irmão “liga o rádio na Renascença”. Logo confirmei pela canção de Zeca Afonso, Grândola Vila Morena, repetidamente transmitida pela emissora, que a Liberdade estava a caminho, para nos devolver a Democracia e a Dignidade dum Povo livre.
A Revolução de Abril estava em marcha.
Nesse dia de Abril de 74, muitos de nós Marcuenses, rejubilando de alegria, calcorreamos as ruas do centro da ainda Vila do Marco de Canaveses, não nos cansando de dar vivas à revolução, aos militares, gritando Liberdade, Liberdade, debaixo dos aplausos e dos incentivos duma população em delírio. 
Para minha surpresa, no dia imediato, um grupo de cidadãos marcuenses, há muito lutadores pela Democracia, honraram-me com o seu convite para aderir ao MDMC (movimento democrático de Marco de Canaveses), convite que aceitei de imediato por entender ser meu dever lutar pela defesa da Liberdade e da Democracia e contribuir para a sua implantação no nosso Marco.
Ultrapassando a manifesta resistência de alguns, a incredulidade de muitos outros e ainda as dúvidas, as incertezas e os medos das semanas seguintes ao eclodir da revolução, os democratas desse movimento lançaram-se no terreno, deram a cara e o nome, tratando de ajudar a passar a boa nova e elucidar as populações de tudo quanto acontecia e se modificaria no seu futuro.
Nessa tarefa, verdadeira missão, recordo uns com saudade, democratas marcuenses como Eduardo Moura, João Silva, José Pereira Coutinho, que já partiram do nosso convívio, mas sempre presentes na nossa memória e outros, felizmente ainda entre nós, como Isabel Pinto, Júlio Correia Monteiro, Jorge Baldaia, Amadeu Queirós, Delfim Pinto, João Baptista Magalhães, Carlos Ferreira e tantos outros, que só a minha já fraca memória mos faz esquecer, mas que continuam na nossa saudade.
Só para que os mais novos tomem conhecimento e para que os mais desmemoriados se recordem, limitar-me-ei a citar os nomes dos elementos do MDMC, eleitos para constituir a Comissão Administrativa, que ficou a gerir os destinos da nossa autarquia municipal até às primeiras eleições livres em Democracia. Ei-los:
- Amadeu Marramaque, como presidente da comissão, Isabel Pinto, Júlio Correia Monteiro, Ramiro Pontes e Delfim Pinto, como vogais.
Nos primeiros tempos pós-Abril por todo o país e, também no Marco de Canaveses, seguiu-se, compreensivelmente, um período de alguma agitação social fruto da profunda mudança política, também da necessidade da aprendizagem duma vivência democrática, da noção dos direitos e deveres de cada um, que a revolução nos tinha devolvido.
Cometeram-se erros?
Sim, naturalmente tais erros eram passíveis de acontecer. Nada que nos abalasse a determinação em fazer vingar o sonho pelo qual tantos e tantos portugueses tinham lutado das mais variadas formas e nos mais diversos locais. Nunca nos faltou a paixão, a dedicação à causa democrática, o sentido de justiça, o respeito pelos valores democráticos, agora que finalmente nos tinham sido devolvidos por um punhado de valorosos militares.
 
Urge, porém, nos nossos tempos, defender Abril de 74, defender e incrementar a Liberdade, fortalecer a Democracia, agora tanto como em 74, pois os seus inimigos nunca desarmaram e os sinais dos tempos só parecem anunciar-nos nuvens de muito mau presságio no horizonte do nosso futuro. Teremos, nós os democratas, que nos revemos nos valores de Abril de nos unirmos, de constituir um bloco uno e indivisível, nunca esquecendo que o Povo unido nunca será vencido.

Viva o Abril de 74

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Conselho Municipal de Juventude

À medida que vamos crescendo, ouvimos vezes sem conta, que “somos o futuro”, que os jovens serão “os Homens de amanhã” e que apenas nós “teremos a capacidade de melhorar tudo aquilo que nos envolve”. Concordo! Mas é preciso que estas afirmações não caiam em saco roto e que, quando têm o poder para nos envolver nas políticas que decidirão o nosso futuro, não nos menosprezem.
O conselho municipal de juventude (CMJ) é um órgão consultivo que deve auxiliar o executivo camarário de forma a conhecer as reais necessidades dos seus jovens e traçar estratégias e acções no sentido de as comutar. A dinâmica das associações juvenis representadas no CMJ deve ser aproveitada no sentido de melhorar as estruturas de apoio em matérias como o desporto, acção social, educação e cultura. Mas tal não acontece.
Sempre que tentamos participar, somos imediatamente impugnados por uma mão cheia de argumentos que nada contribuem para o real objectivo deste conselho. Ficamos reduzidos a um grupo legalmente imposto que reúne apenas para cumprir o regulamente e que nada acrescenta à sociedade.
É aflitivo perceber o conforto que alguns membros sentem perante a inércia deste conselho. Autênticos boys partidários que aguardam pacientemente as migalhas do seu partido para se alimentarem.
É contra isso que lutaremos. A Juventude Socialista continuará a trabalhar para que a tua voz seja ouvida! Não nos contentamos com esta inactividade e exigiremos mais deste conselho. Conta connosco para dar um real contributo às politicas de juventude!

Um dia agitado para o Marco

Hoje é dia de Assembleia Municipal (AM). Hoje é dia de reunião da comissão de utentes da linha do Douro com a população marcoense. As 20:30h foram a hora escolhida para ambas as sessões.

A população poderia dividir-se por ambas as sessões, acompanhando os momentos de decisão do nosso concelho, todavia não prevejo grande divisão: a população estará mais interessada em saber aquilo que a comissão de utentes terá para dizer, que as palavras que Manuel Moreira fará soar no salão nobre da câmara municipal.


Considero que hoje é mais uma importante data na luta dos marcoenses pela manutenção das ligações e eletrificação da linha ferroviária. Hoje ficaremos a saber (quem sabe ainda antes da reunião às 20:30h) qual será a ordem para o próximo domingo: estação CP novamente inundada de marcoenses, no caso de resposta negativa por parte da CP, ou descanso geral pela possibilidade, conquistada e merecida, de manutenção do serviço ferroviário. Confesso que, da minha parte, não tenho muitas dúvidas quanto ao meu paradeiro no próximo domingo, mas... A ver vamos! É muito importante que os marcoenses não deixem cair esta luta e não desistam desta causa... Pois a indiferença de todos será a nossa derrota. O Marco de Canaveses é capaz de vencer esta luta, é capaz de, unido, olhar nos olhos as gigantes CP e REFER e reclamar o que é seu por direito. Hoje saberemos mais avanços...

