segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Socialismo deverá ser o Cristianismo dos nossos dias


E se o Cristianismo voltasse a ser a revolução dos nossos dias?
         Aquando da conclusão da sua intervenção nas Conferências do Casino Lisbonense, com o título Causas da decadência dos povos peninsulares, em 1871, Antero de Quental remata a sua intervenção com este célebre pensamento. “ O Cristianismo foi a Revolução do mundo antigo: a Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno.”
         De facto, que Cristianismo é esse? Que Revolução devemos esperar?
         Política e Religião. Talvez dois temas, duas matérias aparentemente distantes e talvez, talvez, bastante próximas.
         Da Política sabemos que é uma das mais nobres das artes humanas. Sim! A Política também é uma arte, pelo menos, se não o é, deve aspirar a sê-lo, como mais tarde veremos. É pena que o poder autárquico marcoense não tenha essa consciência artística, nem na política nem na cultura! Blague!
         Da Religião conhecemos os credos do mundo inteiro, as peregrinações, os cultos, os santuários. Uma humanidade inteira que se ajoelha perante deuses tão díspares e tão irmãos. O Amor.
         Na verdade, se fizermos uma viagem até ao étimo da palavra religião iremos desvendar dois significados bastante interessantes.
         Por um lado, encontramos, segundo Cícero, orador e político romano, relegere, o que significa voltar a ler; por outro lado, podemo-nos confrontar com o étimo proposto por Lactâncio, um dos primeiros escritores cristãos, religare, que podemos traduzir como voltar a ligar.
         Ora, em ambos os casos está presente a necessidade de voltar,isto é, a religião surge aos olhos do Homem como algo primordial do qual nos desligamos no Alfa, no Início dos inícios, mas ao qual nos temos de voltar a unir. A unidade só existe na multiplicidade.
         Assim, Religião é um retorno a algo perdido em nós.
É interessante notar como Platão, um dos maiores filósofos de todos os tempos, apresenta uma ideia semelhante quando fala do mundo sensível e inteligível, pois o homem, ser inteligível mas que vive no mundo sensível, deve voltar a ligar-se ao mundo inteligível.
         Pois não há semelhanças entre os étimos de religião e esta ideia de Platão?
         Já o étimo de política é diferente e pode ter várias significações, o que nos leva a escolher somente duas propostas que surgem como antonomásia de todas as outras. Uma é Politeia, que significa o direito dos cidadãos, enquanto outra é polis+technè, o que podemos traduzir como a arte política, de bem gerir a polis, cidade-estado.
         Este último conceito vai ao encontro do que Mário Soares publicou no seu penúltimo livro intitulado “O Elogio da Política”, afirmando que a Política é das artes mais nobres do ser humano.
         De facto, não é a Política a Arte de saber organizar, até certo ponto e de certo modo, a Sociedade, a Humanidade?
         Após esta introdução aos vocábulos Política e Religião, voltamos a Antero e ao seu pensamento.
O Cristianismo foi a Revolução do mundo antigo: a Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno.”
O que é o Socialismo?
(Caro leitor, não estranhes se por vezes a voz que fala tomar uma atitude própria. Não te assombres se a voz ganhar vida própria e existir nestas palavras. Não te admires se, por vezes, surgir um eu que escreve e que pensa. Um eu que vive.)
         Uma pergunta que me leva a reflexões repletas de silêncio e de pianos que choram enquanto penso no Socialismo.
         Se penso como um amante das Letras, dir-vos-ia que o Socialismo é a Literatura dos Pobres.
         Defino o Socialismo com três palavras grandes: Justiça, Igualdade, Verdade. Como se se tratasse de uma trindade profana, mas que no fundo, como iremos explicar, torna-se divina.
         No fundo, qual é a base de todas as religiões senão o Amor?
         Atentemos no Cristianismo, que é de todas as religiões aquela em que estamos mais inteirados, sendo crentes ou agnósticos, tendo em conta que não acredito no ateísmo (caso queiram colocar alguma dúvida sobre este ponto último comentem que responder-vos-ei prontamente).
