quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Gaitada da Decadência - Habemus Tudo! PUM!







Habemus Papam! O Cristianismo e a Evangelização da Europa.
Pum! Pum! Pum! Habemus fogo-de-artifício e uma taxa de desemprego digna de um continente civilizado!
Habemus José Sócrates e barulhinho!
Marcel Proust, “Em busca do tempo perdido”, foguetes e Marco de Canaveses num romance de três volumes.

Bem-vindo, leitor sempre amigo, sempre fiel, sempre leitor! Raio de chuva que não passa! Como vais? Como foi a tua Páscoa? Ouviste a badalar do sino dizendo “tem lêndeas- tem lêndeas - tem lêndeas”, como dissera Torga num dos seus contos? O da criação do mundo. Esperamos que sim! E esperamos que tenhas tido uma Páscoa sem cortes, isto é, sem mais cortes! É que, por este andar, até a própria Cruz e o próprio Cristo terão de pagar imposto sobre a fé e crenças. Mas tudo pago em duodécimos, pois de dízimos viveu a igreja instituição durante séculos.
Habemus Papam! Quem diria? Um papa argentino, da América Latina, de um continente outro que não a Europa. Será isto um sinal dos novos tempos? Será a Igreja outrora evangelizadora e senhora da Europa e mundo a ser a evangelizada e ensinada? Bem, parece-nos, pelo que temos visto e ouvido e lido que lições de Pobreza, Humildade, Carinho, Perdão, Fraternidade e Paz são muitos dos pendões deste novo papa de nome Francisco, igual àquele de Assis que, sendo nobre, tudo deixou para viver com o “irmão Sol e com a irmã Lua”, ou àquele Xavier evangelizador das Ásias de outros tempos e tempos outros, missionário. Mas não sejamos assim tão partidários, senão dir-nos-ão que não somos imparciais e que estamos, cegamente, defendendo a Igreja. Nada disso! Cada um pense o que quiser, pois cá, bem, pois, cá, nós gaitamos como bem nos aprouver, enquanto não houver comentários, pois nunca os há, vamos lá saber o porquê disso, e assim, gaitamos contra e a favor de tudo e de todos e de ninguém e de Deus ou do Diabo!
Mas, ainda agora começamos, bravo leitor, desbravador destas palavras fracas e nada zombeteiras! Habemus muita coisa, muitos assuntos, outros, para gaitar de forma estridente, sem escrúpulos e com medo da Troika! Habemus tudo! PUM!
O tempo continua chuvoso, Beethoven chega-nos através do nosso egoísmo e medo de mostrarmos ao mundo o outro lado da tempestade. Ora porra! Mas que vem a ser isto?! Desculpa-nos, leitor amigo. Pelo cão! Deu-nos um laivo primaveril ou lá o que foi isso na ponta dos dedos. Às vezes as mãos são mais rápidas que a vontade. E falamos de mãos de fome. Mãos com vontade de altos voos.
Habemus, outra vez, José Sócrates! Veio o homem directamente dos anfiteatros da Sorbonne 4 para as arenas portuguesas da RTP 1! Os dois jornalistas, da ludus laranja, mercenários ou doctores, deram os seus golpes, fizeram as suas feridas, mas Sócrates, do alto da sua capacidade oratória, usando o gladium que Górgias lhe ensinara sob as oliveiras de Delfos, foi-se desviando de assunto em assunto, quando estes não interessavam e convinham, pois, quando a causa era o dominus Cavaco o gladium parecia ter vida própria e ser incisivo nas armaduras constitucionais deste país República. Ai, leitor fiel, Sócrates é tão amado e odiado que a multidão que o ama e odeia acaba por ter pão e circo para os dois lados. Pena que esse pão não seja distribuído por todos os pobres. Pena que esse pão esteja dentro dos partidos. Pena que esse Pão e esse circo aconteçam dentro do Parlamento, à hora do chá e dos bolos, e do brioche, pois Maria Antonieta não passava sem ele e, com certeza, domina Maria Cavaco Silva não passará sem eles, ou sem os pastéis de Vouzela. Blague!
