O poema de hoje é da autoria de um dos maiores poetas de todos os tempos : Fernando António Nogueira Pessoa.
Soa estranho pensar que Pessoa tenha sido contra o regime se apoiou Salazar nos primeiros anos da sua institucionalização e de o poema Mensagem parecer satisfazer o ideário do Estado Novo. Em Pessoa, nada é o que parece e se virmos o poema Autopsicografia como a chave de decifração dos seus textos apercebemo-nos disso.
De facto, vários intelectuais, a princípio, apoiavam Salazar tendo em conta os 16 anos de instabilidade que a República trouxera.
Assim, Pessoa vêm em Salazar um garante de ordem e estabilidade, no entanto, pouco tempo depois, apercebe-se das verdadeiras intenções desse homem de Santa Comba Dão.
Apesar de Fernando Pessoa nunca se envolver em "rebanhos" ,como ele próprio afirmava, sempre preconizou a liberdade, o que podemos ver através do seu fingimento poético, fingimento que vai ao encontro do fictio, mentir com a escrita e sofrer com a escrita, não com a vida. Sempre a escrita.
Ora, desta forma, é fácil entender que em Pessoa nada é o que parece ser e tudo é metade de outra coisa escondida ou aparantemente escondida.
Eis o poema intitulado Coitadinho do tiraninho!
Coitadinho
Do tiraninho!Coitadinho
Não bebe vinho,
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
E ninguém sabe porquê.
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