Quanto à AM, não quero alongar-me em demasia, não nesta ocasião. Porém, não consigo deixar de passar a mensagem de que Manuel Moreira (coadjuvado por António Coutinho) têm feito os possíveis por tornar este órgão cada vez menos popular, fechando, lenta e disfarçadamente, as portas do mesmo ao público. Sim, é verdade que o período de intervenção do público se realiza a horas minimamente decentes. Também é verdade que não tem havido qualquer objeção à participação do mesmo, contudo fica a questão: Para quê? Para que vai o público intervir se Manuel Moreira nada diz? Para que vai o público questionar se Manuel Moreira nada esclarece? Com efeito, estas sessões têm se tornado uma arena política, quase exclusivamente, dando tão pouco eco quanto possível aos partidos políticos nela presentes e conferindo um imenso "tempo de antena" a um presidente de câmara que pouco esclarece, omite aquilo que lhe é possível e, no fim de contas, se serve do próprio órgão para fazer a sua voz ouvir-se na sala e nos microfones da rádio... Não admira que os marcoenses se vão afastando da política.

Este assunto será melhor abordado numa próxima ocasião... Pois hoje é dia de reunião com a comissão de utentes. 20:30h na Casa do Povo de Fornos. Não faltes!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O dia em que o meu país mudou para sempre



Foi no dia em que o meu país mudou para sempre.
Tinha chegado de Angola, da guerra, há 3 semanas. Os meus superiores mandaram-me para casa, após 2 anos e meio a ver a morte a dançar ao meu lado, à minha frente, nas minhas costas, nas minhas pernas e braços...
Quando cheguei a casa, sobre a mesa havia, para comer, a fome e o medo.
O meu pai e os meus tios estavam, outra vez, a ser interrogados pela PIDE, há dois dias que não apareciam em casa. No final, regressam porque não há provas que os incriminem de serem comunistas ou de andarem a distribuir panfletos pelas aldeias ou simplesmente por roubarem um naco de pão ao senhor mais rico da região. Mas desta vez ainda não tinham regressado.
A minha mãe sentada numa banca de madeira, a ouvir a telefonia, na esperança que as vozes do outro lado pudessem saciar a fome ou acalmar o medo.
Da guerra não trouxe nem mil escudos, nem uma pensão.
Da guerra trouxe dores e imagens de sangue e napalm, trouxe gritos e corpos mutilados.
Da guerra trazia um vazio e um silêncio olímpicos. Um silêncio de pó e de lama e de terra, espesso, cruel, duro, maciço, de morte.
A minha mãe olha para mim e vê-me com uns olhos que só as mães têm : a compreensão. Mãe.
O seus braços no meu corpo, ou naquilo que parecia ser o meu corpo, as suas lágrimas na minha face, lágrimas que diziam muitas coisas de mãe, que me diziam palavras iguais àquelas que ouvia quando era pequeno e tropeçava - pronto, já passou, coitadinho. Aquelas lágrimas eram quase um antídoto, porque depois da guerra deixei de ser filho e menino. Depois da guerra.
Mas a guerra passou sobre mim e continua mãe... A guerra continua... e dói... Dói muito.
Trago em mim uma doença que me corrói e me trespassa a todo o momento de sangue e ferro e suor e tonturas e sangue e suor e tonturas e tonturas tonturas tonturas e fraquezas fraquezas fraquezas.
O meu amigo Maia disse-me que havíamos de mudar o estado do país, que era um estado sem jeito algum, que era um estado ridículo. Ambos fizemos a promessa que não iríamos matar mais ninguém. Em nome de quem e do quê é que matávamos? Que pátria, que império era esse que o Estado tanto defendia? Que Portugal era aquele onde vivíamos? Porquê manter a ideia de um império que nunca existiu verdadeiramente?
Mas era de noite e a minha mãe abraçava-me e via-me e sabia. Ela sabia.
A minha mãe abraçava-me e o mundo não mudava, tudo era indiferente e tragicamente igual.
Nessa noite, o Maia ligou-me e falou-me que a revolução estava em curso, que já avançava em direcção a Lisboa com os blindados.
Como uma luz grande que não ofusca e revitaliza, o meu corpo volta a ser o meu corpo e ganho forças, mesmo que escute em mim os bombardeamentos da memória.
A minha mãe ajuda-me a vestir a farda, e de madrugada, pedimos o carro ao vizinho, o Tavares da taberna, e vamos a voar para Lisboa, eu e o primo Adérito. A minha mãe, com um sorriso esboçado no rosto, vai para a casa da vizinha e conta-lhe a novidade. Mãe. Lembrar-me-ei de ti para sempre.
O tempo parece parar enquanto voamos até Lisboa.O carro parece saber o que nos move, o motivo de tanto euforia.
Já às portas de Lisboa encontro-me com o meu amigo Salgueiro Maia, cumprimentamo-nos. Ele olha-me e volta-me a olhar e, apesar de tudo, sabe que sou eu,mesmo que a guerra continue dentro do meu peito.
Camarada, hoje é o dia da nossa revolução! É hoje!
Eu a sorrir e a abraçar o meu amigo. A abraçá-lo para sempre.Porque há gestos e momentos que são para sempre.
Depois, os blindados pela cidade, no Terreiro do Paço, no Largo do Carmo. Depois as pessoas a sair à rua, a gritar LIBERDADE!
E a guerra no meu peito, o napalm, o mato, os amigos que perdi... A guerra.
Mas hoje, 25 de Abril de 1974, o país acordou de um coma de quase meio século.
O senhor presidente do Conselho demite-se. O regime caiu.
Do cano das espingardas e dos blindados nascem cravos vermelhos e perfumes de futuro.
É nesse momento que no meu peito se ouve uma explosão enorme no lado do coração. Talvez uma granada que caiu numa caixa de explosivos. O meu coração pára e parece doer muito. A guerra.
Numa questão de momentos, o tempo pára, tudo fica imóvel e eu vejo todos os momentos do país, do mundo que eu vivi.
A minha mãe, o meu pai, os meus tios.
A Maria Adelaide, a quem tinha pedido em casamento antes de ir para a guerra.
A fome, a miséria, o medo. A PIDE.
A guerra.
Os meus amigos, as noites de fado, os copos de vinho.
A recruta, o mato, a praia. Luanda.
A guerra.
Agora há um silêncio enorme, de paz, que não dói. A guerra acabou! Há Liberdade e vejo o meu amigo Maia a caminhar com a certeza que a Liberdade e a Democracia são possíveis.
Sorrio e naquele momento parece que me sonho e me sei feliz para Sempre. Aquele momento em que o meu coração parou foi um momento feliz para sempre.
Já não há mais guerra. Os homens parecem acreditar na Justiça e na Igualdade. Talvez a fome acabe.
O meu amigo Salgueiro Maia a caminhar pela rua, os blindados atrás dele. Os seus passos certos, definitivos.
Eu perdia as forças mas sorria sempre, porque agora era livre e sorria e chorava.
Morri nessa manhã.
Morri no dia em que o meu país mudou para sempre.

