domingo, 8 de abril de 2012

A Nau Perdida, 25 dias, 25 poemas



O poema de hoje é da autoria de Álvaro Feijó, intitulado A Nau Perdida.

Álvaro Feijó publicou poesia em revistas como a Seara Nova e depois, postumamente iria ter poemas publicados no Novo Cancioneiro.

Álvaro Feijó faleceu aos 25 anos com tuberculose, no entanto, legou-nos um tesouro: a Poesia.



Pobre, lá vai! Que rombo no costado!
Como a água a penetra aos borbotões!
Açoita-a, em fúria, o Mar. Adorna ao lado.
Anda à mercê das vagas, dos tufões!
Mas segue, segue em frente. O vento a ajuda!
Galga nas ondas, que doidinha, olhai!...
Julga-se, ainda, a nau que dantes era,
por levar, no porão, uma quimera,
por ir, do vento na refrega aguda,
ovante e sem saber per'onde vai!



julga-se, ainda, a nau que dantes era...
– o que passa não torna ..
Na pobre nau perdida
a água entra e a adorna.
Vai sendo, aos poucos, pelo mar sorvida.



Na agonia estrebucha. Num desejo
de vida e luz, arfante, desesperada,
busca furtar-se ao comprimente beijo
do Mar que a envolve. – Após, é o Mar e nada...


Doirado como um astro,
haste esquecida em campo onde as mondas
Colheram tudo, o topo do seu mastro
fica esperando ainda sobre as ondas.


Na rota pelo mundo
– ao deus-dará na vaga azul e infinda
nós vamos – nau perdida em Mar profundo
– joguetes do tufão;
mas conservando, ainda,
na última Esperança a última Ilusão.

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