quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A Gaitada da Decadência - Apresentação




De como decidimos escrever estas páginas e não ir a uma patuscada na taberna da esquina.
            O estado do país, do concelho e uma mini.
            De como os autores destas palavras contemplam o país. A pobreza e as telenovelas. A vidinha. O que a vizinha leu no tarot da revista desta semana.
            O governo de uma maioria fantoche. A oposição e um copo de água no Parlamento.           As estradas e os caminhos de ferro de ontem.
            A cultura de um país.
            O café, o jornal e o sermão do padre. A Religião e a religião.
            Os heróis, os ídolos e os actores. Segredos de uma casa e de um quase país.
            De como surgiu esta ideia da Gaitada da Decadência, fina, com um chic pelo meio. Antero de Quental, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, mestres.
            O monóculo e os Ray Ban.
            O porquê de escrever estas palavras e não ficar online vendo os aviões.
            A vontade da juventude mudar o mundo. As suas ideias revolucionárias ditas no café ao pé de casa. A precoce barriga de cerveja. Os chumbos. A boémia e a vontade de trabalhar.
            O mal dos povos. A inveja.
Tu, leitor livre, aproxima-te um pouco das nossas palavras e lê.
Lê sem compromissos, lê com a liberdade de uma gaivota em alto mar.
          Sim, estas páginas são para ti, leitor de bom senso, socialista, comunista, anarquista, bloquista, social-democrata, independente, cristão, muçulmano, judeu, budista, ateu, agnóstico, filósofo, escritor, jornalista, crítico, filósofo, médico, advogado, agricultor, reformado, desempregado, entre outros.
            É para ti que isto é escrito. E a ideia de te dar assim, com regularidade, umas páginas frescas, jocosas, ardentes, polémicas, verdadeiras, sem nenhum tipo de interesse a não ser a verdade e a justiça. Sim, umas páginas finas, zombeteiras, sarcásticas, trocistas, satíricas. Irónicas.
            Chega-te a nós, não tenhas medo, amigo leitor. Chega-te e espreita de lado, como quem desconfia da esmola que é grande demais.
            O país continua a perder a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão perdidos pelos rochedos mais recônditos de um interior cada vez mais deserto. A prática de viver tem por único fim o comodismo e o comer e beber bem. Não há princípio que não seja criticado. Não há instituição que não seja mordazmente escalpelizada e criticada. O senso comum impera!
            Não há solidariedade entre os cidadãos. Os vizinhos cochicham da vida do outro vizinho e invejam-lhe o jardim, o automóvel, a roupa, o filho, o cão!
            O povo está na miséria. Os serviços públicos estão de rastos, balofos, pesados, não se conseguem mexer com o colesterol e a diabetes de uma crise sempre viúva e fresca. Antes chamavam-lhe crise, pelos vistos, a senhora crise fez uma operação plástica, maquiou-se, arranjou o cabelo e chama-se Dona Troika, um nome americanado, dizem os entendidos em estética económica.
            O desprezo pela Política, pela Cultura, pela Filosofia, pelas Ideias aumenta a cada dia. A juventude sai das aulas para ir para o café falar de barriga cheia do ar e de coisas leves como o vento, se calhar até mais leves e insignificantes que o vento. Não! A juventude sai das aulas e vai para as bibliotecas estudar e pesquisar, sai das aulas e vai até uma instituição social ajudar, sai das aulas e vai até ao hospital visitar os doentes, sai das aulas e ajuda os pais em casa no que for preciso. A juventude pensa e filosofa. Tudo isto faz a juventude! Mas não a do nosso país! Blague!
            Por estas zonas do bendito Norte do país, entre o Douro e o Baixo Tâmega, onde começa e reina o Marão, a maior parte da juventude é caduca e caquéctica. É invejosa e fala pelas costas! Como é que chegamos ao ponto de ter uma juventude, uma verde folha já corrompida pelas mentalidades dos pais também muitos deles invejosos de tudo? É o café que nos prende a vida, é a televisão nacional e os seus programas de enorme interesse cultural que nos estreita o pensamento… A solução parece estar numa fórmula bastante moderna. Mais Prozac e menos Platão, se faz favor.
            Pensa, leitor amigo. Pensa e tens a resposta.
           A juventude arrasta-se envelhecida das mesas das escolas para as mesas de poker ou do café.
            A economia definha, definha, definha. O senso comum impera!
            A indústria fecha. O pequeno comércio fecha. O desemprego galopa a uma velocidade de cruzeiro e os cavalos começam a fazersombra no mar, com perdão da utilização do título do livro de um ilustre escritor da nossa mãe língua, António Lobo Antunes. A cultura não é apoiada. O bom senso e o bom gosto parecem querer fechar também.
            Na rua, nas paragens de autocarro raros são aqueles que têm debaixo do braço, consigo, um livro. Longe vai o tempo em que se viam os jovens com Marx, Proudhon, Taine, Spencer, Keynes, Churchill, Victor Hugo, Byron, Lamartine, Herculano, Garret e muitos outros, caminhando pelas ruas e levando os livros como quem carrega e esconde o futuro e um mundo cheio de possibilidades. Algo grandioso e bom a nascer. Ainda vamos vendo livros, que devem muito ao nome livro, pois mais não são que um aglomerado de páginas, ou seja, a vidinha em folhas de papel, veja-se certos autores portugueses que vendem muito bem essa sucata intelectual. Nomes não os dou, porque as margaridas são flores belas e agradáveis que se devem cheirar e ver no jardim, somente.
            As revistas cor-de-rosa reinam e espalham a sua tinta por todos os poros da sociedade. As pessoas são rosadas pelas leves e fantásticas notícias do high-life.
            Chegou ontem de Nova Iorque a ilustre Betty Graffestein e o seu marido José Castelo Branco. Desembarcaram em Lisboa e já se encontram em casa, o que nos folga bastante e faz-nos adormecer mais tranquilos; ou então: o famoso jogador de futebol, o Sr. Cristiano Ronaldo é pai de uma criança felizarda que é avaliada em cerca de 12 milhões de euros!; melhor ainda: o convidado deste telejornal ou programa é um candidato à casa dos segredos e vem falar-nos da sua vida! Oh maravilhas dos céus! Oh mistérios do Altíssimo! Oh sagrada notícia! Como o mundo se torna num lugar mais justo com estas novidades!
            Blague!
            Eis o que os pincéis e as penas e canetas dessas revistas e mesmo de alguns jornais rosam por este extremo da Ibérica Península!
            Por todo o lado ouve-se dizer que o país está podre, que o país está em crise. Hoje escolhemos utilizar o vocábulo crise em vez de decadência. A magia das palavras. Todos falam da podridão, mas todos parecem gostar de permanecer na podridão!
 