O Nome das Coisas, 25 dias, 25 poemas



Liberdade!
Liberdade!
Liberdade!
É o lema de hoje e a luta de sempre! É a palavra que nasce como semente que cresce e floresce sem medo!
Assim, hoje apresentamo-vos um pequeno poema, de apenas 4 versos, como se dos 4 elementos essenciais se tratassem, que termina, por ora, o ciclo dos poemas de Abril. Poemas de Sempre.
O poema de hoje é da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen, encontrando-se na página 28 da sua obra intitulada O Nome das Coisas
É certo que voltamos a repetir esta poetisa, mas repetimo-la por dois motivos de ordem diferente mas essencial.
Em primeiro lugar, é um poema que surge como uma profecia concretizada, como se um novo Messias, a Liberdade, a Justiça, voltasse à terra; em segundo lugar, porque é importante darmos voz ao género feminino, que pouco espaço teve nos nossos 25 poemas.
Em respeito à Liberdade e às Mulheres surge este poema que, a nosso ver, é Definitivo no sentido estético, isto é, na sua forma e na sua beleza polida, simples, magnífica.
Porque a Mulher é a poesia íntima em casa coisa.



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livre habitamos a substância do tempo.





25 de Abril Sempre




Porque, hoje, se calhar mais do que nunca, faz sentido lembrar o 25 de Abril e tudo o que Abril prometeu. 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Poema quase Epitáfio, 25 dias, 25 poemas


O poema de hoje tem como autor a poetisa Luísa Neto Jorge.
Intitulado Poema quase Epitáfio, o poema que se segue tem um carácter marcadamente Surrealista, sendo um dos maiores nomes da Poesia 61, breve revista composta por 5 autores do Sul do país.
Luísa Neto Jorge foi tradutora de grandes nomes da Literatura Universal como Verlaine, Goethe, Apollinaire, entre outros.

 
Violentamente só
desfeito em louco
- nem um gato lunar
te arranha um pouco
Morreram-te na família
irmãos mais velhos
Restam retratos de vidro
e espelhos
Entre as fêmeas bendita
não te quis
As outras mataste
(nem há sangue que te baste)
O chão do teu país
deu-te água e uma raiz
muitas pedras mas prisões
- Senhor demónio dos sós
Quando ele morrer
onde o pões?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Abril está-nos no sangue



Este domingo tive orgulho no meu povo, no povo que luta, que não se resigna, que exige o que é seu por direito. A manifestação a que assistimos no Marco de Canaveses foi mais do que uma simples concentração de populares que procuram a manutenção de um serviço que lhes é útil. Foi um protesto contra um poder centralizado, contra a discriminação territorial, contra políticas economicistas que teimam em avançar num país que está a ser empurrado para o abismo. 

Foi bom perceber, como marcoense, como português, como europeu, que a minha terra mexe, que o meu povo está unido, que os valores da comunidade ainda falam mais alto. Este domingo, vi todos unidos por uma causa, utilizadores ou não dos comboios, marcoenses, baionenses, amarantinos, e de outros concelhos da região. O que falou mais alto foi o bem comum, foi o futuro de uma região. 

Não deixa de ser caricato que tudo isto aconteça em Abril. Ontem senti, talvez como nunca antes, que essa força do povo, a união que tão bem caracterizou o 25 de Abril de 1974, ainda permanece, ainda fala mais alto. Está-nos no sangue, talvez. 

Os governantes que hoje parecem ter o poder eterno estão de passagem. Os que hoje nos atraiçoam a partir de uma capital longínqua estão lá porque o povo os pôs lá. E o que o povo dá, o povo pode tirar.

Na próxima semana, se o nosso contributo for necessário, lá estaremos, em prol de uma causa de todos. 

O 25 de Abril está aí. Merece ser recordado, talvez como nunca antes o foi. 
(Fotografias de Bebiana Monteiro)

Sou nómada e basta-me, 25 dias, 25 poemas





O poema de hoje é da autoria de Casimiro de Brito.
Este poema, recolhido de uma bela antologia, demonstra uma passividade e indiferença perante a realidade.
Todavia, é nessa indiferença que reside a ironia.
A ironia reside na luta.
A luta reside na esperança.
A Esperança brota o Futuro.,


Sou nómada e basta-me
Beber a água que vem da montanha
E olhar a mica do céu onde se reflectem
As mutações da Coisa — o pó
Que nela pousa. A teia do conhecimento
Está podre e não vou
Deitar-me nela. Escrevo porque sou um arco
Que vai acumulando alguns restos
Alguma dor algum vento perfumado
E subitamente dispara. Cinza. Palavras
Que não têm deuses nem brilho nem nada.

domingo, 22 de abril de 2012

Pátria Lugar de Exílio, 25 dias, 25 poemas



O poema de hoje é da autoria de Daniel Filipe, intitulado Pátria Lugar de Exílio.
Daniel Filipe nasceu em Cabo Verde mas cedo veio para Lisboa onde terminou os seus estudos.
Foi colaborador em revistas como Seara Nova e Távola Redonda.
Combateu o regime salazarista e foi várias vezes preso pela PIDE.
O poema seguinte mostra-nos um sentimento de claustrofobia política e existencial.
Neste ano de 1962não como Hazim Hikmet no avião de pedra 
mas na minha cidade
livre de ir onde quiser
e no entanto prisioneiro
neste ano de 1962
exactamente 

em Lisboa
Avenida de Roma número noventa e três
às três horas da tarde
Neste ano de 1962 
encostado a uma esquina da estação do Rossio 
esperando talvez a carta que não chega
um amor adolescente
meu Paris tão distante
minha África inútil
aqui mesmo
aqui de mãos nos bolsos e o coração cheio de amargura
cumprindo os pequenos ritos quotidianos
cigarro após o almoço
café com pouco açúcar
má-língua e literatura
Aqui mesmo a não sei quantos graus de latitude 
e de enjôo crescente 
solitário e agreste
invisível aos olhos dos que amo
ignorado por ti pequeno empregado de escritório preocupado
com um erro de contas
incapaz de dizer toda a minha ternura
operária de fábrica com três filhos famintos







