quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Gaitada da Decadência - O amor da juventude pela Cultura



Espantos com laivos culturais em terras perdidas nas trevas de uma ignorância ignóbil.
O Amor Amor Amor pela Verdade, pela Justiça, pelo Bom, Belo e Justo por parte da juventude. O fado de trazer pela despensa e o culto das aparências.
O interesse cultural e intelectual de uma juventude que não é a da nossa terra. A hipocrisia social e o verde obscurantismo numa idade tão bela e seivosa.

Eis-nos, novamente, amigo leitor, sejas quem fores, serás sempre bem-vindo. Tenhas muito ou pouco, não nos interessa, pois terás sempre mais se amares a Verdade, serás sempre maior se adorares com tudo o que tens a Justiça.
Desta vez, os nossos olhos recaem sobre o Norte do país, viajam até à região de Entre Douro, Tâmega e Minho, onde começa o Marão, daí descemos a bendita e harmoniosa serra, deslizamos pelo Tâmega, esse rio do Nosso, sim, Nosso Teixeira de Pascoaes e chegamos ao concelho de Marco de Canaveses. Daí vamos até Santo Isidoro, que parece ter deixado de ser uma só freguesia e foi acoplada por Toutosa dando origem à freguesia da Livração. - Mas destas considerações iremos dar uma gaitada noutra oportunidade. E será uma gaitada forte que não vai cair nas graças das sábias vozes isidorenses. - Mas antes disso, viajemos até à igreja de Santo Isidoro, até ao dia 20 de Outubro de 2012. Já deves estar estafado, amigo leitor, e mesmo até enjoado pelo caminho que fizemos até Santo Isidoro, pois as estradas são feitas de curvas e de buracos. Viva o Progresso!
Ora, no passado dia 20 de Outubro de 2012 foi um dia muito importante para Santo Isidoro, pois houve a inauguração de uma estátua em granito do padroeiro no adro da igreja. Como sempre, sendo uma cerimónia importante não só para a freguesia como para a comunidade religiosa, houve a presença do bispo auxiliar do Porto, D. António Taipa e de outros membros do clero. Até se convidou um grupo de canto gregoriano para dar mais beleza a toda a cerimónia.
Então la começou a cerimónia, no adro da igreja, a população reuniu-se à volta dos muros do edifício, ao pé da estátua, conforme podia.
Por um acaso, os nossos olhos e as nossas mãos também estavam lá, e reparamos logo no ambiente de pompa e circunstância, tudo fatinhos e gravatas, tudo perfumes e águas de colónias, tudo cabelos arranjados e unhas pintadas. Tanta cor e aparência! Tanto ar chic e estética de bolso para inaugurar uma obra de arte feita por mãos que criam o indizível, que falam no silêncio da pedra e da essência daquilo que é Belo: a Simplicidade.
Até o jovem que foi cantar o salmo ia todo dândi, todo janota, vestido de uma forma exagerada e provinciana! Pobre moço, se ao menos percebesse alguma coisa de música e soubesse cantar! Se ao menos amasse a Justiça e a Verdade. Se ao menos soubesse Filosofia e filosofias e sistemas e Ideias. Se ao menos…
O povo assistia à cerimónia, em silêncio, pasmado, olhando para quem estava presente e para quem não estava, observando quem vestia o quê e se isso combinava com a cor da mala ou dos sapatos. O povo lá ia assistindo em silêncio, uns em missão jornalística como aqueles que acima citamos, outros em silêncio, adorando a estátua e o relógio que teimava a tornar o tempo espesso e lento.
No fim da cerimónia houve outros dois eventos dentro da igreja, dos quais os nossos olhos e as nossas mãos e palavras se maravilharam genuinamente: Música. Silêncio. História. Arte.
Houve mais canto gregoriano, houve uma lição de História da Igreja, da Cultura e da Civilização Ocidental. Foi um momento delicioso, e, acredita, leitor amigo, disto não vamos escarnecer, pois foi Justo, Bom e Belo o que dentro daquele pequeno templo românico se passou. Muito belo. Nem criticamos as pessoas de mais idade que foram saindo ao longo desse momento, pois têm os seus afazeres e as suas limitações que, com a idade o tempo pede. Pelo contrário, arrepiamo-nos de uma forma genuína por poder ver gentes, pessoas daquela aldeia escutando o canto gregoriano, deslizando pelas palavras que se escutaram de uma forma apaixonada pelo senhor professor João. Nada disso criticamos ou satirizamos, amigo leitor. Nada disso.
