segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Juan José Millás - O cano de uma pistola pelo cu

Porque este senhor, Juan José Millás, pôs as coisas, na sua coluna no jornal El País, como poucas pessoas são capazes de as por: cruas, incisivas e duras.


Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.
Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.


Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.

Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.

E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.

Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.
Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

JS Summer Camp 2012


O Marco de Canaveses irá receber a edição 2012 do JS Summer Camp. Esta é uma iniciativa da Federação Distrital da Juventude Socialista do Porto que visa promover o convívio, o debate, a interação e a aprendizagem dos jovens socialistas num clima descontraído.
Esta iniciativa contará com um programa diversificado que se estenderá pelos 31 de Agosto 1 e 2 de Setembro. Este é um evento único e afigura-se como o evento de maiores dimensões da estrutura distrital da JS. Durante os 3 dias estaremos acampados na freguesia de Tabuado, no recinto do Aldeamento Turístico da Torre de Nevões e a concelhia Marcoense deixa aqui o seu convite a todos os militantes e simpatizantes a estar presentes e a integrar esta grande comemoração do socialismo.

Isncrições através do e-mail js.marcodecanaveses@gmail.com ou contacto 917005096.
Podes ficar a saber mais através da página do evento no facebook. Acompanha a nossa página do facebook para acompanhares a evolução dos preparativos e ver como irá o Marco de Canaveses receber-te.

Partilha as imagens e junta-te a nós... Vem fazer parte deste grande momento.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Tema do Mês... De férias



Hoje é 6ª feira. Hoje é dia de Tema do Mês. Mas... Hoje não. Este mês não.
Em Agosto, tal como muitos de vocês, o Tema do Mês vai de férias. Este é um mês para apreciar os recantos que o nosso jardim à beira mar plantado tem para nós oferecer... Este é o mês de ver e sentir Portugal, não o mês para preparar textos e opiniões bem fundamentados acerca de uma determinada temática.
Já que se fala nisto... Já conhecem a iniciativa Portugal, o melhor destino? Um projeto da empresa marcoense Dreambooks que se propõe a cosntruir o maior álbum fotográfico do mundo com as TUAS fotografias... Participa, os prémios são muitos e, no fim, poderás ver a tua foto impressa num mega-álbum cujas páginas terão 8 x 3,5 m.
Voltando ao assunto de interesse, o Tema do Mês. Como haviamos dito: Agosto é mês de pausa na publicação, mas não no trabalho. Iremos refletir sobre o espaço e sobre a forma de conseguir, a partir dos conteúdos nele introduzidos, concretizar propostas e projetos, dando continuidade ao trabalho que os autores tiveram para desenvolver textos interessantes e repletos de conteúdo e intencionalidade. Durante este mês iremos rever os textos e iremos publicar ligações para os mesmos através da nossa página de facebook. A partir daqui poderás recordar os textos publicados, os autores convidados e os assuntos debatidos. Além disto iremos iniciar uma reflexão com todos os nossos seguidores da página e do blogue no sentido de fazer com que os temas abordados vão de encontro às preferências dos nossos leitores.
O Tema do Mês regressa em Outubro... Melhor que nunca!

Até lá...

Com os melhores cumprimentos,
Miguel Carneiro | Coordenador Concelhio JS Marco Canaveses

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Voltando ao assunto TurboLicenciatura...

Não sou grande fã daquele tipo de abordagens exaustivas a assuntos cuja relevância política é ínfima. Este é um dos casos: a TurboLicenciatura de Miguel Relvas. Politicamente não tem que existir tão simplesmente porque Miguel Relvas não pode mais existir num cargo público. E não é apenas pela questão da TurnoLicenciatura... Não é possível esquecer os episódios Mussolinianos de pressão à jornalista do Público bem como a utilização criminosa de informação proveniente dos serviços secretos. Estes dois casos são, a meu ver, consideravelmente piores que a sua TurboLicenciatura numa Universidade cuja imagem está, agora, seriamente danificada. Contudo, voltando ao assunto que me levou a publicar este texto: a TurboLicenciatura! Queria deixar aqui o texto de João Lemos Esteves no jornal Expresso acerca do assunto, intitulado "Miguel Relvas e o erro monumental da JSD". Bom proveito!



