segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Diz que é uma espécie de política local...

Foi algo insólito. Senti vergonha alheia na Assembleia Municipal do Marco de Canaveses da última sexta-feira. Senti-me constrangido por ter percebido, tarde demais talvez, que o presidente da CM, que me merecia todo o respeito, ignorou mais uma vez os marcoenses, ignorou o Marco de Canaveses, preferindo a política pura e dura, politiquices desnecessárias e partidarismos arcaicos. 
  
Depois da AM de dezembro, em que o sr. presidente quase fez troça dos jovens marcoenses que lá foram intervir e trazer algo de positivo à política local, nesta sexta-feira preferiu retratá-los como incoerentes, oportunistas e interessados em subir na política local à custa da intervenção cívica direta na AM. 

Ora, vamos a factos... Depois de devidamente avisados, e bem, pelo sr. presidente da AM de que o espaço dedicado ao público - no qual participámos - serve para perguntas ao executivo e se deve resumir a cinco minutos, decidi intervir. A minha intervenção, com perguntas concretas, incidiu sobre o futuro dos jovens no concelho. Porque sou um cidadão preocupado, porque sempre me mostrei preocupado com aspetos que dizem respeito à juventude e ao seu futuro no Marco de Canaveses, decidi confrontar e pedir explicações ao executivo. Independentemente da cor do partido em poder, nunca me sentiria bem com o atual estado de coisas, que expulsa os jovens da sua terra, não lhes oferecendo um futuro digno.

1) Tendo em conta a atual taxa de desemprego, que tem aumentado, e considerando o frágil tecido empresarial do concelho, perguntei ao presidente da CM se o executivo tem em marcha algum plano, algum projeto, algum gabinete que apoie os jovens empreendedores, que apoie os jovens desempregados e os ajude a mudar a situação em que se encontram. Resposta: o José Sócrates é o culpado de não haver nenhum tipo de estrutura de apoio no Marco de Canaveses.

2) O Marco de Canaveses é o concelho da NUT III Tâmega e o segundo de toda a região Norte com o menor investimento por habitante nas áreas culturais e de desporto. Foram 13,9€ por habitante no ano de 2010. Em Penafiel e Paredes, por exemplo, as respetivas câmaras investiram cerca de 40€ por habitante, em Felgueiras e Paços de Ferreira são mais de 60€.
O investimento total da CM em atividades culturais e de desporto no Marco de Canaveses foi o segundo mais pequeno do distrito, cerca de 770 mil euros, sendo que uma grande parte, mais de metade, foi feito em jogos e desportos. Sei perfeitamente que o investimento, por vezes, pode não demonstrar a aposta feita na realidade, porque com pouco se pode fazer muito (fiz questão de o dizer). No entanto, este não é o caso do Marco e, por isso, perguntei qual é o rumo da CM para a área cultural, se existe uma verdadeira agenda da cultura, para além do papel e de umas quantas festas e atividades de que a câmara se apropria, se há uma rota alternativa para formar, educar e desenvolver uma consciência cultural nos marcoenses. 
Resposta: os números nada querem dizer.

3) Em relação à mobilidade, felicitei a CM pelos avanços relativos à eletrificação da linha ferroviária entre Caíde e o Marco e no projeto do IC 35. Mas aproveitei para relembrar a CM que é necessário criar uma rede sustentável de transportes públicos rodoviários no concelho, sabendo-se que a empresa privada que efetua o serviço está recetiva e aceita rever linhas e horários. O que está, portanto, a CM a fazer? 
Resposta: Nenhuma. Em compensação o presidente acusou-me de não ter lutado pela eletrificação e IC 35 durante o Governo de Sócrates. Está enganado, porque o interesse do Marco sobrepõe-se totalmente a cores políticas, a Governos e a interesses centralistas. Se calhar não ouviu a parte em que elogiei os desenvolvimentos das conversações, que só é pena pecarem por tardias. 

4) O Marco de Canaveses tem o indicador mais baixo do distrito e do Tâmega de médicos e enfermeiros por mil habitantes. Este é um serviço que compete, em geral, à Administração Central mas cabe à Câmara Municipal exercer pressão para que os serviços de saúde no concelho sejam reforçados e melhorados. O que está a CM a fazer neste sentido? Há perspetivas ou conversações?
Resposta: Zero e risos.

5) Temos a menor percentagem de população servida por sistemas públicos de abastecimento de água na Região Norte – 32%. Até quando? Quando vai acabar o romance com os tribunais? 
Acerca do Plano Diretor Municipal, por exemplo, a CM vai continuar a justificar com culpas alheias o constante adiamento da revisão do PDM, que já devia ter sido feita há 18 anos?  Em que ponto estamos em relação a este assunto?
Resposta: Nenhuma. 