Proust andava em busca do tempo perdido, já as nossas mãos parecem cair com as suas finas penas, o seu monóculo de chuva e o seu sobretudo, em busca do dinheiro perdido por este concelho. Quase que conseguiríamos fazer um romance em volumes como o fez Proust. Não seriam sete volumes mas três. Não seria uma catedral como a “Recherche” mas que daria uma grande barraca daria! Ou Gaitada.
Num primeiro volume teríamos “Em Busca do Dinheiro Perdido – do lado direito do Tâmega”. Ah! Maravilhas da Literatura! Oh delícias estúpido-literárias! Seria um romance doce onde o leitor amigo deliciar-se-ia com os milhares de euros estupidamente gastos em fogo-de-artifício no Domingo de Páscoa. As carrinhas cheias de canas e fogo preso. A azáfama de quem prepara tudo isso. A alegria de uns quantos parolos sentados nos seus automóveis, ao longo do rio e da ponte de Canaveses, com a igreja de Sobretâmega e São Nicolau mudas e envergonhados com o estrondoso e estridente barulho de umas quantas explosões de pólvora! PUM! PUM! PUM! Enquanto estouram milhares de euros em cerca de quinze ou vinte minutos ou menos, há mais cinco desempregados; enquanto as canas se erguem contra os céus implacáveis há mais uma família sem pão. Mas isso não interessa! Haja fogo para que possamos e tenhamos pretexto para pegar no automóvel, vestir uma roupa nova que, talvez ainda nem paga está, ou ficou em dívida interminável, estacionar ao pé do rio ou noutro lugar e maravilhar-se com este espectáculo digno de Marco de Canaveses. Um PUM pelos onze concelhos que são piores que este para se viver. Pois por cá somos o 12º pior. Coisa pouca. PUM! PUM! PUM! PUM! PUM! PUM!PUM! PUM! PUM! PUM! PUM!
No segundo volume teríamos: “Em Busca do Dinheiro Perdido – à sombra dos buracos financeiros nos buracos do centro da cidade.” Este seria um volume, todo ele matemático, com laivos de uma poesia de influência francesa tida como OULIPO, isto é, Ouvroir de Littérature Potentiel, pois o que teríamos em potência seriam dívidas e buracos pelo centro da cidade. Ah! E três milhões de euros enterrados em cerca de quinhentos metros entre as bombas de gasolina da BP e de uma rotunda perto de uma tal farmácia. Esse romance seria uma delícia, os leitores, amigos e fiéis, iriam viajar por passeios já marcados pelos pneus dos autocarros que não conseguem fazer manobras, depois iriam sentir o rugoso paralelo velho enlatado no chão, murmurando palavras de velho, praguejando contra o empreiteiro, a empresa e os calceteiros! Por fim, depois do encontro romântico entre o Orçamento municipal e a empresa que ganhou o direito à destrutiva ideia de reconstruir o centro daquilo a que chamam cidade de Marco de Canaveses, o nosso amável leitor teria a oportunidade de assistir a episódios de amor ardente, de falta de esgotos pelo concelho, de enamoramento poético e falta de água canalizada, de encanto primaveril e de hipocrisia social. Ah! Que romance! Que obra de arte!
No entanto, a Pièce de Résistance seria mesmo o terceiro, último e derradeiro volume desta saga, desta epopeia. Qual Ulysses, de Joyce! Qual Guerra e Paz, de Tolstoi! Qual Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski! O seu título seria: “Em Busca do Dinheiro Perdido – Um Marco em nada!” Este seria um canto épico. Seria rodeado de epítetos a Marco de Canaveses.
Teríamos poesia digna de uma tasca cheia de bolor e podridão:

 Uma cidade bela e encantada
 uma cidade de empreendimento
 O Marco em tudo e em nada
 Um Marco sem água nem saneamento.