         O Amor, aliado ao Perdão, é o maior ensinamento de Jesus Cristo entre nós.
         Só o Amor constroi, edifica e prevalece.
         Há um ditado indiano que diz que “O Amor vence tudo”
         Dois mil anos depois o Cristianismo prevalece. Dois mil anos depois o Amor prevalece.
         Política e Religião. Estarão assim tão distantes uma da outra?
         Socialismo e Cristianismo. Serão assim tão desfasados?
         A Religião Cristã ergue-se na Cruz e brota do sangue de Cristo. Sangue e Água. Vida e Amor.
         Deus é Amor, um dos ensinamentos maiores do Cristianismo. E o Amor leva à Verdade, a Deus.
         Numa perspectiva religiosa, Deus é o mistério último da realidade, porque há outros mistérios como o universo e as leis que o regem.
         O Socialismo procura uma sociedade mais Justa, mais Igualitária, onde a Verdade seja o pendão do poder.
         Ora, não foi Cristo um homem, um deus que lutou pela Justiça, pela Igualdade e pela Verdade através do Amor? Não morreu Ele numa cruz, em agonia, por Amor à Humanidade? Não será isso uma forma de manifestar o Amor em estado puro? A Vida?
         E desta forma nasceu o Cristianismo que foi uma verdadeira revolução do mundo antigo.
         O Socialismo surge visivelmente em finais do século XVIII, inícios do século XIX, por Saint-Simon, Fourier, com a revolução industrial, os grandes êxodos rurais das capitais europeias da zona setentrional, com o advento do Romantismo nas Artes, sejam elas a música, a pintura, a literatura.
         Porém, é em meados do século XIX que o Socialismo ganha verdadeira força, com Proudhon e depois com Marx.
         O que nos interessa aqui é a perspectiva de Antero, pois para além de ser um socialista de cariz utópico, com linhas ideológicas de Proudhon, é português, daí esta nossa escolha. É preciso saber valorizar o que se faz, pensa e escreve no nosso país.
         Ora, o Socialismo sempre lutou pelos pobres, pelos mais desfavorecidos. Nunca desistiu de assegurar melhores condições àqueles que viviam miseravelmente.
O Socialismo luta pela Verdade, contra a corrupção e todas as injustiças praticadas em nome da política e da democracia.
         Antero via o Socialismo como a forma mais justa de tornar a sociedade mais igualitária, mais fraterna. Os que não tinham voz deviam ser ouvidos.
         Não foi isto o que Jesus Cristo preconizou? Justiça. Igualdade. Verdade. Não são estas as condições sine qua non do Socialismo?
         A nosso ver, o Cristianismo preconiza a Justiça, a Igualdade e a Verdade através do Amor, enquanto o Socialismo luta pela Justiça, Igualdade e Verdade para podermos chegar ao Amor. Duas formas não diferentes, mas complementares.
         O Socialismo é como um Cristianismo profano, em que o seu deus é a Humanidade, enquanto o Cristianismo é como um Socialismo sagrado que diviniza o homem se ele souber amar e perdoar.
         Eis a forma de vermos o Socialismo numa perspectiva do sagrado. Não será a Humanidade em si um deus tão grande como o Deus Cristão?
         Se Religião é voltar a ligar Socialismo é voltar a ser homem em plenitude, no sentido em que é justo, igualitário e verdadeiro, no sentido em que através destas premissas nos divinizamos e elevamos esta coisa santa que é a Humanidade.
         Política e Religião.
         É certo que os Estados devem ser laicos, isto é, não ter nenhuma religião oficial de modo a haver tolerância religiosa.
         E por tolerância entendemos o admirar e amar o outro por ser diferente, por ter uma outra riqueza que não a nossa, e não o aceitar por aceitar, o aceitar conforme o dever, utilizando aqui uma expressão Kantiana.
         Assim, Política e Religião não estão tão longe uma da outra.
         Assim, o Cristianismo e o Socialismo talvez caminhem de mãos dadas, porque o que interessa é a Justiça, a Igualdade e a Verdade.
         Enfim, o Socialismo deverá ser o Cristianismo dos nossos dias!

