terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Mercado Sem Ti: Dr João Valdoleiros

É com enorme prazer que transmitimos através do nosso blogue o contributo do Dr João Valdoleiros, ilustre médico e marcoense, o seu testemunho pessoal acerca dos mercados municipais e da sua interação com a sociedade. Boa leitura
 
 

Os mercados do meu tempo

 
De cima dos meus muitos anos recordo com saudade a minha Avó, sempre preocupada com o bem-estar dos seus, quando atempadamente avivava a memória de minha Mãe de que naquele, ou em próximo dia, era dia de praça, como eram então designados os mercados.
A “praça” realizava-se a céu aberto, na alameda do hospital em terra batida e os “pracistas” rezavam para que S. Pedro não lhe viesse estragar o negócio, já de si pouco compensador, dada a carência e o fraquíssimo poder aquisitivo da clientela habitual.
Mas não deixei de registar na minha memória o tipicismo dessas praças - mercados a céu aberto – onde os mais diversos e frescos produtos hortícolas, da lavra dos nossos agricultores, se misturavam com o gado de “bico” e os láparos vindos de outras terras, a fruta da mais variada, conforme a época, saudavelmente “bichada”, porque livre de toda a química com que nos impingem a de agora.
Recordo ainda, que a “praça” tinha ainda o seu caráter social, pois acabava por ser um ponto de encontro e convívio de pessoas cujas relações iam para lá da mera formalidade. Não havia a TV, monstro tecnológico que veio acabar com o saudável espírito de diálogo e convívio entre todos nós.
Higiene? Ora querem lá ver, que é isso?
Os tempos correram, as coisas mudaram, os mercados passaram a realizar-se em recintos construídos supostamente para esses fins, ou seja, para que se passassem a comercializar todos aqueles produtos hortícolas, carnes, peixes, frutas, etc., sob rigorosas condições de higiene na defesa da saúde pública, dos consumidores, mas também com a finalidade de criar condições dignas de trabalho aos que se dedicam a esse tipo de comércio. Nem sempre tal aconteceu.
Infelizmente, e por aquilo que me é dado ver e apreciar na nossa terra, tais superfícies não são consideradas prioritárias, antes marginalizadas pelos interesses económicos de outro tipo de superfícies mais apelativas, porque fornecedoras de toda a variedade de artigos. É o “cash and carry” na sua expressão maior.
Por vezes dou comigo a pensar por que razão hoje, cada vez mais e num número crescente de localidades, se refaz a história dos mercados medievais e diga-se de passagem, com cada vez maior adesão das nossas populações.
Saudosismo, cansaço e desencanto do “cash and carry” ?

Que me responda quem souber.   

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