E as rimas saloias por aí continuariam, seríamos o poeta-mor da cidade e o orgulho da Douta Escola marcoense! Blague!
Mas não!, os epítetos têm mais alcance. Um Marco na vergonha! Um marco na pobreza! Um marco na desigualdade! Um Marco no desemprego! Um Marco na mentira! Um Marco na hipocrisia! Um Marco na inveja! Um Marco na pequenez provinciana! Um Marco no obscurantismo intelectual! Um Marco na poluição! Um Marco nas filas de espera! Um Marco na incompetência municipal! Um Marco parado no tempo! Um Marco na corrupção! Um Marco na VERGONHA! Enfim, leitor amigo, um Marco na merda… Não achas que está na hora de mudarmos o rumo desta cidade, deste concelho?
Acredito que depois da leitura destes três grossos e pesados volumes estejas cansado, tonto, perdido. Descansa um pouco, respira fundo, fecha os olhos. Agora pensa connosco? Vais continuar a querer todos estes epítetos para a tua cidade?
Se queres mudar, abre os olhos, lê os sinais dos tempos, está atento ao que se passa, presta contas com aqueles que estão no poder. Se queres permanecer neste estado, bem, boa sorte e boa viagem até à próxima festa onde haja fogo de artifício! PUM!
Vamo-nos rir, pois!

4 comentários :

  1. Caro José Vieira

    Que pessimismo!Que azedume!
    Como o compreendo! Nem tudo está perdido. O Marco tem uma juventude que noa orgulha e depois ... meu caro, não se esqueça do cabrito com arroz de forno regado por um verde da rota dos ditos.
    Aliás, nada que os nossos políticos desconheçam - as negociatas fazem-se sempre com os joelhos debaixo duma mesa farta, ainda que tenham que alimentar uns tantos que se contentam com migalhas.

    Um abraço
    João Valdoleiros

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  2. Prezado Dr. João Valdoleiros

    Não é assim tanto pessimismo. Chamemos-lhe antes o zombar através da Filosofia do riso ou do sorriso.
    Há aspectos a louvar, é certo, mas a Gaitada, por ora, ficar-se-á pela ironia dos costumes. Senão não seria Gaitada, não é? Veja, leia estas Gaitadas como se fossem filhas bastardas de Gil Vicente e de Eça de Queiroz e Ramalho Oritgão.
    Ridendo Castigat mores.
    Um abraço

    José Vieira

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  3. Caro José Vieira

    Não me peça para ler as suas Gaitadas como se fossem filhas bastardas dum Gil Vicente, dum Eça de Queiroz ou dum Ramalho Ortigão. Antes considero que o seu mérito ombreia com autores daquele gabarito. Creia que auguro para si um futuro brilhante, portanto, não se desvalorize.
    Desde a primeira hora que acompanho as suas gaitadas e considero-as não só, mas também, um autentico lenitivo para as "dores", que a vida política tem causado à minha mente.
    No meu anterior comentário à sua última gaitada, pretendi somente, mas não terei sido claro, usar também da ironia ao acusa-lo de pessimista e de azedume. Não fui feliz!
    Na sua idade não se perde a esperança, não se vive em pessimismo. Coisa comum e notória na minha. Já deixei de vislumbrar a luz no fundo do túnel.
    Perante tudo só me resta dizer "Habemus escritor, pum!"

    Um abraço
    João Valdoleiros

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  4. Prezado Dr. João Valdoleiros

    Agradeço as suas amáveis palavras e queria, também, dizer-lhe, que entendi a sua fina ironia, simplesmente quis dar aso à conversa, para poder aprender um pouco mais, consigo e com as suas palavras. A Gaitada da Decadência foi uma ideia que me surgiu desde a Leitura de "As Farpas" de Eça e Ramalho, algo que foi aprofundado após um estudo mais exaustivo dos autos de Gil Vicente, isto já lá vão uns dois anos. Porém, só há uns meses é que foi posta em prática, em prática não, no papel e no ecrã.
    Aproveitei o mote e o leitmotiv e lancei-me. E, como sabe, este nosso concelho, esta nossa cidade, bem que precisa de umas gaitadas. Precisa que gaitemos! Qualquer sugestão que queira ver representada e gaitada, disponha!
    Um abraço

    José Vieira

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