Todavia, o que nos impressionou bastante, e, sejamos sinceros, também já estávamos à espera, foi a presença em massa da juventude isidorense nessa sessão! Foi fabuloso! Eram mais de 50 jovens da aldeia, muitos deles já formados ou a terminar cursos superiores, outros tantos no ensino secundário e ainda outros num ensino mais básico. Mas todos estavam lá presentes. Todos escutavam em silêncio e de forma atenta e genuína o canto gregoriano, a lição de história. Porque todos amam a sua terra e querem conhecê-la um pouco mais, não são daqueles jovens que não se interessam minimamente por cultura e arte e preferem telemóveis e facebook e motas e tardes e noites de ócio saloio em cafés, bares e discotecas. Nada disso, caro leitor! Nada disso! Blague!
A juventude esteve presente em grande número mesmo não havendo porco no espeto, mesmo não havendo cerveja nem poker nem cigarros. A juventude esteve presente mesmo sem fadustagem daquela que Eça e todos os da Geração de 70 satirizavam e escalpelizavam com luvas de pelica, de uma forma irónica, jocosa e deliciosa. Sim, essa fadustagem torpe, que tem várias variações, por que um mal nunca vem só! Oh ilustres peitos lusitanos! Oh pátria de trovadores e poetas! Como a juventude foi uma forte presença nesse dia 20 de Outubro de 2012 em Santo Isidoro!
Que juventude culta e humilde, nada invejosa e nada amante de aparecer nas actividades que só podem ser vistas por multidões e pelos media, sejam eles quais forem! Como é tranquilizante podermos confiar o futuro do país a esta juventude! Uma juventude nada hipócrita e nada invejosa. Uma juventude que chama burro aos outros jovens porque eles não percebem nada de política, de história de nada! Viva o culto das aparências! Viva a hipocrisia social! Pelo menos os escritores, os criadores de teatro e cinema terão imensos temas para retratar e fazer rir o português do futuro, porque é isso que está em causa: o Futuro!     O futuro é o único trunfo que temos na mão. Mas estamos a vender esse trunfo, a hipotecá-lo para pagar dívidas do carro que não podíamos comprar, das férias que não podíamos fazer, da vida que não podíamos ter. E essa forma de estar no mundo é também a forma da juventude. Uma forma de ir estando.
Mas isso não interessa! Não precisamos de política para nada, não precisamos de ler grandes obras literárias, políticas e filosóficas. Nada disso! Leiamos os jornais e criemos opiniões dignas de dois cavalos! Opiniões dignas de um café e um cheirinho! Porque tu és um burro! Tu não percebes nada de política!
            Ainda há coisas que nos deixam pasmados, leitor amigo. Então ouvi dizer que a cultura marcoense e da sua juventude começa no café Jamaica e acaba no Woodrock?! Quem afirmou que são esses meros 50 metros de vida nocturna que traduzem a cultura marcoense?? Quem disse tamanha blasfémia, quem proferiu tamanho anátema?? Então temos a biblioteca municipal sempre cheia de jovens que fazem fila ao balcão para requisitar livros e jornais, enquanto os computadores estão vazios e ninguém viaja pelo mundo facebookiano. Então temos várias propostas da câmara que incentivam a cultura! Temos concursos literários, visitas de escritores portugueses, semanas culturais, apoio a jovens escritores e artistas, oficinas de escrita e poesia. Grupos de leitura, de investigação na área do ambiente, das engenharias, do direito, da política e da filosofia. Temos um ciclo de conferências sobre temas da actualidade, temos concertos de música erudita, parcerias com entidades culturais como a Fundação Eça de Queiroz e a Fundação Calouste Gulbenkian! Temos um manancial de actividades culturais que orgulham imenso o executivo camarário, tudo graças ao pelouro da cultura e da juventude! (Isso existe, verdadeiramente?)
            Agora não venham dizer que os jovens não se interessam pela cultura, que não lêem, que não têm opinião própria. Isso até nos deixa apavorados e angustiados, assim como os pais desta juventude que se interessam  bastante pela cultura e não pela vida do vizinho. Preferem dar um livro ou um bilhete de museu aos filhos do que comprar um telemóvel topo de gama.
Acalma-te, meu querido e amigo leitor, acalma-te, pois a juventude isidorense, marcoense e portuguesa não é assim. Sosseguem, pais que investem no futuro dos filhos. Eles estão habituados a passar dificuldades e a ultrapassarem estas situações sozinhos. Tudo o que dissemos até agora não é apanágio da juventude isidorense, graças às Divinas Alturas da Providência sempre Atenta!
Já agora, façam silêncio, por favor, que os jovens isidorenses querem continuar  a ouvir a palestra de História, pois ao contrário da Alemanha e da Noruega, os jovens portugueses amam a cultura!
Vamo-nos rir, pois!

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