1.O episódio da licenciatura de Miguel Relvas continua a gerar a indignação e a crítica dos portugueses. Estes já estão fartos de ser governados por políticos cujo passado é feito de esquemas, favores ou esquemas muito pouco claros. E se já eram muitas as suspeitas que recaíam sobre Miguel Relvas, a confirmação de que Relvas vive bem com "ofertas" e títulos conquistados à margem de qualquer lei mais comezinha decência pública tem um efeito verdadeiramente devastador da sua credibilidade e respeitabilidade pública. De facto, bem se poderá argumentar que Miguel Relvas não actuou, nem desenvolveu nenhum esforço para que a Universidade lhe concedesse o curso - mas a verdade é só uma: Miguel Relvas obteve um diploma universitário com uma facilidade tremenda, tendo sido objectivamente um frete da Universidade a Relvas. Parece que o que acabei de referir resulta evidente.
2. Mas não para todos: é que o líder da JSD, Duarte Marques, veio alegar que Miguel Relvas não é culpado pela forma como tirou o curso: o grande responsável é o autor material da lei, o ex -Ministro Mariano Gago. E que este é um "não-caso", pois Miguel Relvas nunca utilizou o curso em benefício pessoal. Ora, eu conheço relativamente bem Duarte Marques: é um jovem trabalhador, esforçado, com um excelente sentido de organização, mais prático do que teórico. E um parlamentar que tem tentado fazer trabalho. E que normalmente rejeita fazer fretes a membros do PSD, quando sabe que eles não merecem. Duarte Marques chegou à liderança da JSD - lembre-se - depois de um percurso em Bruxelas, como chefe da representação do PSD no Parlamento Europeu, sendo o braço-direito de Carlos Coelho. E curiosamente na JSD sempre foi um lutador pela exigência de rigor na educação, desde o ensino básico até ao secundário. Fiquei, pois, estupefacto quando o ouvi assumir a defesa de Miguel Relvas: Duarte Marques matou assim todo as suas causas políticas e negou o seu passado activista na JSD em favor de uma educação exigente e de rigor: como é que alguém pode defender a exigência e o rigor e depois vem defender um Ministro que tirou um curso "pré-fabricado"? A bota não joga com a perdigota. Duarte Marques, este fim de semana, por sugestão certamente de alguém do Governo, não honrou a juventude portuguesa (que acredita num sistema de ensino superior a sério, quer de natureza pública, quer de natureza privada) e afectou seriamente a credibilidade da JSD. De facto, revelo aqui que, num mail que criei para comunicar com jovens que seguiam programa televisivo em que participei, recebi numerosas mensagens de jovens que me comunicavam a sua opinião que o problema do sistema político era as jotas: aí se aprendia a mentir e a dar o dito por não dito. Com muita pena minha, este fim de semana, Duarte Marques cometeu um erro político gravíssimo.
3. Até porque, convém ainda lembrar, Duarte Marques foi igualmente um dos responsáveis pela campanha da JSD que qualificava José Sócrates como Pinócrates e colocava em causa o seu passado universitário. Ou seja, o critério é partidário: se for um curso feito à pressão, cientificamente nulo de alguém do PS é mau; se for alguém do PSD que tire um curso faz de conta, então, já é muito bom. Por estas e por outras, os jovens se afastam da política. Oxalá recuperes desta, Duarte Marques. Estou a torcer por ti. Todos nós erramos. Tu erraste no domingo - e sabes disso.


Pequeno comentário ao assunto: Dizer apenas que achei fantástico a culpa da TurboLicenciatura de Miguel Relvas ser do ministro Mariano Gago! Hilariante mesmo... Não fosse o assunto muito sério! Brincar com assuntos sérios, em cargos sérios e, pior que tudo isso, remunerados pelo trabalho dos portugueses é muito pouco hilariante! Este assunto não merece grande discussão.