quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ciência e Saúde


      A JS Marco de Canaveses não é só e apenas política. É mais! Somos mais! Somos hoje, e amanhã, presente e futuro, crescimento e sustentabilidade... Somos e queremos ser sempre mais parte da construção de um Marco de excelência e qualidade. Como tal, queremos dar os nossos contributos nas diversas áreas da sociedade. Queremos ser fonte e também veículo de informação e evolução. Aqui inicia-se um novo espaço no nosso Blog: Ciência e Saúde. Contaremos com contributos de especialistas e intérpretes nas áreas em questão, com especial preferência para jovens valores marcoenses, de forma a adicionar conteúdos precisos, correctos, informativos e construtivos. Esperemos que seja do vosso interesse.

Células Estaminais - Uma perspectiva da Realidade
       Nos últimos dez anos, muito se tem discutido sobre o conceito de células estaminais, a sua criopreservação bem como a sua aplicabilidade no âmbito clínico e científico. Apesar da muita controvérsia ainda existente sobre a questão da criopreservação, a verdade é que estudos clínicos e científicos têm demonstrado resultados promissores na sua utilização. Foi com base nesse propósito que o anterior ministro da Ciência, Prof. Mariano Gago, defendeu que os estudos com células estaminais deveriam ter um novo regime jurídico, de modo a estimular a sua utilização defendendo que, a investigação teria que chegar às terapias e aos doentes.
       As células estaminais são células com capacidade de auto-renovação, altos níveis de proliferação e diferenciação em todo o corpo humano, desde a fase de embrião até ao estado adulto. As células retiradas de embriões designadas de estaminais embrionárias são consideradas pluripotentes, uma vez que detêm a capacidade de se diferenciarem em qualquer um dos diferentes tipos de células que compõem o nosso organismo. No estado adulto, existem vários tipos de populações sendo as de maior interesse as células estaminais da medula óssea, células estaminais do tecido adiposo e células estaminais do cordão umbilical. É com base nestas três populações que cientistas nacionais e internacionais se têm debruçado com o objectivo de criar novas e possíveis terapêuticas para as mais variadas patologias como o cancro, diabetes, doenças hematológicas e neurodegenerativas.

     Como exemplo recente, tivemos o primeiro auto-transplante de sangue artificial realizado em humanos. Este trabalho, publicado na revista científica “Blood” por uma equipa de investigadores franceses, demonstrou que é possível efectuar uma transfusão em que os pacientes podem ser os próprios doadores. Para tal finalidade, este grupo de investigadores isolaram células estaminais de medula óssea que através de um protocolo científico, conseguiram converter estas células em glóbulos vermelhos. Esta descoberta poderá assim representar uma alternativa para a crescente necessidade de doações de sangue no mundo o que poderá assim suprimir a carência de doadores.

Num outro contexto, cientistas da Universidade de Coimbra, demonstraram que células estaminais do cordão umbilical podem ser uma mais-valia para o tratamento de feridas de doentes com diabetes. Pessoas com diabetes têm um processo altamente inflamatório o que faz com que todo o processo de cicatrização não aconteça ao ritmo que devia acontecer. Neste estudo, publicado na revista cientifica PLos One, estes investigadores demonstraram que após aplicação das células estaminais do cordão em modelos animais com diabetes, ocorria uma regeneração parcial das suas feridas.

       Sob o ponto de vista neurológico e da sua aplicação em doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson, estudos tem demonstrado que tanto as células estaminais da medula óssea como do cordão umbilical parecem diferenciar-se em linhagens celulares neurais embora, ainda haja bastante controvérsia acerca deste tema na literatura científica. Contudo, estudos pioneiros realizados em modelos animais com a doença de Parkinson parecem revelar que após transplantação de células estaminais parece existir uma “espécie” de neuro-protecção das linhagens neurais, estando assim em aberto um longo caminho de modo a compreender de que modo isto ocorrerá e se as células estaminais serão ou não uma possível terapêutica para todo um painel de patologias que infelizmente atinge milhões de pessoas em todo o mundo.
     Como investigador no âmbito das Neurociências e Medicina regenerativa, acredito, apesar de considerar que ainda teremos um longo caminho pela frente, que as células estaminais terão um papel preponderante não só em termos de biologia fundamental e aplicada mas também, no âmbito terapêutico com vista à sua aplicação na clínica. Sendo assim, é com base nestes e muitos outros estudos já publicados, que grupos de investigadores apostam e acreditam que esta capacidade multi-potencial dos diferentes tipos de células estaminais poderá explicar muitos dos resultados obtidos até agora bem como novas perspectivas para o desenvolvimento de novos estudos de futuro.
Fábio Rodrigues
Aluno de Doutoramento em Ciências da Saúde
Investigador em Neurociências e Medicina Regenerativa
Instituto Ciências da Vida e Saúde (ICVS), Universidade do Minho

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