Nós não queremos ser cúmplices da indiferença universal e portugalesca!
            E desta forma começamos, sem injustiça e sem cólera, a apontar o progresso da crise.
            E fá-lo-emos de uma forma humorística e jovial, pois de que outra maneira o poderíamos fazer?
            Os jornais políticos cortariam o que seria nocivo para a ideiazinha, os tipógrafos fariam longos riscos pelas páginas todas.
            Assim, utilizamos este humor fresco, jovem, bem-disposto e sorridente, irónico.
            Que mais uma vez se ponha a galhofa ao serviço da Justiça!
Aqui estamos diante de ti, mundo oficial, democrático, proprietário, burguês,  corrupto e consumista! Não sabemos se a mão que vamos abrir está cheia de verdades. Sabemos que está cheia de negativas.
            Somos dois simples batedores à ordem da mofa e do senso comum. Por agora somos só nós e estas palavras. O grosso da armada vem atrás. Chama-se Justiça.
           
            Eis-nos! E assim vamos dando uma gaitada ao de leve na superfície dos acontecimentos, na sociedade e no established. Cada gaitada simples e humilde, irónica e curiosa, há-de soltar o seu antídoto pelos corpos e pelas veias deste grande corpo a que se chama Sociedade e Civilização.
            Nunca estas gaitadas ferirão verdadeiramente a artéria aorta da sociedade, o chic, os políticos e as pessoas importantes, os corruptos que têm dinheiro como Portugal tem pobres e desempregados!
            Vamo-nos rir, pois!
            


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