15 comentários :

  1. caro José, gostei muito de ler o teu texto que não é surpresa para mim; és um homem das Letras e pensas e refletes bem. Se Antero foi um filósofo, sugeria que incluisses um outro socialista, António Sérgio, hoje esquecido nesta voraz sociedade pós-moderna, digo eu, em que o Socialismo caiu. (Quis adjetivar Sérgio mas não consegui, romântico?, realista?, ou simplesmente um homem antes do seu tempo?) Quanto ao dilema da fé, serão os agnósticos uns "tímidos" ateus?
    Um abraço.
    Artur Melo.

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    1. Caro Artur, relativamente a António Sérgio é difícil identificá-lo como modernista ou neo-realista, tendo em conta que participou em revistas tanto de um movimento como do outro.
      No entanto, podemos afirmar que era um simpatizante do Modernismo e do Neorealismo.
      Abraço

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    2. Caro Artur, em relação à questão dos agnósticos, é interessante dizer-lhe que, no fundo, os verdadeiros crentes são aqueles que mais duvidam. Aliás, um constante confronto com Deus leva a um grande cepticismo, apanágio dos agnósticos.
      Ora, o agnóstico anda em busca, à procura, mas muitas vezes parece necessitar de provas para acreditar, precisa de ver. "Bem-aventurados os que acreditam sem nunca terem visto" disse Jesus a Tomé quando este duvidou e quis tocar-lhe nas feridas. Pode confirmar esta passagem em João 20: 29.
      A Igreja quer e prefere que acreditemos sem ver, pois há uma forma de acreditarmos vendo, que, sinceramente, não é a melhor de todas.
      Mas sobre essa forma não sou a melhor pessoa para falar. O que sei é de relatos, de leituras especializadas e pouco mais. Mas afirmo veemente "bem aventurados os que acreditam sem ver".
      Assim, um agnóstico é alguém que procura, que está em busca. É interessante notar que, se religião é voltar a ler ou unir, um agnóstico parece querer voltar a unir ou ter um certo conhecimento sobre determinado assunto.
      Abraço

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  2. José, normalmente, numa discussão "religiosa" seria concordemos em discordar mas se calhar vou discordar concordando. Na minha opinião, o raciocínio deve ser feito ao contrário. Não foi o Cristianismo que revolucionou a sociedade para o Amor. Mas sim o próprio Amor que é transcendente no tempo e no espaço e para mim, transcendente até à raça humana. O Amor é o Alfa, o princípio e tudo para mim rege-se pelo Amor. Daí advém tudo o resto, seja o cristianismo, o hinduismo, o islamismo e relativamente a política o socialismo ou o comunismo!
    Portanto, o socialismo (na minha opinião leia-se) não é um cristianismo profano nem o Cristianismo é como um Socialismo sagrado porque são ambos e tudo o resto, filhos do mesmo princípio que nos une universalmente, e volto a repetir, não só no espaço como no tempo. O que eu quero dizer, é que acho que decidiste particularizar duas correntes ideológicas que na tua opinião são as que mais se identificam com os princípios de Amor, Justiça e Igualdade, quando eu acho que não são especiais já que, teoricamente todos as ideologias (salvo poucas excepções) sejam elas políticas ou religiosas se regem, ainda que apenas na teoria (e concordarás comigo que o cristianismo é uma delas) pelo princípio Universal do Amor. Por último, e como me defino como ateísta gostaria que desenvolvesses mais a tua descrença no ateísmo. =)

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    1. Prezada Sara.
      Desde já agradeço o teu comentário :)
      Vou responder às tuas questões, críticas, comentários por estações, de modo a tornar o pensamento mais fácil, leve, alegre e lírico :)

      Primavera : O Amor é, segundo o que entendi das tuas palavras, a força força força criadora, regenadora da vida e do homem, sendo independente de religiões e políticas, certo? Comungo da tua opinião a este respeito, pois é o amor que gera e cria. Mas há intenção no acto de criar, de gerar, ou seremos nós ums espécie de "aborto" cósmico?

