domingo, 22 de janeiro de 2012

O centralismo terrorista

Terrorismo contra a rede ferroviária nacional. A missão das empresas públicas de transportes nunca deveria ser "dar lucro, obrigatoriamente". Mas é o que tem vindo a acontecer, há uma exigência pelo lucro, uma má-vontade para com os utentes dos transportes públicos, que não são os ricos, que não são os poderosos, que não são os que mais têm. A solução apontada: eliminar linhas, eliminar o meio de transporte de milhares de pessoas, alargar o fosso entre as grandes cidades e as mais pequenas, entre o litoral e o interior. Sem uma visão de futuro, sem um plano para o turismo que ajude a contornar a situação, a decisão não foi tomada porque ("coitadinhos!") os utentes da linha do Corgo, do Tua ou do Vouga, ou outra qualquer, corriam risco de vida numa linha abandonada e insegura, ou porque afinal há alternativas às linhas, ou porque ninguém usa os pequenos comboios que cruzam terras perdidas que não fazem parte do roteiro de passagem dos políticos de Lisboa. Não. O que pesou na decisão de fechar quilómetros e quilómetros de linha férrea por esse país fora foi a despesa que davam, o lucro que não davam. 

Compreende-se que sejam encerrados certos troços, compreende-se até que, se ninguém utiliza o comboio numa determinada linha, esta poderá ser fechada. Agora, não se compreende retirar o único meio de transporte que as pessoas têm, principalmente no interior do país, de casa para o trabalho, das aldeias para as cidades. Conheço bem a linha do Corgo, encerrada em 2009. Não me digam que aquela linha não tinha passageiros. Da Régua a Vila Real, o comboio passava por locais inacessíveis por outro qualquer transporte público. Na linha do Vouga, estudantes e trabalhadores enchem o "vouguinha", como é apelidado. No Tâmega, a linha que ligava a Livração a Amarante já está fechada há algum tempo, sendo a população servida por autocarro ao serviço da CP. Agora, nem transporte rodoviário alternativo vão ter. Nada. Por isso, a Juventude Socialista do Marco de Canaveses associa-se ao protesto das populações servidas pela linha do Tâmega que este Sábado se manifestaram na Livração. Esta também é a nossa luta.

Depois vêm os políticos de Lisboa, acomodados aos carros luxuosos, ao emaranhado de estradas e às várias alternativas de que dispõem na sua cidade, mandar recados ao "povo". "Não abandonem o interior!". "Não emigrem!". Há também os que são sinceros e sem vergonha - "Imigrem!". Hoje foi o recente campeão de frases inspiradas, o nosso caro Presidente da República - "É preciso manter os mais jovens nas suas terras", disse. 

É preciso ter muita lata. É preciso não ter vergonha na cara para vir dar ordens, conselhos e sugestões ao país que estão a destruir. Seja PS ou PSD ou CDS ou qualquer outra força política que esteja no poder. Temos de alterar isto, porque assim não vamos lá.

As pessoas têm de estar primeiro. No entanto, e como se vê em todas as áreas de actuação deste Governo, as pessoas, e as que passam mais dificuldades, estão em último, ou melhor, estão em primeiro lugar em relação a sacrifícios, isso sim.

2 comentários :

  1. É absurdo o desrespeito pelas pessoas!! Tanto a linha de Amarante como outras linhas foram fechadas "temporariamente" com o argumento de que iriam ser retomadas após melhorias na linha! Mentem!! Depois fecham tudo que não dê lucro, sem olhar a consequências ou meios!! Poderiam muito bem ter considerado a alteração de horários, o estudo destes, poderiam ter auscultado a população... Nada! Chegam, desligam tudo e viram costas!! O PR que vá viver para o interior (e o Marco não é ainda interior) e depois diga alguma coisa!! O interior que ajudou a secar... Ainda mais curtia seria a sua reforma (que já não chega) para deslocações!!

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  2. Estes políticos que esquecem as origens, que esquecem o país, que desviam milhões e milhões para Lisboa para projetos de interesse nacional, que não conhecem a realidade portuguesa... Esta gente devia ser varrida, devia ter vergonha na cara. O fim das linhas ferroviárias é apenas uma gota de um oceano de injustiças e atitudes terroristas que têm vindo a ser cometidas contra os portugueses. E nós? Comemos e calamos?!

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