Aqui mesmo envolto na placidez burguesa higienicamente limpo e com os papéis em ordem vestido de nylon dralon leacril
com acabamentos sanitized
e lugar marcado junto ao aparelho de TV
eu
enjoado de tudo e contemporizando com tudo
eu
peça oleada do mecanismo de trituração
eu
incapaz de suicídio descerrando um sorriso-gelosia
eu
apesar de tudo vivo apesar de tudo inquieto
eu
neste ano de 1962
exactamente
não ontem mas precisamente às três horas da tarde
pela hora oficial
exilado na pátria




sábado, 21 de abril de 2012

Os dias do trigo, 25 dias, 25 poemas




O poema de hoje hoje é da autoria de José Manuel Mendes e encontra-se na obra Os Dias de Trigo.
Nascido em Luanda, cursado em Coimbra, este escritor e actual professor de Comunicação Social na Universidade do Minho esteve sempre atento à realidade do seu país, quer através das críticas, quer através da sua pena.
Com apenas 15 anos publicou o seu primeiro livro de poesia.
Neste poema encontramos um eu lírico preso à terra e aos tesouros que ela esconde. Terra essa que é o Alentejo, mas que pode ser visto como todo Portugal.
Não apagarão nosso rastro
nas areias do tempo

fertéis são as terras onde lavramos
os sinos
da manhã

não calarão o brado solidário
alentejos da esperança
país da coragem
mineral

podem matar-nos

não provarão o mel
dos rios

serão cinzas ao findar
da noite





sexta-feira, 20 de abril de 2012

Os Poemas Possíveis, 25 dias, 25 poemas





José Saramago.
Eis o autor do poema de hoje.
Escritor que só o seu nome carrega toda uma vasta, complexa e maravilhosa Literatura, Literatura essa que é um universo imenso.
Prémio Camões em 1995 (maior prémio Literário nacional); Prémio Nobel da Literatura em 1998, autor de inúmeros romances, ensaísta, dramaturgo, jornalista, serralheiro mecânico, entre tantas outras coisas que fez, foi, faz e ainda é.
José Saramago era membro do Partido Comunista, mas é importante notar que o seu primeiro partido foi sempre a Justiça, a Igualdade, no fundo, a Humanidade.
José Saramago é o exemplo de como a Arte é uma forma de engrandecer a Política, mas a Política não se deve servir da Arte como mero objecto. A Arte deve e tem de ser o espelho de tudo aquilo que queremos que seja o Bom, o Belo e o Justo.
Só uma grande consciência é capaz de ter horizontes sem limites, como era o seu caso.
O poema de hoje insere-se na sua obra Os Poemas Possíveis, publicada em 1966.
Pequeno em palavras é o poema que vos apresentamos.
Mas como as palavras escondem sempre outras palavras, pois a Poesia é sempre outra coisa para além do que se vê, a riqueza deste poema é incalculável.
Enfim, tudo o que se possa dizer sobre este Homem será sempre pouco.
José Saramago é um dos pilares inalianáveis da Literatura Portuguesa.
Afinal, o que é a Vida sem Arte?
Bem-haja!


Só direi
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Projetos de resolução do PS e BE reprovados. PSD aprova recomendação

O que se passou há pouco no parlamento era previsível.

O projeto de resolução apresentado pelo Partido Socialista que recomenda ao governo requalificação e eletrificação do troço ferroviário entre Caíde e Marco de Caneveses foi reprovado. A direita (PSD e CDS/PP) votou contra.

O projeto idêntico apresentado pelo Bloco de Esquerda foi também reprovado.

Já o projeto de recomendação ao governo apresentado pelo PSD foi aprovado juntamente com os restantes partidos, à exceção do Bloco de Esquerda.

Resta-nos saber se esta "recomendação" vai resolver alguma coisa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Mar, 25 dias, 25 poemas



O poema de hoje é da autoria de Francisco José Tenreiro.

Com efeito, este poeta nasceu em São Tomé e Príncipe e lá faleceu ainda bastante jovem.

Apesar de não ser um poeta muito conhecido entre os portugueses, Francisco José Tenreiro exaltou a sua raça, a raça dos Negros, o povo do exótico, dos frutos tropicais, do calor e do mar.

Não nos podemos esquecer que este poeta viveu num período em que nos Estados Unidos e na França os negros se começava a lutar pelos direitos dos negros, promovendo a Igualdade e a Justiça.

Assim, o poema que vos deixamos tem como temática não só o mar, mas também o branco e a sua presença (nefasta) em África , assim como breves e subtis referências à Guerra Colonial que prevaleceu por mais de 12 anos, daí a crítica sujacente a Salazar e ao Estado Novo.

Enfim, é um poeta da negritude, mas também um poeta da paz.

É certo que não é de naturalidade portuguesa, mas os temas presentes no poema e a língua lusa que ele veleja com mestria não o fazem da mesma pátria que a nossa?


A voz branca que está no mato
perde-se na imensidão do mar.
Lá vai!
O sol bem alto
é uma atrapalhação de cor.
-Abacaxi safo nona
carregozinho do barco!...


Um tubarão passando
é um risco de frescura.
Lá vai!


O barco deslizando
só com a vontade livre e certa do negro
lá vai!

Armindo Abreu vai estar presente na manifestação pelos comboios

Fonte: LUSA

O presidente da Câmara de Amarante (PS), Armindo Abreu, acusa a CP de pretender desarticular a linha do Douro, provocando uma diminuição da procura de passageiros, para depois justificar a supressão de ligações ao Porto.

"Esta situação é inadmissível", afirmou à Lusa o autarca a propósito da possibilidade de a CP acabar com as 15 ligações diárias do Marco de Canaveses ao Porto, atravessando território de Amarante.

Para Armindo Abreu (PS), esta decisão, se for concretizada, visa "mais tarde ou mais cedo acabar com a Linha do Douro", no troço para além de Caíde, onde terminam atualmente os comboios suburbanos.
"Isto é diabólico", afirmou, admitindo que à CP, na perspetiva de uma eventual privatização, não interessam as ligações que não sejam totalmente rentáveis, como o troço entre Caíde e o Marco de Canaveses.

