sexta-feira, 27 de julho de 2012

Turismo, por Francisco Freitas Cardoso

Recordo-me, pelos meus 11 anos, no início da década de 90, do século passado, que os estrangeiros – assim lhe chamávamos - paravam no café dos meus pais à procura de informações diversas e especificamente da estrada que acompanhava o rio Douro.

Já próximo do novo milénio, passaram a chamar aos estrangeiros, turistas. E o cafezinho, ali na partilha da EN 211 (Alpendorada-Marco) com EN 108 (Porto-Régua) vendia mapas e refrescos, e aconselhava a estrada para as terras do interior, que viriam a receber a distinção de património classificado pela UNESCO em 2001.

O Marco de Canaveses tinha, no sul do concelho, a grande porta de entrada de turismo, antes do boom do Alto Douro Vinhateiro, e não soube aproveitar. Passada uma década, da classificação, continua a não saber.

Não sou um expert em turismo, nem sequer tenho formação na área. Escrevo a convite do Miguel Carneiro que me desafiou a expor o meu ponto de vista, talvez, por viver e conhecer a realidade nesta ponta do concelho. Este texto é uma pequena reflexão e opinião sobre um sector, com o qual cresci e trabalho (directa e indirectamente) há mais de 20 anos. Para além disso, também eu sou turista no meu país e fora dele, apreciador e opinado.

Já fiz dezenas de quilómetros, apenas para ver um par de casas típicas, nada extraordinárias, mas como estavam tão bem referenciadas e promovidas, cativaram-me e lá fui eu. Isto para dizer que, qualquer local, minimamente, típico e/ou bem apresentado tem potencial turístico. 

Dizer que o Marco de Canaveses tem este potencial, é quase um cliché. Definir uma estratégia (análise interna e externa, marketing e desenvolvimento) será a alavanca do potencial. O nosso concelho (a Câmara Municipal) tem certamente uma estratégia de turismo. No entanto, a mesma tem um perfil demasiado discreto, que chega a ser imperceptível. 

A grande porta de entrada do turismo, no Marco, fica na península, entre o Tâmega e o Douro, composta pelas freguesias de Torrão, Várzea do Douro e Alpendorada. Por aqui passam, só no canal fluvial, cerca de 160 mil turistas(1) por ano; desses, e a título de exemplo, mais de 50 mil, são clientes da empresa Douro Azul(2), operadora de turismo fluvial, que tem, entre outros, o Cais de Bitetos e o Mosteiro de Alpendorada, como pontos de paragem e interesse. Por estes dias, estes pontos encontram-se ameaçados por falta de melhores condições.

É um número que não se pode ignorar. “O Douro é cada vez mais procurado por turistas, verificando-se também um crescimento claro a nível do cruzeiro fluvial,” disse António Martinho, presidente do turismo no Douro, à Lusa em Dezembro passado.

Estando o Marco na linha do Douro, este e também o rio Tâmega são elementos latentes de investimento e desenvolvimento. É necessário dar as boas-vindas aos turistas que desembarcam em Bitetos, assim com todos os outros, e encaminhá-los, para as «casinhas típicas», para um grande achado como o de Tongóbriga e para a igreja de Santa Maria premiada internacionalmente. 



Vivemos entre rios e montanhas, no deleite da paisagem natural, no prazer do vinho e da gastronomia, oferecemos descobertas históricas, arte e cultura. São todas ofertas que o Marco tem e que coincidem com as actividades de turismo e lazer que os turistas mais procuram(3) quando visitam o Norte. 


Os turistas têm de ficar, a partir do momento que entram na Dream World – como lhe chamou Caetano Veloso, na música dedicada a Cármen Miranda – comprar souvenirs, sentar à mesa para a originalidade do arroz de forno, do anho assado e da lampreia. Aventurar-se nas pequenas rotas e refrescar-se nos nossos rios. Ficar cá a dormir e continuar pelos museus, quintas e oficinas da cultura. 


Padecemos de falta de turistas assim, o Turismo é uma coisa que se procura, logo estas iniciativas têm que ter uma oferta credível que os prenda e que os faça ter pressa de voltar.


Necessitamos de iniciativa pública na imagem de marca e no investimento em equipamentos de lazer, (por exemplo, albufeira e plataforma do Tâmega, Cais do Torrão, parques de lazer terrestres e fluviais). Precisamos atrair o investimento privado em hotelaria e facilitar comércio localizado nas atracções turísticas. Criar atracções turísticas por todo o concelho provocando a distribuição e a prosperidade sócio-económica locais. Mas também, precisamos de formação e sensibilizar a população para receptividade ao turismo. 


Um cafezinho de esquina não pode servir de posto de turismo e oferecer apenas refrescos e sandes. Precisamos ver as placas bilingues em todo o concelho a vender recuerdos, rooms e tours. Apressemo-nos porque, este Verão, já perdemos uns quantos milhares de euros e de turistas, estrangeiros e nacionais. Que não se deixe cair o que as águas traziam/trazem.


PS: convido-vos a visitar a praia fluvial de Bitetos, um fim-de-semana destes. 


Nota: este texto é escrito sem o AO.



(1) dados IPTM 2010
(2) Revista Visão, Setembro 2010
(3) dados Porto e Norte, 1º trimestre de 2012

1 comentário :

  1. Tiago JAYMZ Oliveira2 de agosto de 2012 às 20:32

    Brilhante Francisco!!! Mais cego é o que não quer ver!!! Abraço

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