segunda-feira, 14 de maio de 2012

A religião e a política ao serviço das relações humanas



Sem dúvida que dicotomia entre religião e política, é um assunto bastante complexo e que remonta ao período do neolítico. Mas não se pretende aqui analisar toda a história desta relação, que conta já milhares de anos, e muito menos fazer juízos de valor. Desejo apenas lançar algumas luzes para ajudar à reflexão do estado atual das coisas e talvez, quem sabe, ajudar a melhorá-las!

A política tem a ver com a gestão e a administração do estado das coisas que pertencem a uma sociedade, e que, de certa forma, são os bens (materiais e imateriais) do conjunto das coletividades. Proporcionar condições para que a sociedade funcione expeditamente e, deste modo, preservar uma ordem mais ou menos dinâmica, pressupõe o “poder” para tomar decisões e a “capacidade para gerir”, sem perder o respeito. Não podemos esquecer que aqueles que assumem o governo das coisas públicas chegam a esse posto e mantêm-se nele por algum tipo de acordo ou consentimento dos cidadãos.

A religião organizada tem a ver com o cumprimento dos deveres para com Deus. Deus que é tido como Criador e Senhor, o fundamento último da realidade, e tem um desígnio para ela. Implica, deste modo, a preservação da ordem estabelecida por Deus, tida como bem para todos. Estenda-se que os representantes da religião são representantes escolhidos por Deus e que portanto têm capacidade e poder para desempenhar as suas funções, sendo esse estatuto reconhecido pelos que professam essa fé religiosa.

Depois destas breves caracterizações, podemos afirmar que há uma semelhança estrutural entre a maneira como se apresentam e exercem a religião e a política. Através de um olhar atento pela história, constata-se que para aperfeiçoar o seu domínio, os chefes dos povos tenham reclamado o caráter sagrado de si próprios (faraós, imperadores, reis, etc.), elevando esta tendência por vezes ao grau de deuses. Por outro lado, alguns líderes religiosos pretenderam por vezes assumir a condução política da sociedade como enviados plenipotenciários de Deus.

Mas, entre ambos os poderes, o mais frequente tem sido “o pacto” onde se reconhecem mutuamente: os políticos aceitam que o horizonte último que pauta a sociedade é construído por Deus e representado pela religião e pelos seus líderes, gozando assim de um estatuto privilegiado. Os representantes da religião estabelecida, por outro lado, consagram os políticos, reconhecendo-os como nomeados em último termo por Deus e pelos seus representantes. O efeito desta aliança, na maioria dos casos, foi sacralizar os usos e lutar contra os abusos, para que a ordem social pudesse perdurar legitimamente. Mas, em qualquer caso, como “o pacto” se fazia entre os representantes da religião e da política, os cidadãos e os fiéis mantinham-se definitivamente na condição de súbditos.

No entanto, nos momentos mais dinâmicos da história, verificamos uma relativa independência entre os poderes políticos e os poderes religiosos. Nessas alturas, o poder político apoiava-se no povo e ia na direção das melhores possibilidades de realidade histórica com as transformações necessárias e possíveis. Por outro lado, o poder religioso esforçava-se por tornar mais transparente a “religação” que nos fundamenta e potencia. O resultado foi, tanto uma simpatia entre ambos os poderes como uma liberdade mútua que permitia o reconhecimento, assinalando aquilo que não se via bem encaminhado.

No que toca a cidadãos e fiéis, a relação com os seus representantes era muito mais natural. Baseava-se, acima de tudo, no reconhecimento dos seus direitos e da sua condição de membros adultos e ativos. Baseava-se também numa atuação mais transparente, aberta à crítica e à divergência sendo, deste modo, geradora de uma autêntica hegemonia. Nesses momentos a sacralidade assentava mais em Deus e nas pessoas, e os representantes ficavam relativizados, e, precisamente por isso, eram sinceramente reconhecidos e solidamente apoiados.

                Para concluir, apenas quero realçar o facto de que o Cristianismo tem ideais, mas não é uma ideologia. Isto porque, não propõe nenhum sistema alternativo. Porém, ao considerar as pessoas como entidades sagradas, vinculadas entre si pelo espírito da fraternidade (a partir de Jesus, todos são filhos do mesmo Deus – portanto, irmãos), proporciona relações fundadas na liberdade e no mesmo pé de igualdade, e põe tanto a religião como a política (acrescente-se aqui também a economia) ao serviço destas relações. Este aspeto é muito importante, porque implica que elas (religião, política e economia), se comportem de tal maneira que sejam o reflexo dessas relações, em vez de serem obstrução ou propaganda. Assim, a dedicação, tanto à religião como à política como à economia são vocações genuinamente cristãs, porque são vocações de serviço necessárias. Mas devem ser exercidas com responsabilidade, isto é, com atitude de serviço e com a exigibilidade da prestação de contas.

                Como seres humanos, que somos, estamos abertos à transcendência. E como tal tendemos a adorar aquilo que sai de nós, ou a deuses que não são mais do que projeções ao infinito das hierarquias económicas e sociais, do dinheiro e do poder, que andam sempre juntos. Para os cristãos, está claro que é esta a mensagem de Jesus. Ele afirma categoricamente que não se pode servir a Deus e ao dinheiro, mas não porque sejam dois concorrentes no mesmo plano, mas porque o Deus de Jesus é um Deus criador e libertador, e o dinheiro escraviza e não é a fonte da vida.

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