Abstract
“ (…) A expressão “organizar espaço”, à escala do homem, tem para nós um sentido diferente daquele que poderia ter, por exemplo, a expressão «ocupar espaço». Vemos na palavra «organizar» um desejo, uma manifestação de vontade, um sentido, que a palavra «ocupar» não possui e daí que usemos a expressão «organização do espaço» pressupondo sempre que por detrás dela está o homem ser inteligente e artista por natureza, donde resultará que o espaço ocupado pelo homem tende sempre para, caminha sempre no sentido de, tem como fim, a criação da harmonia do espaço, considerando que a harmonia é a palavra que traduz exactamente equilíbrio, jogo exacto de consciência e de sensibilidade, integração hierarquizada e correcta de factores. (…) ”
TÁVORA, Fernando “Da Organização do Espaço”, FAUP Publicações
Palavras Chave: Organização do Espaço, Território, Espaço, Ocupação.
A Reforma da Administração Local é constituída por três pontos fundamentais:1- Reforma de Gestão,2- Reforma de Território,3- Reforma Política do Poder Local, desenvolvendo-se em quatro eixos distintos: 1- Financiamento e Democracia Local; 2- Sector Empresarial Local; 3- Organização do Território; 4- Gestão Municipal e Intermunicipal.
Contudo os eixos de actuação diversos e diversificadores, no documento verde, apresentam uma estrutura comum “Sustentabilidade financeira, regulação do perímetro de actuação das autarquias e mudança do paradigma de gestão autárquica.” (documento verde, pág. 6)
Neste caso em particular focar-me-ei no domínio territorial, um dos pontos da Reforma.
Organização do Território
1ª Parte
Na análise das consequências directas que a Reforma da Administração Local (RAL) terá sobre o território e urbanismo é necessário recorrer a uma breve leitura do significado do processo urbanístico.
O primeiro grande processo de territorialização a surgir no mapa Europeu foi no império Romano (Séc. I, II e III), com a conquista de território fora de Itália, em que o principal processo de comunicação era a construção de vias de comunicação (estradas) e de infraestruturas, garantias de uma conquista territorial sustentável.
No caso Português o período pós 25 de Abril vislumbrou um exponencial crescimento de habitação colectiva, identifique-se o programa SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório) como um processo de construção massiva de habitação social. Verificava-se nos primeiros anos de democracia, em Portugal, a falta de habitação e por isto o caminho estava aberto à multiplicação de infraestrutura, a par do crescimento das cidades. O país na entrada, anos após, para a União Europeia vislumbra a continuação de investimento em infraestrutura “pesada”, como aeroportos, portos marítimos, auto-estradas, entre outros. E naturalmente com o programa de investimento da CEE, surge a aposta na construção de Etar´s, ETA´S, Campos de Futebol, Hospitais, Escolas, entre muitos outras infraestruturas. No caso de estudo de Marco de Canaveses identifica-se um crescimento urbano em meados da década de 90, com a construção de infraestrutura financiada pela CEE e factores económicos com a instalação de fábricas têxteis no concelho. Nesta fase a cidade do Marco cresce dentro de um urbanismo selvagem sem um programa urbano claro, traduzindo-se na densificação de uma cidade sem identidade urbana e arquitetónica e sem uma disciplina na ocupação do território.
O território planeado metaforicamente aproxima-se de um tabuleiro de xadrez, com regras bem definidas e uma estrutura identificada à priori. A infraestrutura, indissociável da urbanização, surge como damas dispostas a actuarem num território identificado. A Reforma da Administração Local deverá promover o debate intenso dos novos paradigmas do planeamento urbano. De momento o Marco de Canaveses vislumbra duas obras de impacto urbano: o Parque Fluvial do Tâmega e a renovação do centro da cidade. Ambos os projectos devem ser atenciosamente identificados como fundamentais na implementação de rigor territorial, destacando-se como obras de um conjunto. Sendo fundamentais para promoverem um crescimento da cidade de forma sustentável para a baixa junto ao Rio Tâmega, promovendo, inclusive, novos usos dos espaços.
Conclusão 1:
A reforma da Administração Local é tardia e por isso não terá a curto prazo um forte e benéfico impacto na territorialização. No que o processo de discussão territorial deverá ser realizado sempre antes da colocação da infraestrutura no espaço. Isto é, as autarquias deverão ter a capacidade de discernir qual a infraestrutura necessária a aplicar. No que antes da construção de uma autoestrada deverá ter atenção às áreas de ocupação e real necessidade. Hoje o território português está equipado com diversificadas infraestruturas que deverão ser reavaliadas quanto ao uso e necessidade. E a RAL poderá propiciar o mapeamento de infraestruturas, comunidades, instituições existentes no concelho. As próprias comunidades intermunicipais serão factores decisivos para as boas práticas de partilha de infraestrutura entre autarquias. Compondo uma mais-valia para os laços populacionais, económicos e de parcerias regionais. A inter-municipalização deverá ser encarada como uma realidade mais do que necessária.
2ª Parte
“ (…) uma instalação industrial mal implantada pode alterar totalmente, por exemplo, os valores dos terrenos envolventes, pode criar problemas de acessos e do tráfego, pode provocar a disseminação caótica da habitação, pode alterar toda uma paisagem, pode prejudicar, pela produção de cheiros ou fumos, todo um aglomerado, pode ocupar terrenos ideias para outro tipo de ocupação, etc., e estes inconvenientes podem tomar tais valores que essa instalação, criada com a intenção de favorecer o desenvolvimento económico, seja pura e simplesmente antieconómica.”
