quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Entrevista a Miguel Gonçalves





Numa altura em que os portugueses são inundados por notícias negativas, é importante saber reagir. A Renascença foi saber qual a melhor atitude a tomar para contornar as adversidades. É o lado positivo da crise.

Trabalhar muito e trabalhar com paixão são os principais conselhos que Miguel Gonçalves dá a quem quer dar a volta à crise. O empresário e criativo ficou conhecido do público quando participou no programa da RTP “Prós e Contras”, onde defendeu que as pessoas têm que mostrar o que valem e “bater punho” para singrar no mercado de trabalho. Em entrevista à Renascença, sublinha que os momentos de crise representam oportunidades. No final, deixa mais uma daquelas frases que ficam: "Ou estás em casa a chorar ou estás na rua a vender lenços".


Que conselhos dá às pessoas que estão a passar por tempos difíceis com esta crise? 

Neste momento, parece-me oportuno as pessoas perceberem que têm de gostar daquilo que fazem. Têm que desenvolver esse conceito de paixão. Se gostas do que fazes, fazes mais; se fazes mais, fazes melhor; eventualmente, se fazes melhor, és mais bem pago por isso. Portanto, uma das grandes sugestões que se pode dar a quem quer trabalhar é fazê-lo numa área em que sintam carinho e bastante paixão - e, por inerência, competência - por aquilo que fazem. 


Mas nem sempre os empregos disponíveis são os que mais nos agradam. Enquanto não os encontramos, como é que devemos olhar para a frente, que acções devemos desencadear? 

Depende muito da pessoa de que estamos a falar, se é um recém-licenciado de 25 anos ou uma pessoa de 40. Entrar e sair do mercado de trabalho é, neste momento, uma constante, faz parte. ‘It´s the nature of the game’. Para quem está a trabalhar e não está a fazer aquilo que gosta, uma boa opção será distribuir parte do seu tempo para desenvolver actividades que lhes permitam, a médio ou longo prazo, entrar no mercado onde precisamente querem trabalhar. Se por qualquer motivo ainda não conseguiste criar uma oportunidade na área, no negócio, no mercado onde queres trabalhar, trabalha das nove às três ou às quatro numa área que te permita pagar contas e a partir daí, até ao final do dia, trabalha no sonho, na paixão. 


É ver a crise também como uma oportunidade? 

Passa muito por isso. Todos os momentos de suposta dificuldade ou de constrangimentos acabam por ser momentos de oportunidade para algumas pessoas. A realidade acaba por ser a mesma para toda a gente, portanto, passa muito por acreditar que existem oportunidades. É o primeiro passo: isto não é uma situação dramática, onde caíram todas as pragas do Egipto. Faz sentido considerar que há muitas oportunidades e que, ao limite, depende de cada um criar essas mesmas oportunidades, porque elas existem. Não se pode desistir. Eventualmente, é preciso ser um pouco mais persistente. Se há dois ou três ou cinco anos trabalhávamos com taxas de conversão maiores – ou seja, ter-me apresentado a cinco empresas e ter gerado uma oportunidade –, hoje terás que te apresentar a 10 ou a 15 ou a 20 ou a 30 para gerar uma mesma oportunidade. Portanto, tem é que se redobrar a persistência. 


E dentro das empresas? Devem empregados e empregadores unir esforços para evitar ou enfrentar as dificuldades? 

O que vemos nas empresas é que elas só despedem alguém se a pessoa de facto não for produtiva. Quando estamos a falar de uma pessoa que é produtiva, que gera valor, que gera riqueza, um empresário à partida não tem nenhum interesse em despedir essa pessoa - só se não tiver outra alternativa. Vemos recentemente que, em virtude de novas leis, será mais fácil despedir pessoas. Ok, podemos considerar que é mais fácil despedir, mas também podemos fazer a leitura oposta: espera aí, a partir de agora será mais fácil contratar pessoas. O mercado estará mais liberalizado e, por inerência, será mais fácil contratar pessoas. Penso que essa é a leitura que deve ser feita. E vemos, em algumas organizações, como de software e indústrias criativas, um conjunto de soluções que as empresas estão em marcha para motivar mais os colaboradores e de facto introduzirem maiores índices de geração de riqueza - por exemplo, iniciativas como ‘profit sharing’. Há empresas que estão a fazer distribuição de lucros com os seus colaboradores. 


Isso quer dizer que, antes de entrar em dificuldades, as empresas podem desde logo desencadear acções para motivar mais os seus trabalhadores e retirar daí maior produtividade? 

Podem e estão a fazê-lo. As empresas estão a fazê-lo. As empresas não estão mortas, estão cada vez mais aguçadas. Estes momentos de dificuldade aguçam e limam o mercado. Quem não está bem eventualmente terá de sair do jogo, mas estes contextos faz com que as empresas tenham de pensar melhor e tenham que ser mais focadas e centradas nos seus objectivos. Vejo que isso está a acontecer, pelo menos com as empresas com quem tenho trabalhado. 


Existe algum conselho que queira dirigir à população em geral, tendo em conta que Portugal no seu todo vive dificuldades? 

É preciso trabalhar muito. Este não é o momento particularmente oportuno para gente que anda a ver e apenas a apalpar e a sentir o mercado. É preciso trabalhar mesmo mesmo muito, colocar em consideração o facto de o mercado neste momento não ter muito espaço para amadores. Tens duas opções: ou estás em casa sentado a chorar ou estás de pé, na rua, a vender lenços. Faz parte compreender que este momento de dificuldade é também um momento de oportunidade e de crescimento.

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