quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PSD encerrou a cultura em Portugal - qual o futuro da “idade criativa”?



A DIREITA PORTUGUESA NÃO É POP




   O governo de Pedro Passos Coelho cometeu mesmo antes de entrar no poder um “colossal” erro com o anúncio de baixar o ministério da cultura a secretaria de estado. A cultura em Portugal tem um deficit de crescimento extraordinário face aos restantes países da zona Euro e com esta realidade ainda irá piorar.
   A medida milagreira foi um embuste, dizer que o corte com o ministério da cultura é reduzir a gordura do estado é mentira. Pedro Passos Coelho em tom de regozijo condenável, quando falou nos cortes do estado diz que “nem sequer vai haver ministério da cultura”, como se isso fosse um orgulho. -Para o PSD é mas para o PS e Juventude Socialista não deverá ser de certeza. O Ministério da Cultura foi uma das grandes conquistas do Partido Socialista que agora se perdeu com esta direita. Lembre-se a famosa afirmação de Vasco Pulido Valente, quando era secretário de estado da cultura do governo de Cavaco Silva, dizendo que os artistas produziam melhor na pobreza. Com isto verificou-se que a direita ainda não deixou de ser conservadora e pertencer às alas conservacionistas portuguesas.  
   O Ministério da Cultura tem um orçamento equiparado a uma secretaria de estado, e a rentabilidade das indústrias criativas e culturais é muito grande, com este corte o florescimento da idade criativa em Portugal foi posto em causa. No resto da Europa a opção é investir no sector cultural que tem cada vez mais um maior peso na balança comercial, para não dizer que os retroactivos retirados do investimento são deveras positivos. Actualmente a cultura representa 2,8 por cento da riqueza gerada no país correspondente a 3,691 milhões de euros, empregando 127 mil pessoas.
  Em Portugal a medida de cortar esta área ministerial só existiu porque a sociedade portuguesa tem uma opinião errada do que são as áreas culturais, porque se fosse noutro país da CEE   a sociedade nunca deixaria avançar tal medida adiantada pela direita portuguesa. Socialmente as áreas culturais são vistas como promotoras do ócio, o que não corresponde à realidade. Com a apresentação do corte do MC foram muitas as vozes de políticos de nomeada do PSD e CDS/PP que mal informados indagaram atrozmente sobre a medida. Conferenciando que a cultura é um desperdício de dinheiro em tempo de crise, a cultura continua adiada por tempo ilimitado e só trabalha em part-time. 
   A curto prazo a medida vai afectar os artistas financiados pelo estado, que trabalham em condições temerosamente instáveis tal como os investigadores científicos que na sua maioria enveredam pela emigração, a longo prazo Portugal vai continuar a não aproveitar em tempos de crise o surgimento de novos projectos capazes de serem a alavanca do progresso.
   Pedro Passos Coelho pretende pôr a cultura no plano nacional de desenvolvimento turístico, a cultura não é turismo, esta visão impera no PSD vergonhosamente, existindo uma atroz confusão de cultura e turismo, isto é um caminho pecaminoso que põe em causa o direito à cultura transcrito nos direitos humanos.
   A política propagandista e mal informada do que é cultura, por parte do PSD, roça a indecência, não culpabilizo apenas o governo mas neste caso também responsabilizo as autarquias, o caso da Câmara Municipal do Porto o seu presidente faz indagações extraordinariamente negativas sobre as áreas culturais, nessa cidade neste momento a maioria dos projectos artísticos pertencem a fundações e a investimentos maioritariamente privados. A cultura para muitos presidentes de câmara é a promoção das ditas “semanas culturais” que não tem nada de cultura para além do nome.
   Hoje em dia fala-se na “idade criativa” como uma realidade, as empresas trabalham cada vez mais com criativos, as artes propiciam o surgimento de uma sociedade muito competitiva, hoje em dia uma empresa tem de ter operações de marketing que abordam as áreas culturais. Nos países mais industrializados 25 a 30 % da população em idade laboral trabalha no sector criativo, com um crescimento a velocidade cruzeiro de 7% ano. Em Portugal este cenário está muito longe de se tornar uma realidade. Outro exemplo é o projecto das cidades criativas, Londres aposta nos 3 T´s (Tecnologia, Talento, Tolerância) com grande intensidade.
    No último ano o comércio de bens culturais representou 2,8% da balança comercial mundial, com a crise são vários os investimentos em bens artísticos, como pinturas, esculturas entre outros. As pessoas reconhecem que este mercado é novo e a médio prazo dão benefícios financeiros extraordinários com poucos riscos de não reaver o investimento e ainda ter lucro.
   Portugal continua com um atraso de décadas no florescimento cultural, persistindo continuadamente este retrocesso, agora alimentando pela direita. Na minha opinião a juventude socialista deverá aliar-se às restantes juventudes de esquerda para exigirem que a secretaria de estado volte a ser ministério e o investimento na área cresça, pois é o futuro dos jovens em geral que está atormentado. O próximo passo poderá ser eventualmente a formulação de um manifesto que elabore eficientemente o valor das indústrias culturais e porventura a petição pública para exigir o ministério.


*Imagem do filme surrealista, “Un Chien Andalou” de Salvador Dalí e Luis Bunuel

1 comentário :

  1. Pedro,
    excelente contributo na área da cultura. Cá pelo Marco debatemo-nos com a mesma problemática: será problema genético do PSD? Não tinha um conhecimento tão aprofundado do assunto e ajudaste-me a inteirar-me um pouco mais. Tinha ficado, desde há muito, com a ideia de que as indústrias criativas são outro exemplo do atraso português: um dos aspectos que realmente nos provam, indubitavelmente, que Portugal não é verdadeiramente 1 país de 1ª linha. Só quando for aceite universalmente como um factor preponderante numa sociedade evoluída é que a luz da cultura irradiará sobre Portugal.

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