Num tom agastado, lembrou à Lusa que, neste momento, já poucos comboios param na estação de Vila Meã, Amarante, o que tem provocado muito descontentamento nos utentes que diariamente viajam para o Porto.

O presidente do município também censura a postura da empresa de transportes ferroviários, por "não ligar nenhuma às autarquias".

"Tomam as decisões em Lisboa sem conversarem com ninguém", disse.
Lembrando o que se passou com o encerramento da Linha do Tâmega, Armindo Abreu criticou o desinvestimento dos sucessivos governos na modernização rede ferroviária da região, provocando a sua degradação e desadequação às necessidades.

O autarca de Amarante insiste que há uma intenção da CP de desarticular o serviço de transporte ferroviário na Linha do Douro para piorar o serviço.

"Depois fazem estudos e, para justificarem o encerramento, concluem que há pouca procura", lamentou o autarca.

Questionado sobre se vai participar na concentração marcada para domingo, junto à estação do Marco de Canaveses, Armindo Abreu confirmou a sua presença, garantindo que já está a fazer contactos com presidentes de junta do concelho de Amarante para mobilizarem os munícipes.

Na segunda-feira, os utentes da Linha do Douro, em declarações à Lusa, acusaram a CP de pretender encerrar as ligações, em comboios urbanos, entre o Marco de Canaveses e Caíde de Rei.

Também à Lusa, a CP garantiu que "não existe neste momento nenhuma decisão tomada", mas admitiu que é "necessário o equilíbrio entre os níveis de procura, a oferta adequada e a sustentabilidade do serviço oferecido".

Comunicado PS Marco: Supressão de ligações ferroviárias




Após o anúncio relativo à intenção da CP em encerrar as ligações Marco – Caíde, o Partido Socialista do Marco de Canaveses expressa o seu veemente protesto face a esta decisão que, a ser concretizada, prejudicará em muito todas as pessoas que pretendem viajar utilizando este meio de transporte. Para além dos prejuízos sociais e económicos que esta medida acarreta a todos os marcoenses, também populações de outros concelhos vizinhos ficarão prejudicados, dado que normalmente recorrem à estação do Marco de Canaveses para aí tomarem o comboio.
A ferrovia é um importante meio de transporte de bens de pessoas assumindo-se como um vetor de desenvolvimento económico e social do concelho. No Marco potenciou o crescimento das freguesias circundantes à linha do Douro as quais criaram ao longo dos anos dinâmicas próprias que decorreram desta proximidade.
Por outro lado, numa época de constrangimentos económicos das famílias e do país, em que se deve potenciar o uso dos transportes públicos em detrimento do automóvel, vemos o Governo a implementar uma medida no sentido oposto que terá consequências negativas na qualidade de vida das populações.
Por isso, o PS/Marco não pode ficar indiferente a esta situação e exige ao Governo de Portugal que tenha em consideração que para uma região como a nossa, em se sente particularmente a atual crise, são necessárias medidas de apoio e incentivo aos seus habitantes e não de constrangimento e retrocesso como a que se agora se propõe, pelo que exige o seguinte:
 A inclusão da eletrificação da Linha do Douro até ao Marco no Plano Estratégico de Transportes, de modo a que esta se concretize quando a situação financeira do país o permitir;
 A manutenção dos comboios de ligação entre Caíde/Marco, conforme compromisso anterior da CP, até que tal obra se verifique.

Desta forma o concelho do Marco de Canaveses continuará integrado na linha de comboios urbanos do Porto, situação que consideramos ser imprescindível para a coesão social e económica desta sub-região do Tâmega.
Estamos, pois, solidários com todos os utentes, forças vivas e partidárias que no próximo domingo se manifestarão em defesa da manutenção das ligações ferroviárias entre Marco e Caíde. 

Artur Melo e Castro
Presidente da Comissão Política Concelhia do PS
Marco de Canaveses, 2012-04-16

Atualização: Greve nos comboios continua

O Sindicato Nacional dos Maquinistas vai dar continuidade ao período de greve estabelecido há já muitas semanas. Significa isto que a supressão de comboios regionais, em particular as ligações complementares ao serviço urbano entre Caíde e Marco de Canaveses, é para continuar.

Recorde-se que os maquinistas têm vindo a reivindicar a suspensão dos processos disciplinares aplicados pela CP.

Desta forma, a greve prossegue, agora com a data definida entre 19 de abril e 4 de maio.

O comunicado pode ser lido aqui.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Baião vai marcar presença na manifestação de domingo

A Câmara Municipal de Baião, na pessoa do seu presidente, José Luís Carneiro, apoia totalmente a causa da ligação ferroviária entre Caíde e Marco de Canaveses, que tem sido alvo de ataque pela CP, e subscreve todas as posições que têm sido tomadas para que a vontade da empresa não siga avante.

A Juventude Socialista do Marco de Canaveses sabe que José Luís Carneiro é também um entusiasta da eletrificação da linha. O próprio garantiu-nos que estará presente na manifestação do próximo domingo, na estação de comboios do Marco de Canaveses. 

Será, portanto, mais uma força a juntar-se à que promete tornar-se numa das maiores manifestações populares do Marco de Canaveses e com extrema importância em toda a região. 

Para Ti, Amigo Antero




"A Arte é a coisa santa da Humanidade"

Foi assim que eu conheci o meu amigo Antero de Quental, numa certa tarde ao crepúsculo, ao pé da escadaria da Sé Nova, enquanto ele discursava para um grupo de estudantes que traçava a capa ao vento.

Era alto, de estatura forte, o cabelo e a barba bastante ruiva, o que demonstrava uma certa ascendência britânica e lhe dava um ar quase aristocrático.

Como era bom ouvi-lo a falar das ideias novas que chegavam a Portugal através do vapor que havia poucos anos rasgava a barbárie dura da Península!

Eram ideias maravilhosas! Umas falavam de Hegel e Compte, enquanto outras, ainda mais fantásticas, eram as ideias de um tal senhor Proudhon que mantinha uma acesa discussão com um tal de Karl Marx, uma discussão em que se falava de economia, de um novo paradigma económico e político.

Socialismo.Socialismo. Socialismo.

Era uma palavra nova para os nossos lábios e para os nossos ouvidos.

Socialismo.

O que sabíamos do Socialismo era o que Antero, esse "Génio que era um Santo" como Eça de Queiroz mais tarde o cognominou, lia e sorvia e pensava sobre Proudhon.

