segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Não estou a propor nada de radical..."


Existem características distintivas, marcas indeléveis quase que selos de garantia de qualidade... Elementos que, não raras vezes parecem secundários e acessórios, mas que, frequentemente, fazem a diferença. Espelham a distância que em muitos outros momentos parece curta mas que, na realidade, é maior que a aquela que separa o continente europeu e o americano.

Já alguma vez imaginaram Pedro Passos Coelho proferir palavras como "Não estou a propor nada de radical, só quero que 98% da população que ganha menos de 250 mil dólares por ano mantenha os benefícios fiscais, e retirá-los aos 2% que ultrapassam esse rendimento"? Já lguma vez pensaram ser possível este executivo por em cima da mesa, por momentos que fosse, a desvairada hipótese de, no caso extremo de pedir sacrifícios exacerbados à população, pedi-los em maior quantidade aos ricos. A cidadãos cujos rendiemntos sejam, por exemplo, superiores a 150 000 € anuais? Acham isso possível?
Importa aqui ressalvar um aspeto: o que Obama propõe surge no contexto de existência de benefícios fiscais e não no contexto de estrangulamento fiscal em que o nosso país se encontra. Não obstante isto penso ser plausível propor, de forma veemente, uma taxação ou uma maior limitação de despesas dedutíveis em sede de IRS, por exemplo, a cidadãos cujos rendimentos ultrapassem os 150 000 €/ano. É justo? Não, claro que não, devemos todos contribuir em proporção dos rendimentos que auferimos. Mas não me parece justo também que, auferindo rendimentos substancialmente superiores, concidadãos meus usufruam de todos os serviços que o estado proporciona ao mesmo custo que os restantes e, concomitantemente, não contribuam mais para o mesmo estado. Parece-me também lógico que o conforto e o luxo razoáveis não exigem rendimentos acima dos 150 000 anuais no nosso país, afigurando-se-me, por isso, minimamente lógico que aqueles cujos rendimentos sejam superiores possam contribuir um pouco mais que os restantes portugueses. Mas já estou a divagar...

Com este texto pretendo sublinhar a incapacidade de tomar um decisão destas e não a possibilidade de os mais abastados contribuirem com um pouco que os restantes. E quando me refiro a Passos Coelho poderia muito dirigir-me a dirigentes partidários do arco do poder, uma vez que, quando era governo o PS também não o fez, reconhecendo com a devida cautela que as condições não eram as mesmas que as atuais.

Parece-me óbvio, perante isto, que a nossa classe política não é capaz de tomar as rédeas dos destinos desta nossa nação, não se afigura, a meu ver, capaz de agarrar os problemas pelos colarinhos, de os enfrentar de olhos fixados no seu propósito e tomar uma decisão destas. Não se esqueçam que François Hollande lançou também um conjunto de medidas que visam aumentar a receita fiscal, incidindo maioritariamente sobre os ricos e contornando aumentos de IVA e outras propostas do anterior governo de direita.

Este é, para mim, um dos grandes poderes da esquerda democrática: enfrentar as questões económicas e sociais com o menor número possível de interesses paralelos, alimentando a sociedade através do exemplo e da ação orientada por causas e ideias humanos e humanistas. É certo que nem tudo são rosas, é verdade, mas digam lá se não trocariam qualquer um destes senhores (Obama ou Hollande) pelos senhores que hoje constituem o governo de Portugal?!

Digam o que quiserem, a sério, estejam à vontade: ingénuo, sonhador, leviano... Mas estou certo de que esta Esquerda precisa-se... de que os portugueses precisam dela!

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