TÁVORA, Fernando “Da Organização do Espaço”, FAUP Publicações
O território de Marco de Canaveses tem características próprias que devem ser analisadas com prudência e tempo, o concelho é caracterizado por uma urbanização dispersa (Território de Urbanização Dispersa) e monofuncional e o comércio vive fundamentalmente dos serviços. Característica muito comum à zona Norte, que de forma prática tem consequências directas na sua administração, reconheça-se que é redobrado o trabalho de iluminação pública, pavimentação e serviços básicos. Note-se que o concelho ainda continua com um défice de saneamento básico, não chegando ainda a muitos aglomerados populacionais. Consequência directa da dispersão de habitação pelo concelho.
Conclusão 2:
A fusão de freguesias no Marco de Canaveses deverá ter durante o processo e após, uma discussão pragmática que aborde, por exemplo, as áreas de construção legais e as zonas de reserva florestal apelidadas no vulgo de “zonas verdes”. A RAL não é um processo encerrado mas contínuo que levará décadas a cumprir os ditames de uma actualizada organização territorial. Note-se que a não renovação do PDM é um factor prejudicial e incoerente para a implementação de uma reforma de predomínio territorial eficaz. No caso do Marco de Canaveses deverá ser fortemente criticado a não actualização do PDM, pois é perigoso para o território do Marco e futuros investimentos a realizarem-se no concelho. No futuro com a agregação das freguesias e de núcleos sub-urbanos é previsível uma disseminação nefasta de vilas. Um risco evidente que o concelho do Marco deverá passar por combater, contribuindo para uma homogeneização de ocupação territorial, sem uma pretensa hierarquização de modelos urbanos exacerbados. O PDM será um dos importantes instrumentos de controlo urbanístico na cidade.
3ª Parte
O território Português aparenta continuar com um sintoma de macrocefalia, isto é a distribuição de poderes administrativos parece continuar circunscrita à Região de Lisboa. Afastando de Portugal uma homogeneidade, por exemplo, de investimentos de infraestrutura e de poder regional e distrital. Geograficamente a macrocefalia é impiedosa e recria um país desajustado. Portugal assiste no primeiro quartel do século XX a uma alteração morfo-geográfica substancial. O país deixa de ser transversal e passa a longitudinal. Antes a transversalidade era garantida pela direcção dos principais rios (Rios Douro e Tejo). As regiões do vale do Tejo e Douro eram distribuídas pelos afluentes, era pelo Rio Douro, canal comercial, que passava o vinho do Porto e os principais produtos agrícolas que iriam abastecer o Porto. Contudo no século XX existe, naturalmente uma mudança de paradigmas e o país compõe-se no litoral abandonando as suas regiões produtivas como Alto Douro, Ribatejo e Alentejo. Agora os produtos chegavam ora de avião ora de navio e o mar e ar alteravam a economia do país, aqui Portugal começa a tornar-se dependente com as importações a crescerem.
Hoje o interior reclama direitos perdidos e obviamente a sua dignidade de regiões plurais e produtivas, outrora atractivas e promotoras de uma distribuição demográfica controlável. Hoje a RAL não aborda as diferenças do interior, do litoral, do norte do centro e sul. E como se verificou o território do norte é diferente do sul, com características próprias, o litoral é desigual do interior, mas isso não é dialogado na esfera da Reforma da Administração Local.
Conclusão 3:
Assistiu-se à reforma do mapa hospitalar na governação de José Sócrates e assiste-se hoje à reforma do mapa judicial, ambas as reformas têm a legibilidade de fazerem parte da discussão da RAL, o que não é o caso. Lamentavelmente o território Português avista profundas mudanças completamente díspares e com consequências nefastas se não forem abordadas como um conjunto. Nota-se que a subserviência perante os programas de ajustamento económico levam a discussão territorial portuguesa para um lugar perigoso. Concluindo-se que a RAL não tem como pretensão a criação de um território sustentável e positivo para o comércio, indústria, e ocupação de território mas a implementação de uma reforma sob um colete-de-forças sem identidade. Mas nem tudo está perdido e o poder das comunidades intermunicipais parece intensificar-se e é nesses seios que as discussões de domínio territorial-urbanístico deverão efetivar-se, caso contrário o país perde uma ocasião para um debate alargado da ocupação do seu território e novos modelos de territorialização eficientes e que dêem resposta a desajustes maiores.
No que concerne ao ponto da territorialização a RAL simplesmente aborda o número populacional com base nos censos, uma forma pecaminosa e redundante na percepção e compreensão do território. A fusão de freguesias deverá efectivar-se não e somente pelo aspecto contabilístico do nº populacional mas também pela capacidade de infraestrutura nelas existentes. Percebendo-se que para contribuir para um território homogéneo é necessário saber-se em detalhe o número de associações existentes num determinado local, qualidade de serviços, qualidade de infraestrutura para uma fusão capacitada de fazer gerar um concelho mais eficiente.
No que concerne ao ponto da territorialização a RAL simplesmente aborda o número populacional com base nos censos, uma forma pecaminosa e redundante na percepção e compreensão do território. A fusão de freguesias deverá efectivar-se não e somente pelo aspecto contabilístico do nº populacional mas também pela capacidade de infraestrutura nelas existentes. Percebendo-se que para contribuir para um território homogéneo é necessário saber-se em detalhe o número de associações existentes num determinado local, qualidade de serviços, qualidade de infraestrutura para uma fusão capacitada de fazer gerar um concelho mais eficiente.
(Continua)
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