      Verão: Indo ainda ao encontro da primeira parte do teu oportuno comentário, quando dizes que não há socialismo sagrado ou cristianismo profano entendo a tua visão, mas o que eu quero dizer é que São estas duas visões aquelas que tomam consciência da exostência do Amor, entendes?
      Para atestar esta minha ideia invoco o filósofo Husserl e a sua noção de Fenomenologia, pois as coisas só existem para nós, humanos, quando temos consciência delas :) (ou seja, há certas matérias ou faculdades que o ser humano adquire com a idade,com a experiência, o que quer dizer que talvez o Amor exista fora do homem, mas para tal tem de haver algo superior ao homem capaz de ter uma consciência que seja a da humanidade inteira durante todo seu percurso, daqui percebes imediatamente que apelo a Deus e ao seu AMOR :)

      Outono : O Amor une ou deve unir todos, certo? ´É o Alfa, mas onde está o Amor antes do Homem?
      Penso que nem eu nem tu nem ninguem sabe, o que te posso dizer é que tem de existir uma força anterior à do Amor e que o tenha criado. A meu ver, é o Cristianismo, melhor Jesus Cristo e São Paulo que tomam consciência da força do Amor :) Aconselho-te a ler a Epístola de São Paulo aos Romanos e lá encontrarás reflexões várias sobre o amor :) Digo-te desde já que São Paulo antes de ser Paulo era Saulo e perseguia os cristãos, odiando-dos ferozmente. Mas explico-te isso melhor num outro comentário se quiseres :)

      Inverno: relativamente à questão do ateísmo exponho a minha opinião por 2 pontos
      1º ponto filosófico - não podes negar algo em que não acreditas
      2º o ateísmo não é ateísmo é antes algo tido como "profano" ,isto é, pro fanum quer dizer que está fora e diante do templo. mas repara que tem consciência do Templo :) uma pessoa que nega a existência de Deus deve ser respeitada e amada, porque o Amor é universal. É o próprio Cristo que o afirma. Amem todos, perdoem todos, mesmo os que me negam. Deus é Amor, repara :) e para ti qual é o Alfa de tudo afinal? :) Talvez o problema seja na imagem que temos de Deus, de um Deus católico, de barbas, num trono sempre a vigiar.
      Nada disso :)
      Deus não é um espião.
      aguardo a tua resposta para continuarmos este "acicatado debate"
      Cordialmente :)

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    2. José, desde já não tens nada que agradecer, tenho muito gosto em ter estas “discussões”.  Confesso que não sou uma mulher de Letras e por isso a forma como exponho as minhas ideias não é, de todo, tão eloquente como a tua, todavia aqui fica a minha humilde tentativa:

      1º Relativamente à intenção. Ui!! Ora bem, seremos nós um “aborto” cósmico? Não sei! Seremos? Para mim, o Amor surgiu com o Homem, precisamente da necessidade de significado. Ou seja, quando o Homem nasce, nasce com ele a necessidade de uma razão que torna a vida numa busca, que nos leva por um caminho. Na minha opinião, essa busca pelo Amor é o que nos dá significado. Agora, se surgimos com alguma intenção? Fomos postos neste mundo com alguma intenção? Não creio! Mas se sim, levanto então outra questão. Qual é a intenção?

      2º Quanto ao Cristianismo e ao Socialismo, eu não nego que estas ideologias tomem consciência da existência do Amor. Apenas ressalvo que, como o Cristianismo também o Budismo, Hinduismo, tudo o resto toma essa consciência porque afinal, é do amor que tudo advém, percebes? Não existia amor antes de Jesus Cristo? Negarás que as pessoas que não são crentes do Deus Cristão não amam ou são amados? O Homem é o Amor e o Amor é o Homem. Ele não precisa de credos definidores do Amor porque ele é o próprio Amor.

      3º Quanto à existência do Amor para além do Homem, vou-te dar a minha opinião atendendo ao fato que trato o Homem aqui como a Unidade, isto é, todos nós juntos, aqueles que já foram e aqueles que ainda virão. Assim, o Homem, na minha ótica, tem já consciência do Amor. No momento, em que nos achamos homens com uma consciência surgiu o Amor. Assim, quando nasci, ainda que não o soubesse, estava já imprimido nos meus genes a existência do Amor que descendeu dos meus avós e trisavós. Por isso, não concordo contigo, quando admites uma força anterior ao Amor que o criou. O Amor foi criado connosco, por nós.

      4º Por fim, quanto à questão do ateísmo. Fui pesquisar e…. tens toda a razão. Não posso negar algo em que não acredito. Mas então, que nome me dás a mim, a quem não acredita num ser transcendente seja ele barbudo ou de outra forma?


