terça-feira, 10 de abril de 2012

Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano manual de prestidigitação, 25 dias, 25 poemas



O poema de hoje é da autoria de Mário Cesariny, um dos maiores poetas do Surrealismo português.
O livro onde se encontra este poema, intitulado Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano manual de prestidigitação, demonstra logo no título o carácter cómico e surrealista deste poeta da lusa língua.
Apoiado na técnica do "Cadavre exquis" , isto é, a associação de ideias, imagens e expressões que nada têm que ver umas com as outras, ou não, este poema dá-nos a imagem de um país, de um país...


no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillaca obsceno


e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço.


e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora aí está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)


diz que grandeza de alma. Honestos porque
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato.

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