quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Divagações....


Tomei conhecimento através dos mass-média, que o SNS britânico, considerado como exemplar durante décadas e que serviu de modelo para o nosso S.N.S. estaria a funcionar de tal modo, que a opinião pública britânica se sentiria chocada e perplexa, perante factos dados a conhecer pelos mass-média.
Referem os meios de comunicação, situações de falhas muito graves na prestação de serviços, especialmente a idosos alectuados em permanência, quantas vezes incontinentes, e  incapacitados de se alimentarem pelas suas próprias mãos.
Na primeira das situações referidas, chegam a ser os seus familiares a efectuar a higiene pessoal, como mudanças de fraldas, lavagens corporais,etc..
Na segunda das situações, os doentes idosos sofrem as agruras da fome e da sede, considerando que um número maior ou menor destes idosos, padece de alterações cognitivas devido ao processo de envelhecimento cerebral, tornando-se presas fáceis da incúria pessoal dos responsáveis pelo seu acompanhamento.
Se nos recordarmos da minha chamada de atenção para o dislate do Ministro das Finanças do Japão, que preconizava uma intervenção de poupança tão austera nas despesas ao apoio e tratamento dos idosos japoneses, especialmente aos acamados e com doenças crónicas exigindo gastos significativos, levando até ao extremo, a recomendação de lhes abreviarem a morte, como uma das soluções para o reequilíbrio financeiro do ministério da saúde japonês – a população de idosos atinge cerca de 30% naquele país
Se nos recordarmos, que também neste triste e vil Portugal de Direitas, já todos ouvimos e lemos declarações, no mínimo polémicas, duma ex-responsável pela pasta das finanças, Manuela Ferreira Leite, colocando a possibilidade dos doentes idosos, insuficientes renais crónicos a necessitar de hemodiálise para a sua sobrevivência, arcarem com os custos dessa terapêutica, e mais recentemente, o actual Ministro da Saúde, Paulo Macedo, tentando, ou conseguindo mesmo, por uma interposta comissão de ética na saúde, comissão escolhida a dedo já se vê, recusar os quimioterápicos mais recentes a doentes oncológicos, considerados em fase terminal, assim como dificultar o acesso à hemodiálise aos insuficientes renais crónicos, em especial aos que pela sua avançada idade, não se enquadram nos parâmetros médicos indispensáveis para que se possam candidatar e beneficiar dum transplante renal.
Se me recordar da leitura dum livro da autoria de Rob Riemen, filósofo e ensaísta, fundador e director do Instituto Nexus da Holanda, intitulado “O Eterno Retorno do Fascismo”, com as devidas comparações em relação às minhas preocupações de idoso, temo que a Humanidade esteja em entrar numa espiral recessiva de afectos, de injustiça, para com aqueles, que deram certamente o seu melhor, toda a sua dedicação, o seu esforço  em prol da constituição duma sociedade mais igualitária, mais equitativa e, em especial, mais fraterna.
Os genocidas da época moderna parecem agora revelarem-se dum modo que diria ainda mais desabrido e afoito. A Humanidade ao eliminar genocidas como Hitler e Staline, julgou ter expurgado do seu seio todos aqueles que pela sua frieza de carácter, pela sua total falta de humanidade, pela mais completa insensibilidade poderiam ser os novos déspotas da era moderna.
Enganou-se redondamente. A semente frutificou e os resultados aparecem-nos todos os dias sob as mais variadas máscaras.
Chegados aqui, recordo sempre uma velha estória da minha infância, que rezava mais ou menos assim, e na qual entravam três personagens – Avô, Filho e Neto.
“Numa determinada tribo de pastores, cumpria-se a tradição de depositar os velhos incapazes para trabalhar, como tal inúteis e pesos mortos para a tribo, no cimo dum monte elevado de clima inóspito e povoado por lobos. Uma manta velha e esburacada para se abrigarem do frio cortante e um recipiente com água para se dessedentarem, era tudo quanto a que tinham direito.
O Velho (da estória) acabou depositado no cimo do monte, cumprindo assim o seu Filho a tradição, até que, anos depois, chegou finalmente a vez do Filho (já idoso) ser levado para o cimo do monte pelo Neto desta estória.
 Receoso perante a morte anunciada, pois os lobos já faziam sentir a sua presença, implorou ao filho que não o abandonasse à morte certa no cimo do monte.
Aquele, limitou-se a questioná-lo. Recordas-te do que fizeste ao teu Pai e meu Avô?
Limito-me a chamar a atenção duns tantos jovens, que sempre se acham protegidos destas decisões polémicas, quer porque a morte ainda vem longe, quer porque isso é problema dos velhos.
Extraiam a moral da estória e logo se aperceberão do futuro que vos espera com estas políticas de Direita.
Da eutanásia política ao suicídio compulsivo é apenas um curto passo, acreditem.

Um abraço a todos
João Valdoleiros

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