Em vez de responder, o presidente da câmara municipal preferiu ridicularizar-nos. Talvez porque as perguntas sejam incómodas e porque não haja uma resposta que coincida com os interesses instalados naquele espetáculo em que só os que dizem bem do executivo têm lugar insuspeito e resposta em condições.  

Parece-me que a justificação de todo o estado actual das coisas tem que ver com a herança sabida dos governantes camarários anteriores, já lá vão quase sete anos. No entanto, esta começa a ser uma desculpa rompida e sem sentido. Aliás, aceitar que as coisas estão más , mas que servem da forma que estão só porque antes eram piores, parece-me vergonhoso - assim sugeriu, em jeito de desculpa e de varrer do incómodo, o interveniente que se seguiu ao sr. presidente da CM, numa intervenção que esvaziou quase metade da sala...

Fiz ainda questão de oferecer ideias e vontade de trabalhar voluntariamente, em conjunto com muitos mais jovens marcoenses, para desenvolver projetos e iniciativas para o desenvolvimento do Marco, mas na CM reina toda a sabedoria do mundo e tudo o que vem do exterior não é aproveitado. 

Se calhar sou demasiado ingénuo, se calhar não consigo suportar um jogo político de manobras  e interesses. Mas ainda bem que sou assim, porque se um dia estiver perto de chegar ao teatro daqueles senhores, então será hora de me retirar da participação cívica. 

Ah, ainda em relação a participação cívica... O sr. presidente do executivo fez questão de referir: "não vivemos numa democracia direta, mas sim representativa, portanto respeitemos os eleitos". Sim, representativa, mas NÃO autoritária, dona absoluta da razão ou impeditiva da participação direta e, por isso, é que existe o espaço para a intervenção pública dos representados.

O sr. presidente da CM acusou-nos indiretamente, a mim e ao Miguel Carneiro, que também interveio na mesma AM, de interesseiros e oportunistas, porque, de acordo com ele, estamos focados nas eleições autárquicas de 2013. Não sei que realidade o ex-deputado na AR e ex-governador civil do Porto conhece, mas a nossa postura na vida, na política e a todos os níveis não é essa, lamento. 

7 comentários :

  1. Esperemos que ele não volte a candidatar-se!!! Que volte para Gaia!

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  2. Manuel Moreira e os seus apaniguados,falam como se tivessem o rei na barriga.E se calhar têm-no,já que a maioria absoluta obtida,quer para o Executivo Camarário,quer para a Assembleia Municipal,lhes preencheu o ego de modo tão incontrolável,a ponto de lhes fazer cair a máscara de democratas incapazes de auto-crítica,de cuidada e séria introspeção dos seus actos e atitudes.
    Mas será preciso compreender e interpretar corretamente estas descabidas e desmedidas reacções de Manuel Moreira,quando usando duma gritaria,que a todos serve para o definir e só surpreende quem anda distraido,vilipendia os jovens marcuenses,que atempadamente e muito justamente lutam pelo seu futuro,pela sua terra natal,procurando aquele com uma retórica já ultrapassada,por tão gasta no seu argumentário,denegrir e desmotivar estes jovens cidadãos ao uso dos seus deveres cívicos.
    Termino a minha análise às atitudes e respostas de cariz crescentemente a roçar a grosseria,por parte de Manuel Moreira,quando acareado pelos seus opositores políticos e,ou por cidadãos na prática da sua cidadania,por vos garantir que são o fruto do medo crescente dos resultados do próximo acto eleitoral autárquico.
    O "animal político" Manuel Moreira,travestido na imagem do cidadão cordato,polido,simpático,bem falante não passa ao fim a ao cabo duma farsa esvaziada de quaisquer conteúdos válidos,qualquer que seja o angulo por onde se aborde, revelando-se afinal,como muito mais fraco opositor político do que à primeira vista nos procuraram fazer crer os resultados das passadas eleições autárquicas de 2009.
    Foi a conjugação de diversos factores,que lhe garantiu a maioria de que agora se arroga e abusa,"governando" a Câmara Municipal,com tiques ditatoriais.
    Manuel Moreira,entra em pânico(daí os seus desvarios,por demais já bem conhecidos),quando confrontado publicamente com os erros da sua gestão,com a sua bem conhecida conflituosidade,bem demonstrada pelo amor à barra dos tribunais e muito especialmente quando vislumbra no horizonte dificuldades crescentes para continuar a enganar o eleitorado marcuense,mesmo o social-democrata,há muito desiludido pelo incumprimente de tantas falsas promessas eleitorais(perguntarão agora uns tantos,se tal,não será deficiência partidária de caráter mais ou menos congénita?).
    Talvez,quem sabe?Talvez Pedro Passos Coelho possa responder.Uma coisa têm em comum,a reconhecida tendência para mentirem ao eleitorado.Será porque ambos foram politicamente formados na escola dos jotinhas e nela a "pimenta na língua" fosse método disciplinador posto em desuso?