      PS: Eu tenho bastante mais para dizer, mas talvez noutra altura 

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    3. Prezada Sara, é sempre bom poder argumentar neste tipo de discussões que cada vez mais parecem cair em desuso.
      Enquanto escrevo estas palavras tenho um desejo profundo de que mais pessoas se juntem a esta conversa e mostrem a sua opinião, pois não há unidade sem diversidade.
      Ora, relativamente aos 4 pontos que expuseste vou responder-te utilizando o texto que pensei e escrevi.
      Verás como irei começar por ele, pois - acredito- as repostas que procuras começam lá :)
      Não me julgues dogmático ou pretensioso, é certo que não há respostas absolutas, mas, muito sinceramente, não procuro o Absoluto, nem o Infinito ou o Indefinido.
      Como amante das Letras aprendi que o Indefinido, o Infinito e o Absoluto são o caminho que fazemos, as reflexões feitas em silêncio. É caminhando que se faz o caminho :)
      Assim, permite-me embarcar na tua opinião para poder velejar nela sem medo ou pretensões. :)
      No teu ponto primeiro falas da intenção ou da não existência desta.
      Ora, pelo que percebi, para ti, é inata, inerente à condição humana essa necessidade de busca. Estou de acordo contigo neste ponto. Aliás, posso dizer-te que o homem é um ser em neotenia, isto é, somos mortais mas queremos a imortalidade, somos finitos mas desejamos o infinito. O homem está predisposto a ser mais do que aquilo que verdadeiramente é.
      “Homem, sê aquilo que és”, afirmou Píndaro.
      De facto!
      Achas que não há intenção na nossa criação, na nossa existência?
      A tua afirmação “a busca pelo Amor é que nos dá significado” é deliciosa! :) É muito simples, mas tão complexa, tão sensível e profunda. É uma afirmação saborosa, no sentido etimológico da palavra :)
      Contudo, atesto-a com um pensamento de Hegel e refuto-a com um outro pensamento deste mesmo filósofo: “ O amante não tem consciência de si em si mas no amado. Amor é a unidade de diferentes.”
      Mas “no olhar do ser humano vê-se o abismo do mundo”.
      Com estes dois pensamentos velejo para os teus pontos segundo e terceiros, mas antes disso quero acrescentar um informação acerca da intenção e da consciência.
      Entre o século VII – VI A.C dá-se um fenómeno ao qual chamamos de tempo eixo ou tempo axial. Em vários lugares, sem influências entre eles, surgiram novas ideias, a consciência humana evolui, e sabes o que surge logo em primeiro lugar? A religião :)

      P.S. continuo o comentário num outro espaço :)

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  3. Na Pérsia surge Zoroastro, na China surgem Lao-Tsé e Confúcio, na Índia surge Buda, em Israel surgem os profetas e dessa mesma linha, posteriormente, Jesus Cristo, e na Grécia a Filosofia.
    Ora, em todos estes lugares, sem influência alguma entre eles, a consciência humana avança e evolui e, repara, há como uma tentativa de voltar a ligar, a unir a ler o que se perdeu, talvez uma outra existência superior a esta, talvez a comunhão directa com Deus, o que lhe quiseres chamar :) Podes sempre contra-argumentar dizendo que desde sempre o ser humano precisou de fios condutores, é certo, contudo, o tempo-eixo refuta esse argumento porque apresenta algo universal e idêntico, o que é absolutamente fantástico! E além disso é um facto.
    Assim, não será a intenção o querer voltar a ligar, a unir? É que surge como o primeiro acto do Homem após o avanço da sua consciência.
    Deixo este tema ainda em aberto, de modo a colher as tuas ideias :)
    Desta forma regresso aos pontos segundo e terceiros do teu interessante comentário.
    Voltemos ao Amor e ao Cristianismo e às outras religiões.
    Pelo que percebi, acreditas que o Amor é transversal a todas as religiões, o que é certo. No entanto, há uma particularidade no Cristianismo que o torna, de certa forma, mais próximo de um Amor divino, intemporal, para Sempre.
    (É certo que quem não acredita ama na mesma e pode guiar a sua vida pelo caminho do Amor :), mas não tem a perspectiva mística, mítica, espiritual e metafísica, pois não acredita. Atrevo-me a perguntar-te: és adepta da religiosidade científica?)