Falava-nos do Socialismo Utópico, da necessidade de haver maior repartição da riqueza, da instrução das classes mais desfavorecidas, pois o conhecimento levaria ao desenvolvimento dos pobres. E aí entrava a Arte, a Poesia, a Musa predilecta do meu amigo Antero.

Depois, líamos como discípulos os livros que ele nos emprestava, discutíamos o Socialismo, falávamos do Socialismo. Éramos Socialistas Utópicos!

E a Utopia continuou pelos anos que passaram.

Mais tarde, o meu amigo Antero reuniu-se em segredo, num pequeno barco sobre o rio Tejo, com Socialistas espanhóis, logo após a instauração da breve 1ª República Espanhola, de modo a criar um Federação Ibérica, regida por ideais Socialistas, não republicanos.

O meu amigo Antero era um Socialista e um Romântico, nunca aceitou o Republicanismo por este estar imbuído em ideais positivistas e cientificistas, ideias que Teófilo de Braga defendia e preconizava. Não admirava que o meu amigo Antero cedo se separasse de Teófilo...

Como Romântico que era, como filósofo que era, como poeta que era, o meu amigo Antero tinha constantes crises por confrontar em si o poeta e o filósofo, o romântico e o político.

A República Espanhola sucumbe rapidamente e todos as ideias de Federativismo do meu amigo caem por terra.

Mais tarde, o Ultimatum inglês volta a dar vida ao meu amigo Antero que tinha ido para Paris poucos anos antes da Comuna de 1871, e lá trabalhara como tipógrafo para viver como um operário, um pobre. Era o ano de 1868.

Mas o oposição portuguesa que se levanta face ao Ultimatum está embebida de ideias republicanos, e o meu amigo depressa abandona o cargo que tinha de dirigir palestras e esclarecimentos para o povo em geral, de modo a que este se revolte contra a monarquia.

Tudo tinha feito pelo seu país. Aquelas Conferências do Casino Lisbonense de 1871, a que eu assisti piamente como um discípulo escutanto o seu mestre diante o profano altar do Conhecimento e do progresso.

Mas as Conferências são interrompidas...

Antero partiu para os Açores em Junho de 91 e de lá nunca mais voltou...

Era o dia 11 de Setembro desse mesmo ano dos finais daquele século XIX que tinha sido imenso.

Perto do Convento da Esperança havia um banquinho daqueles de jardim, no céu voavam pássaros e as nuvens sobrevoavam sobre as asas desses pássaros que faziam voos injustos.

O meu amigo tira uma pistola do bolso, dá dois tiros na cabeça e cai para o lado, morrendo minutos mais tarde em agonia.

O meu país empobreceu porque o meu amigo deixou-nos cedo de mais.

Mas o meu país também ganhou tanto com as suas palavras, com a sua Poesia, com a sua Filosofia, com o seu Socialismo.

Antero fez da sua vida uma obra de Arte inacabada, porque era um génio e um santo.

Obra de Arte inacabada que se completa com as suas Odes Modernas , com Tendências Gerais da Filosofia da segunda metade do Século XIX, que foi a sua obra redentora, onde há uma presença forte do Socialismo, ao qual chamo de Socialismo Anteriano, como muitas outras obras que ele pensou e escreveu.

O meu amigo Antero foi um dos pais do Socialismo português, foi dos primeiros seguidores do Socialismo Utópico em terras lusas.

O Cristianismo foi a Revolução do mundo antigo. A Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno.



Obrigado, amigo Antero.



Notícias do Bloqueio, 25 dias, 25 poemas


O poema de hoje, intitulado Notícias do Bloqueio, é da autoria de Egito Gonçalves.
Este poeta foi escritor, editor e tradutor, sendo que a sua obra está traduzida em várias línguas, tendo em conta que ganhou vários prémios a nível nacional e internacional.
Este poema demonstra o carácter revolucionário e empenhado da escrita de Egito Gonçalves, homem que divulgou a cultura literária do seu país além-fronteiras.

Bem-Haja.

Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.

Tu lhes dirás do coração o que sofremos
os dias que embranquecem os cabelos…
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos – contrabando – aos teus cabelos.

Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
– único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.

Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima…

Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento

Vai pois e noticia como um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.

Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.

Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensa delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.

Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e enquanto a água e os víveres escasseiam
aumenta a raiva

e a esperança reproduz-se

Apresentada proposta de requalificação e eletrificação do troço Caíde-Marco

Foi hoje apresentada a proposta de requalificação e eletrificação do troço ferroviário entre as estações de Caíde e Marco de Canaveses na Assembleia da República.

Numa proposta apresentada pelo Partido Socialista, Renato Sampaio, deputado eleito pelo distrito do Porto, defendeu a importância deste projeto numa altura em que a CP pretende a redução substancial das ligações entre as duas estações, que complementam os Urbanos do Porto.

Depois de apresentada e discutida, a proposta será votada na sexta-feira em plenário no Parlamento.

Ficam as intervenções do Renato Sampaio.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Em todas as ruas te encontro, 25 dias, 25 poemas


O poema de hoje é da autoria de um dos maiores escritores portugueses do século XX - Jorge de Sena.
Intitulado Em todas as ruas te encontro, este poema de temática sensual e erótica foi um dos muitos escritos propositadamente para abalar o ideário de ordem do Estado Novo, sendo dos poemas preferidos de Salazar no que diz respeito à sua eliminação do mundo literário.

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Comboios: Reunião com a população

(fonte Rádio Clube Penafiel)

A última reunião da comissão de utentes da Linha do Douro com a população decorreu no passado domingo, no dia 15, pelas 20h, no auditório municipal prof. Emília Monteiro. Reunião da qual resultou a decisão da concentração no próximo domingo, dia 22 de Abril, pelas 18h, na Estação CP do Marco de Canaveses. Tendo estado presente, pretendo deixar aqui algumas notas acerca do que se passou na sessão em questão no sentido de informar todos os marcoenses que não puderam estar presentes.

A primeira constatação que fiz refere-se à elevada mobilização da população em torno desta questão: o auditório municipal esteve praticamente lotado, sobrando umas poucas cadeiras, dando um tom azulado ao fundo da sala. Na mesa estava a comissão de utentes, o presidente da câmara municipal e os presidentes de junta de freguesia mais diretamente afetados (Constance, Toutosa, Vila Caiz, Rio de Galinhas, Tabuado e Santo Isidoro - as minhas desculpas se me esqueço de alguém), aos quais se juntou depois o autarca de Fornos.

