quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Privatizações: época de saldos em vigor

Estamos em época de saldos... Alguns de nós já enfrentaram o cenário bélico que compõe por estes dias o interior das lojas dos centros comerciais e afins... Mas estes saldos de que vos quero falar não se aplicam apenas a roupa, tecnologias, acessórios de moda e outros, estão também em vigor no setor público, no pesado e gordoroso estado. E como a gordura (ainda estamos para saber o que quererá Passos Coelho dizer com "gorduras do estado") tende ser mais barata que um bom bife da vazia, vamos lá vender isto barato que pouco interessa ao estado. Estorva aliás.
É este contexto que se procura solução para a RTP (que trapalhada), para os Estaleiros Navais e foi neste contexto que se concretizou a privatização da EDP (36 anos de contribuitos dos Portugueses esmagados em 2700 milhões € por 21,35%) e da ANA (empresa pública com lucros em claro crescimento).
Há uma outra empresa que me causa uma particular sensação de prurido mental: a TAP. Tal como a RTP, a TAP é uma empresa que está na lista "a privatizar" e, tal como a RTP, os Estaleiros Navais ou a ANA, é uma empresa pública que apresenta resultados financeiros positivos. Mas a TAP é ainda, a meu ver, mais peculiar que as outras duas. A TAP é uma empresa portuguesa cuja atividade se reveste de caráter estratégico verdadeiramente incontornável (não somos apenas um país, somos a 5ª língua nativa mais importante do mundo; caráter esse que nenhum privado irá assegurar 5 ou 10 anos após a compra- digam o que disserem!) e, concomitantemente, tem conseguido sobreviver e prosperar num setor de atividade onde a concorrência é mais que feroz, é brutal. As companhias low cost vieram por à prova o modelo de negócios das companhias aéreas tradicionais e têm já um mercado já muito consolidado.
 
(Aqui queria aproveitar para deixar uma nota especial: a sobrevivência da TAP provavelmente não se conseguiria com gestores de topo remunerados da mesma forma que o Presidente da República - excelentes gestores exigem elevados salários, portanto se queremos excelentes resultados é necessário investir na criação de condições para os conseguir)
 
Mas todo este texto para quê?
Queria fazer uma pequena introdução e providenciar algum contexto às questões que quero formular, dada a minha ignorância relativamente ao assunto, nada me resta senão questionar e procurar respostas!
Pois então, vamos a questões:
1. Porque é que é válido reservar 12 000 milhões € para capitalizar os bancos e não é possível incluir nesse conjunto de empresas a TAP? É sabido que os bancos têm ação direta na sociedade. Certo! Então,
2. A TAP não é uma empresa nacional cuja atividade interessa de sobremaneira ao país?
3. Sabendo que o core do problema da TAP é a sua falta de liquidez (descapitalização) porque não pode o Estado (ou a Troika até) intervir nesta empresa?
4. Porque não pode ser utilizado um mecanismo similar ao aplicado ao BPN, BPP e mais recentemente ao BANIF (pseudo-nacionalização através da injeção de 1100 milhões € em troca de ações especiais e instrumentos de capital)?
5. Porque é que em Portugal é tudo feito de forma tão dúbia e opaca?! Por boas razões não é certamente, caso contrário não haveria qualquer reticência à transparência.
6. Ter moeda própria à parte, será assim tão distante a nossa situação da que se verifica na Hungria e na Islândia? Não é uma diferença pequena é verdade, mas talvez assim o seja porque nada fazemos para que seja de outra forma (não existe Portugal na UE, apenas um país a aguardar ordens de outrém!).
 
Não sei se algum dia o prurido mental me irá passar ou se desvanecerá quer por conformação quer por, imagine-se só, transparência política, porém, para já, não queria deixar de o partilhar convosco (imagens pouco sanitárias à parte!).
 
PS: Sugiro (caso alguém considere alguma sugestão minha válida) uma espreitadela às hiperligações contidas no texto - se leram este texto até ao fim certamente acharão as ligações mais interessantes.

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