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  3. Penso que em parte consegue perceber-se as reações do presidente da CM. Afinal, já foi deputado na AR, governador civil, está habituado à "alta classe" da política nacional. Pena ainda não ter percebido que agora é presidente de uma CM, o que lhe exige mais proximidade das pessoas, menos demagogia, mais política concreta... Enfim, são cargos muito diferentes. Só não percebo como os marcoenses continuam a tolerar. Eu não consigo.

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    1. Caro Tiago Moreira

      Permita-me,que discorde de si,quando "justifica" os desmandos verbais de Manuel Moreira com o seu passado político,ou seja,com o seu curriculum político.
      E porquê?
      Antes de mais,porque a boa educação cabe em toda a parte (dizia-me a minha santa Avó),depois, porque não devemos permitir,que se misture arrogância com o dever da verdade e da transparência,que são devidas a todos quantos ocupam cargos para que foram eleitos.
      Para terminar,nunca será aceitável,que Manuel Moreira puxe dos seus galões de sargentão da política portuguesa,para tentar calar a Oposição e a população marcuense,passando-nos a todos um simples atestado de estupidez.
      Um abraço
      Miguel Fontes

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    2. Caro Miguel Fontes,

      concordo consigo, como é óbvio. Quando digo que se consegue perceber a atitude do presidente da CM, não estou de mudo algum a desculpá-lo. Estou, isso sim, a constatar a diferença entre o caráter dos políticos distantes numa AR longínqua do resto do país e uma CM que deve ser próxima dos seus cidadãos. Obviamente, na AR também os políticos deveriam mudar a imagem que têm junto de quem os elege, mas aparecem apenas na altura das eleições. Não é em tudo semelhante ao que se passa no Marco?
      Não quero com isto dizer que MM é igual a este tipo de pessoas. Quem quiser que "enfie o barrete".

      Um abraço.

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  4. Tiago, a tua intervenção esteve num elevado nível na AM. Os comentários aqui publicados concordam num ponto comum: o Sr. fala à político de parlamento e trabalha... à político de parlamento. Pessoalmente, considero que o que Manuel Moreira faz é extremamente eficaz: fala de forma tão cansativa, redundante, abstracta e repetitiva que afasta qualquer marcoense, por mais paciente que seja, das AMs. E isso, por sua vezes, leva a um efeito extremamente interessante para MM: ninguém passa cartão às AMs (à excepção dos marcoenses profundamente interessados). Assim, o sr pode falar, barafustar, desbaratar acerca de qualquer assunto que ninguém lhe condena a atitude. Em suma: empobreceu (mais ainda) a imagem dos políticos (marcoenses) e contribuiu para que os marcoenses continuassem apartados das questões políticas...
    Tiago, pena é que MM não tenha estado à altura das tuas questões!!

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    1. Caro Miguel Carneiro

      Subscrevo na íntegra as suas palavras de crítica a MM pelo modus operandis como se comporta,levando no extremo ao desinteresse dos Marcuenses pela vida política da sua terra.
      Permita-me,entretanto,uma pequena achega ao seu comentário.
      Porque deixar de fora nesta sua muito oportuna e correcta análise crítica,o mais que irresponsável seguidismo duma maioria,que mais parece um grupo de eleitos acéfalos e abúlicos,tão subservientes,que chegam ao despudor de dar cobertura a actos totalmente ilegais,como nesta questão da "NANTA"?
      Como pode permitir-se este grupo de cidadãos criticar o ex-governo de Sócrates,nas mais diversas intervenções na A.M. do Marco e por motivos,que entendem como justos e honestos,quando dão cobertura com a sua aprovação a actos manifestamente ilegais?
      Vá lá caro Miguel Carneiro,força,vamos pegar o "touro" de caras e em pontas,vamos fazer barulho,vamos despertar os tais marcuenses sonolentos por tanta retórica de MM.
      Um abraço
      Miguel Fontes

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