A comissão de utentes foi direta ao assunto, sintetizando a reunião decorrida na 6ª feira anterior com a representante da administração da CP, e chegando, de forma célere, às conclusões:
  • a CP propõe o fim das ligações Marco - Caíde - Marco;
  • a população deverá ser servida apenas pelas ligações interregionais;
  • supressão de 15 ligações Marco - Caíde - Marco (regionais, mantêm-se as ligações interregionais).
Foi assim, segundo Manuel Cardoso, da comissão de utentes, que a CP apresentou a sua proposta, junto com informações (ditas verdadeiras por parte da administradora) que sustentem a decisão:
  • ligações Marco - Caíde - Marco apresentam rendimento anual de 40 mil €;
  • ligações Marco - Caíde - Marco apresentam custos anuais de 760 mil €;
É importante referir que, segundo a proposta da CP, os primeiros marcoenses chegariam ao Porto apenas às 7:30h, ao passo que o último comboio a fazer ligação Marco de Canaveses partiria do Porto às 21:54h! Informação que gerou total inconformação por parte dos marcoenses. Isto é inadmissível!

A comissão de utentes rejeitou, perentoriamente, a proposta da CP. Propondo, por seu turno, a substituição dos chamados "camelos" que apresentam um consumo de combustível de cerca de 3L/km, por carruagens ALA que estão em desuso da antiga linha da Lousã, após remodelação, cujo consumo ronda os 1,3L/km. A comissão de utentes mostrou ainda alguma flexibilidade para, em casos muitos pontuais, optar pela supressão de ligações ferroviárias menos utilizadas.

Por seu turno, o presidente da câmara municipal, Manuel Moreira, apresentou-se como disponível para ir para a rua com os marcoenses, sublinhando a sua indignação e tristeza perante as propostas da CP. Por entre lamentos e ofensivas políticas, Manuel Moreira repetiu, até à exaustão, que está com os marcoenses.

Das intervenções do público e posterior interação surgiram alguns consensos e foram apresentadas algumas informações, das quais se destacam:
  • O primeiro objetivo da manifestação do próximo domingo é assegurar a manutenção das ligações Marco - Caíde - Marco (ainda que se possa abdicar de algumas ligações);
  • Irá ser estudado um ajustamento de horários, para que, com menos ligações, se sirva, com qualidade, a população;
  • A comissão de utentes revelou um documento oficial da CP, datado de 2004, onde constava a garantia de que a CP manteria as ligações Marco - Caíde enquanto não fosse concretizada a eletrificação da linha até ao nosso concelho;
  • Foi unânime o reconhecimento de que a tutela, isto é, o secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, será o responsável pela decisão.

Da minha parte, intervim já perto do final da sessão, abordando os seguintes temas:
  • Omissão de informação por parte de Manuel Moreira relativamente à possível supressão das ligações já a partir de 1 de Março! Poderíamos, com esta informação, estar numa fase mais adiantada de negociações e, possivelmente, menos marcoenses teriam sofrido com as diárias supressões de ligações ferroviárias;
  • A supressão de ligações deve zelar pelos interesses de jovens estudantes e trabalhadores, uma vez que os horários praticados por estes, em muitos casos, não se compaginam com a regularidade do horário laboral da restante população: os jovens necessitam das ligações ferroviárias;
  • O Marco de Canaveses arrisca-se a ser INTERIOR sem estas ligações! TEMOS DE NOS UNIR POR UMA CAUSA MAIOR QUE QUALQUER UM DOS MAIS DE 53 000 MARCOENSES.
De resto, foi em uníssono que a população concordou com a data, hora e necessidade da concentração. Não esqueçam:

DOMINGO, 22 DE ABRIL, 18 Horas, ESTAÇÃO CP MARCO DE CANAVESES

A JS Marco de Canaveses está PROFUNDAMENTE empenhada em vencer esta batalha ao lado de todos os marcoenses!


Não deixes de acompanhar todas as novidades no grupo do Pela Ligação Ferroviária Marco - Caíde.
Outros textos deste blogue acerca deste assunto podem ser lidos aqui, aqui e aqui.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Elísio Estanque na 'Prova Oral' da Antena 3

O convidado da próxima semana no nosso blog é o autor do novo livro "A Classe Média: Ascensão e Declínio", editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. 

O sociólogo Elísio Estanque esteve esta segunda-feira no programa "Prova Oral" da Antena 3 e na próxima segunda-feira vai estar por aqui, no blog da JS Marco. A não perder!

Crises Académicas: Génese e Consequências


Geralmente, as greves académicas reivindicam liberdade de associação, condições de bem-estar, serviços de carácter social, o direito de participar nos órgãos de administração, melhorias de qualidade de ensino e investigação, de ordem curricular, etc. O mal-estar político e social favorece a ocorrência de greves e, nesse caso, estas têm consequências políticas relevantes. Por exemplo,  a Greve Académica de 1907 surge na última crise do sistema monárquico com grande importância e permitiu ao rei D. Carlos transformar o governo Constitucional de João Franco em governo Ditatorial, provocando um maior descontentamento popular que favoreceu a instauração da República, que consagrou o direito à greve, logo em 1910. Meio milhar de Greves tiveram lugar entre 1910 e 1926. Entre estas, regista-se a de 25 de Novembro de 1921, na Universidade de Coimbra, com protestos contra as deficientes instalações para os estudantes. Uma das acções de protesto consistiu na ocupação do chamado “Clube dos Lentes” e ficou conhecida por Tomada da “Bastilha”. Esse dia foi consagrado como Dia do Estudante (alterada para 24 de Março em 1962). Este surto teve consequências graves, levando a Ditadura Militar e o Estado Novo a proibirem as Greves em 1927, 1934 e 1958. O direito à greve aparecera em Portugal na segunda metade do século XIX, com Leis de 1864 e de 1891. Com o regime salazarista advieram políticas anti-democráticas, violação da autonomia universitária, privação de direitos de opinião e de associação, crimes políticos de toda a ordem, com prisões, degredos e assassinatos, o mediocrizar das universidades por expulsão e expatriação de professores,  com consequente degradação da qualidade do ensino e da investigação. As greves de 1962 e de 1969 surgem neste contexto e têm fortes motivações políticas que muito contribuíram para a democratização do regime. Para falarmos da greve de 1969, não podemos deixar de a contextualizar e, para isso, temos que evocar a de 1962.