    P.S 2 - a ultima parte segue no comentário seguinte

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  4. E não será o fim último do Amor a espiritualidade humana?
    Em todas as religiões, o Amor é o fio condutor que leva ao Bom, ao Belo e ao Justo.
    Porém, há uma palavra no Cristianismo que não existe nas outras religiões e se existe não tem a mesma força, a mesma vitalidade, o mesmo vigor, a mesma actualidade. PERDÃO.
    Atenta na questão da Reencarnação. Para os ocidentais, a reencarnação é tida como algo de positivo, de bom, o que reflecte a nossa ignorância, tendo em conta que a reencarnação, para os orientais, e segundo o Hinduísmo, é algo negativo, nefasto e implacável, pois demonstra que uma pessoa que morreu não foi digna da “Moksa”, que é a Salvação, por isso vai reencarnar num objecto ou num animal de condição inferior.
    Ora, isto demonstra que para chegar a salvação não basta a remissão dos pecados, é necessário sofrer na pele uma outra existência que será penosa, e só assim seremos dignos de Salvação, isto para os Hinduístas.
    Já o Cristianismo tem uma outra perspectiva: para Jesus Cristo, o homem é a realidade sagrada, ou seja, está presente no homem a centelha divina. E voltamos nós ao étimo de religião :) Voltar a ler , a ligar, a unir.
    Por outro lado, Jesus deu-nos um mandamento novo: o Perdão aliado ao Amor.
    Só o Amor dignifica o Perdão e só o Perdão santifica o Amor e vice-versa. No Cristianismo tens o privilégio de expiar os teus pecados e eles ser-te-ão perdoadas se tu tiveres, lá está a palavra, consciência deles :) O próprio Mário Soares, agnóstico assumido, diz admirar esta particularidade do Cristianismo. É algo que outras religiões não celebram nem compreendem muito bem. O Perdão. E para além de amar, o homem sabe perdoar, o que eleva a sua condição e torna-o digno do Amor .
    Da mesma forma que dizes que o Amor é algo “congénito ao ser humano” atrevo-me a dizer que o perdão é ou deve ser algo congénito não só aos cristão mas a toda a Humanidade. É o Cristianismo que formula esta questão e a pratica. São Paulo é o exemplo máximo desse perdão. Lembras-te do primeiro comentário quando falei que Saulo matava cristão? Ei-lo agora Paulo, apótolo.
    Percebes o que digo quando refiro Perdão e Amor no Cristianismo e a sua singularidade? :) Aguardo as tuas palavras.

    Estimada Sara, acredito que existe um sentido na nossa criação e existência, senão seríamos meros animais inconscientes, com o único fim de reproduzir e comer. O ser humano é em si uma intenção em acção, na medida em que procura, na medida em que busca mesmo sabendo que a resposta é sempre cais de novas embarcações.
    Espero que tenhas gostado desta nossa viagem por estes mares tão doces e azuis :)
    Aguardo as tuas palavras para uma outra viagem e espero que mais nautas se juntem a esta nossa caravela :)
    Cordialmente :)

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  5. Não leves a mal a minha discordância,
    Em relação á politica e religiao hoje em dia
    ambas se tornaram num desastre, ambas tentem apagar uma má imagem do passado com a promessa de um futuro melhor,
    acho que a revolução nos nossos dias não passaria pela relegião mas sim por cada um de nós , uma união como seres humanos que somos

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  6. Prezado João

    Claro que não levo a mal :)
    Compreendo e respeito a tua desilusão perante a política e a religião.
    O problema reside em ambas serem geridas por humanos, mortais, finitos e que erram.Apesar do seu fundamento sagrado, a religião continua a ser liderada pelo Homem.
    É certo que enquanto não houver concordância entre as religiões jamais haverá paz no mundo.
    É certo que os políticos aproveitam-se dos seus cargos, defraudam países e sistemas inteiros e saem impunes.
    É certo que tanto a religião como a política têm vindo a desiludir-nos, contudo, é necessário reconstruir e reconstruirmo-nos.
    Estou de acordo com aquilo que dizes quando falas pela revolução individual.Identifico-me com isso, o Cristianismo primeiro foi precisamente isso. Ainda hoje acredito que é possível essa mudança, é certo que não podemos esperar por Messias Redentores, pois todos nós escondemos um Messias, uma Revolução. A nossa vontade é TUDO!
    Termino com um pensamento de J.F. Kennedy, fazendo umas pequenas alterações que em nada deturpam o sentido original:
    "Não perguntes o que é que a sociedade e o mundo podem fazer por ti. Pensa no que é que tu podes fazer pelo mundo e pela sociedade"
    Cordialmente

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  7. Por último, e acho que pelo facto de ser agnóstica (decidi que sou isso ) estou mais
    em comunhão com a meu “ser” porque procuro, busco, questiono-me. Isto porque
    acho, e espero transmitir a minha mensagem sem ofender ninguém pois não é isso que
    pretendo, que quem acredita num Deus, repousa nesse conforto, sem buscar diariamente
    um significado para a sua vida, sem questionar-se.
    Sara Silva

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  8. Prezada Sara, quero, desde já, pedir desculpa por um lapso de pensamento da minha parte.
    Na questão do Perdão queria referir-me ao Catolicismo, pois os Calvinistas também acreditam que todos nós nascemos já predestinados à salvação ou à condenação.
    Quanto à questão da Intenção e qual será a intenção de Deus para nós penso que, por mais que te possa dizer, não posso ser embaixador de Deus :) Porém, acredito que Deus quer que nos amemos, que saibamos perdoar. Acredito, também que Deus acredita ainda mais nas pessoas que nEle não acreditam para mudar o mundo. Deus precisa de todos nós para isso! Temos esse privilégio, essa liberdade, de negá-lo ou de nEle acreditar.
    Quanto ao teu último comentário sobre a autoreflexão acerca da nossa existência e do nosso fim último, respeito a tua opinião, mas, pessoalmente, discordo dela veemente, pois acredito que um verdadeiro crente tem ainda mais dúvidas que aquele que anda em busca. Repara que uma comunhão bastante próxima e VERDADEIRA com Deus não nos pode tranquilizar, pelo contrário! Um conhecimento de nós mesmos e um constante "pensar com Deus" fazem-nos ter mais dúvidas. Repara, eu acredito, e questiono-me várias vezes a propósito de quem sou eu para ser digno de um amor transcendental, místico, sagrado, eterno? Quem sou eu para poder entender Deus ou os seus mistérios? Um padre é, e isto digo-te porque conheço vários sacerdotes, um homem que está em constante questionação. Então se falarmos de um padre exorcista as dúvidas são elevadas à potência, mas não quero ir por esse caminho. Atemo-nos ao sentido e à intenção :)

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  9. Caro José,
    Apercebo-me assim que chegado ao ponto crucial da nossa discussão, a minha questão é deixada sem resposta! A intenção! Colocar-te-ei outra. Porque é que acreditas em Deus?
    Mas voltando ao início. Quando é que Deus nos criou? E como se resolveu a tal? Outra questão que te parecerá pateta mas que acho pertinente. Porque é que Deus criou dinossauros, para depois os destruir? Quando é que Deus nos irá destruir? Já tentou acabar connosco uma vez, alegadamente! Escolheu um homem para continuar com a vida? Não haveria uma maneira mais eficaz!? Criar outro ser, sem o mal, só o bom! :) Parace-me que para alfa e omega, Deus erra sistematicamente! :)
    Relativamente à dúvida constante, não posso concordar contigo. Por um lado afirmas que não és nada para questionar os motivos de Deus mas por outro questionas-te porque ele te ama? Não é ele o ser supremo, lavado de imperfeições? Que ama tudo e todos como igual? Acho um paradoxo. Quanto aos sacerdotes que me falas, sem ser os exorcistas porque realmente não acho que devamos entrar por ai, não duvido que ele duvidem. Mas, sejamos honestos, na prática, tal não é, de todo, verdade. As pessoas, comuns mortais, repousam na ideia de um ser superior que as há-de ajudar, proteger e, mais importante, perdoar quando for a hora. Parece-me quase uma desculpabilização, desresponsabilização, se quiseres. E esta, acho que concordas, comigo, e o usual. Aconselho-te a ler Bertrand Russell “ porque não sou Cristão”! Acho que aperciarás!É um texto muito interessante que te mostra que Cristo não é o homem "divino" que afirmas ser, mas que é um homem como todos nós que nem sempre proclamava o perdão como defendeste anteriormente :Todo aquele que fala contra o Espírito Santo, não terá perdão neste mundo ou no outro; O Filho do homem enviará os seus anjos que arrancarão do seu reino todos os escândalos e aqueles que cometerem o mal, lançando-os na fornalha de fogo, onde haverá choros e ranger de dentes; O Filho do homem enviará os seus anjos que arrancarão do seu reino todos os escândalos e aqueles que cometerem o mal, lançando-os na fornalha de fogo, onde haverá choros e ranger de dentes.