A GREVE DE 1962

Em 1961, as comemorações do 25 de Novembro reuniram em Coimbra estudantes de todo o País. Num jantar com mais de 200 pessoas surgiu o grito “queremos paz” que foi levado para as ruas em cortejo originando represálias policiais e prisões que suscitaram uma vaga de apoio e indignação em todo o país. É neste clima que, em 1962, vários encontros de dirigentes associativos conduzem à criação de um Secretariado Nacional de Estudantes Portugueses que, por sua vez,  promoveu o primeiro Encontro Nacional de Estudantes, em Coimbra, ignorando, frontalmente, um decreto-lei governamental de 1956. Esta rebeldia provocou instauração de processos disciplinares e suspensão de dirigentes associativos ao que Coimbra respondeu com luto académico e a greve às aulas.
As associações de estudantes de Lisboa, sem autorização do Ministério da Educação Nacional, iniciaram as comemorações do dia do estudante a 24 de Março de 1962. A Cidade Universitária foi invadida pela polícia de choque; a cantina foi fechada, muitos estudantes foram espancados e presos. Isto desencadeou uma reacção de repúdio, com luto académico e a greve às aulas. Marcelo Caetano, Reitor da Universidade de Lisboa, consegue mediar uma solução negociada com os estudantes que voltavam às aulas, mas realizaram um alternativo dia do estudante nos dias 7 e 8 de Abril. O Ministério voltou a proibir as comemorações e Marcelo Caetano demitiu-se, segundo uns, por se sentir desautorizado ou, segundo outros, em protesto contra a violência da polícia sobre os estudantes.
Em reacção, os estudantes repuseram o luto académico e desceram até ao Ministério reivindicando autonomia. A greve às aulas continuou até ao fim do ano com confrontos entre estudantes e polícia em Lisboa, Porto e Coimbra. Em represália, o governo reagiu com um decreto-lei que deu poderes ao Ministro da Educação para proceder disciplinarmente contra os estudantes e mandar suspender ou prender dirigentes associativos e outros estudantes.
Apesar disso, os estudantes reuniram-se no Instituto Superior Técnico no dia 14 de Junho, aprovando uma resolução que associava à sua luta pela autonomia universitária, a luta pela autonomia associativa, violando novamente  o  decreto-lei de 1956 que permitia ao Ministério da Educação controlar as reuniões associativas e suspender  ou extinguir as direcções eleitas ou substitui-las por "comissões administrativas". Uns estudantes foram presos, outros expulsos da Universidade em Lisboa, Porto e Coimbra.

Esta tentativa autoritária do Governo provocou a união dos estudantes, incentivando-os a empreenderem lutas pela preservação das suas associações democráticas, mesmo dentro de uma camisa-de-forças ditatorial. Neste processo estavam, entre outros, Jorge Sampaio e Jorge Araújo. Mais tarde, o 24 de Março foi consagrado como Dia do Estudante, pretendendo evidenciar a importância que esta crise académica de 1962 teve como um dos principais abalos do regime salazarista, breves anos após outro abalo que foi o da candidatura presidencial de Humberto Delgado.

A GREVE DE 1969

Neste contexto, entre 1965 e 1968 a Associação Académica de Coimbra foi liderada por uma Comissão Administrativa nomeada pelo Governo e os estudantes foram impedidos de participar no Senado e Assembleia da Universidade (como já acontecia anteriormente) até que, em 1969, foram permitidas eleições. Alberto Martins foi eleito presidente da AAC.
 A crise de 1969, surge um mês mais tarde, a “17 de Abril” na sala que, depois, recebeu esta designação. Da comitiva governamental faziam parte Américo Tomás, o Ministro da Educação e o Ministro das Obras Públicas. Os acontecimentos são conhecidos em pormenor (Celso Cruzeiro, por exemplo, publicou em 2009 um livro sobre este evento). Refira-se, brevemente, que Alberto Martins pediu a palavra ao Presidente da República, que lha recusou, alegando que estava a falar o Ministro das O. P. A cerimónia, terminou logo após o MOP acabar de proferir o seu discurso, sem mais, e a comitiva governamental escafedeu-se. Foi então que os estudantes encheram a sala em assembleia improvisada para comentar os acontecimentos, sem incidentes. Alberto Martins seria preso nessa noite pela PIDE.
Isto desencadeou, por um lado, uma série de acusações e acções governamentais e policiais e, por outro, uma série de debates e Assembleias Magnas dos alunos sobre os problemas da Universidade, como os já referidos mais acima, o afastamento de professores por razões políticas; a perda de valores humanísticos e da autonomia de investigação; a subordinação a interesses económicos de cariz tecnocrático, a critérios de desenvolvimento capitalista e objectivos financeiros, a que o processo de Bolonha não é alheio.
Foram decretados luto académico e greve às aulas, repudiadas palavras do Ministro com apoio de muitos docentes. Com a Universidade encerrada por decreto  até aos exames, os estudantes cancelaram a Queima das Fitas e, no dia 28 de Maio, realizam nova Assembleia Magna com a presença estimada em cerca de 6 mil estudantes, onde foi decretada greve aos exames. Partilho as palavras de José Baldaia (à data, presidente do CITAC e uma das vítimas de represálias), ao afirmar que isto foi novo e de grande importância; o regime foi abalado a tal ponto que aplicou castigos absolutamente inéditos na história do fascismo e da Universidade;  nomeadamente, a incorporação militar compulsiva de quase todos os dirigentes das estruturas associativas e culturais; isto perturbou seriamente a hierarquia militar, a ponto de esta ter  desempenhado um papel fundamental na solução do problema ao exigir que o "castigo" fosse anulado.
A 2 de Junho, Coimbra foi sitiada pelas forças policiais e a Universidade ocupada por GNR, PSP e Polícia de choque.

AS CONSEQUÊNCIAS

O Ministro da Educação Nacional e o Reitor foram demitidos e substituídos, numa tentativa de pacificação da academia. A chamada “Primavera Marcelista” não tinha a força política nem anímica necessária, para levar a bom termo as reformas e democratização das estruturas universitárias; mas, embora timidamente, foi um começo; estava aberto o caminho; a sensibilização geral provocada por estas crises, a sensibilização relativa dos meios militares para a injustiça e inutilidade da guerra colonial permitiram que, apesar de uma forte, fascista e cruel polícia política e de uma GNR inculta e fiel ao regime, cinco anos mais tarde, o 25 de Abril de 1974 viesse consagrar esse objectivo.
Hoje, os estudantes manifestam livremente as suas reivindicações, num ambiente democrático de respeito pelos seus direitos, liberdades e garantias. Aquilo que foi conseguido, por pouco que pareça, é de valor incalculável.