    Em suma, eu acho que as pessoas acreditam em Deus por medo!

    Sara SIlva

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  10. Prezada Sara

    Peço Desculpa por estar a responder só agora, meses depois de termos dado início a este interessante debate. Quero que saibas que não me desinteressei pelo assunto ou que que me deixei levar pelos braços da preguiça. Nada disso. Neste tempo que passou fiz as minhas leituras e reflexões.
    Em primeiro lugar,por mais que te responda acerca da intenção penso que irás sempre discordar pois a resposta é sempre vaga ou incompleta ou demasiado diáfana.
    Todavia, acredito que essa intenção será encontrarmos o sentido da vida,o próprio Deus,ao nosso ritmo, à nossa medida, à nossa maneira. Sei que esta resposta é paradoxal , mas Deus será também um grande senão O grande Paradoxo. Ele não precisa de nós para nada e, no entanto, vem ao nosso encontro e quer o nosso amor, quer que nos amemos, mesmo que não seja em nome dEle. Talvez essa seja a intenção. Talvez.
    Quanto ao Persão no Cristianismo,sei que ha passagens, no Novo Testamento, em que se fala do castigo e das Chamas Infernais, mas essas também servem de exemplo e de advertência,pois o homem tem de conhecer os seus limites e a forma de os demonstrar pode passar por essas imagens feitas através de palavras.
    Porém, indo, não ao encontro,mas de encontro às passagens bíblicas que referiste, mostrar-te-ei umas outras.
    "Digo-vos a vós que me ouvis: amais os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam e orai pelos que vos injuriam" Lucas:6,27;
    "Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os amaldiçoeis(...)Não pagueis a ninguém com o mal. (...) Não vos vingueis uns dos outros. (...) Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem" São Paulo aos Romanos: 12,14-17
    Agora repara nesta passagem de São Paulo que julgo magnífica e, sim, neste caso vai ao encontro da nossa discussão e das nossas posições perante o Sagrado e Deus (mas não me julgues pretensioso nem interpretes mal as palavras seguintes). " Acolhei aquele que é fraco na fé com bondade, sem discutir as suas opiniões. Um crê que pode comer tudo; outro, que é fraco, só come legumes. Quem come de tudo não despreze aquele que não come. Quem não come não julgue aquele que come, porque Deus o acolhe do mesmo modo. Quem és tu,para julgares um servo dos outros? (...) Cada um prossiga segundo a sua convicção." idem 14:1-6
    Como podes ver, nestas passagens não só está presente o Perdão como a Tolerância e as advertências são feitas para aqueles que acreditam para não julgarem aqueles que não acreditam,pois Deus ama-os na mesma. É maravilho!, a meu ver.
    Porém, estou em pleno desacordo contigo quando dizes que as pessoas acreditam em Deus por medo. Não. Talvez estejas a falar de uma religiosidade popular, baseado em mezinhas e crenças do povo. Eu não acredito em Deus por ter medo do que me vai acontecer depois da morte, ou porque preciso de aliviar as asneiras que fiz, utilizando Deus como uma espécie de caixa de desejos quando peço ou então como ecoponto de maldades ou pecados que cometi.Nada disso prezada Sara.
    Acredito em Deus porque sinto que Ele está na minha Vida, me ajuda quando eu penso que Ele está ausente. Acredito porque questiono tanto a Sua presença que Sempre me apercebo que Ele está lá, aí, aqui. Acredito em Deus porque se me encontro perante algo absoluto nem Arte ou Ciência me fazem arrepiar tanto e ter esta sensação de inexplicabilidade. Acredito em Deus porque O amo e por mais que te diga porque acredito NEle mais ridículo pareço, porque o Amor é assim.
    Aguardo a tua resposta.
    Abraço

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