sexta-feira, 29 de junho de 2012

Associações académicas, a minha visão por Luís Soares


Não posso abordar o tema em questão sem primeiro falar do “meio”, ambiente ou o que lhe quiserem chamar. O “meio” como é sabido assume-se como um dos mais importantes pilares para a formação da personalidade de um individuo. Pois muito bem, eu como sou uma pessoa que acredita que é através do “meio” que se potenciam vivências, oportunidades, qualidades, defeitos ou até mesmo clientelas, devo frisar que a minha grande incubadora foi Coimbra, a cidade universitária que com quem tanto aprendi e me influenciou.

Em Coimbra enquanto estudante fiz dezenas de amigos, centenas de colegas e milhares de conhecidos, fartei-me de aprender coisas novas, discutir, estudar e politicar, mas também de sair a noite, socializar e apanhar bebedeiras de não me lembrar no dia seguinte. Em Coimbra aprendi a cozinhar e a fazer a amor, a rir com amigos até a barriga doer e a chorar sem conseguir parar. Ali tenho a certeza que fiz os melhores dos amigos e dos amores e tive as melhores das aventuras. A Coimbra cheguei rapaz tenro e de lá sai homem feito com sentido crítico e de opiniões formadas. Só há uma coisa que Coimbra não me ensinou nem sequer fez questão em me avisar: “o que é bom, não dura sempre”, e, presunção aparte, o que é certo é que por ali vivi e experienciei mais do que alguma vez possa ter imaginado.

Na academia costuma dizer-se que um ano bem vívido em Coimbra equivale por cinco. No meu caso devo dizer que essa foi uma máxima da qual eu fiz bem uso, e muito por culpa da minha paixão pelo associativismo estudantil e enquanto membro activo da Académica de Coimbra (AAC).

Como dirigente associativo passei por variados cargos, claro está que uns foram mais trabalhosos que outros, mas todos eles muito enriquecedores do ponto de vista intelectual e de experiência profissional. De entre outros, tenho que dar especial destaque à ocasião em que fui individualmente eleito para a Comissão Central da Queima das Fitas de Coimbra 2009 onde assumi o cargo de comissário da produção, sendo o responsável máximo por toda a produção da Queima das Fitas naquele mesmo ano. A fantástica oportunidade de poder participar e organizar uma festa tão grandiosa como a Queima das Fitas, de lidar com todo o tipo de personalidades, artistas, bandas etc., e o trabalho em equipa com colegas magníficos em torno de um objectivo comum foi de facto a experiencia mais espectacular e inesquecível que algum dia tive o prazer de estar envolvido.

Contudo, e experiencias de lado, hoje sou só mais um entre milhares de outros jovens portugueses que decidiram fazer a vontade a alguns irresponsáveis políticos em emigrar e contribuir para a riqueza das economias de outros países.  

Neste texto adoraria apenas focar as vantagens e pontos positivos das associações académicas e a sua importância no consequente mercado de trabalho, no entanto penso que todos nós sabemos bem o quanto estas são benéficas e quão essenciais são aos meios estudantis.

É indiscutível o valor e a importância das associações académicas a todos os níveis, quer o que elas representam historicamente quer principalmente o que elas significam no âmbito cultural, desportivo e da tradição para as cidades e comunidades onde se encontram, quer mesmo para o próprio país... É simplesmente imensurável. Diga-se que a cidade de Coimbra teria sem duvida menos encanto, se não tivesse a constante dinamização da AAC e das suas 16 secções culturais e 26 desportivas, grupos académicos, organismos autónomos e até mesmo das festas académicas, Latada e Queima das Fitas.

Até aqui tudo bem. O problema que eu queria chamar atenção tem a ver com a forma como estas associações são, por vezes, encaradas por certos dirigentes associativos. Da minha experiencia algumas ilações tirei, é que de tantas pessoas com quem me relacionei pela minha passagem pelo associativismo estudantil, só encontrei dois tipos de personalidades e feitios: a) as que estavam lá por amor a camisola e aos projectos que abraçavam sem sequer pensar em quaisquer contrapartidas e b) as que só lá estavam por motivos pessoais, e pior do que tudo por ambições políticas e partidárias. Infelizmente este é um problema que é transversal a todas as associações académicas do país.

Mas como diz o ditado “o exemplo deveria vir de cima”, e a verdade é esta, de cima não tem vindo grande coisa nos últimos anos, a nossa sociedade está doente e apática, e muitos dos nossos dirigentes políticos são oportunistas e incompetentes. Então porque é que certos dirigentes associativos deveriam ser diferentes e pensar noutras coisas sem ser neles próprios?

Faz-me uma certa confusão a forma como muitas pessoas olham para as associações, federações e núcleos académicos, mas mais confuso fico quando as mesmas pessoas, com 20 e poucos anos, as vejam meramente como trampolins para cargos remunerados (ou não) em partidos políticos, Jotas, empresas públicas e até mesmo para os gabinetes dos ministérios e secretariados de estado, para que dessa forma se tornem políticos profissionais a tempo inteiro e evitem a tão árdua passagem pelo mercado de trabalho. (Note-se que muitos dos nossos deputados e governantes seguiram a risca o que mencionei, dando inclusive origem a tão célebre expressão “Jobs for the boys”).

A meu ver, a também infeliz promiscuidade entre as direcções das associações académicas com os partidos políticos e as juventudes partidárias em nada ajuda a melhorar este cenário. Os joguinhos do poder da treta que muitos jovens politiqueiros com cérebros formatados de um discurso fácil, dotados de técnicas de cacique ensinadas pelos seus mentores políticos utilizam nas campanhas eleitorais das associações académicas para que desta forma arranjem mais umas quantas assinaturas e afiliações e posteriormente possam controlar e manipular as mesmas associações, deixam-me tão desiludido como os demais que se deixam levar facilmente por falsas promessas de manjedouras políticas. 

Posto isto, não quero que o meu discurso seja mal interpretado e muito menos “que paguem os justos pelos pecadores”. Não critico pessoas. Critico sim ideias, manias e defeitos que se foram acomodando na nossa sociedade ao longo dos tempos sem que nos dessemos conta e que são tratados levianamente de como se fizessem parte do nosso ADN. Que fique bem claro que tenho o maior apreço e respeito por todos os dignos dirigentes associativos, que tanto do seu tempo pessoal dedicam, e as grandes causas da comunidade estudantil e civil que abraçam. (Aos outros é que nem tanto).

Por ultimo, as associações de estudantes em todo o seu esplendor e eclecticismo são excelentes dinamizadoras dos meios estudantis e revelam-se fulcrais no desenvolvimento pessoal de particularmente por quem por elas passa. As associações formam, educam e ensinam e são sem dúvida mais enriquecedoras do que qualquer estágio ou experiência profissional não remunerada. Sensibilizam, organizam e mobilizam mais do que qualquer outra entidade e possuem um portentoso activo que ninguém pode controlar ou mandar calar, “Jovens Irreverentes”. Esses são os que mais fazem falta, os que ousam por paixão e dedicação, e os que acreditam que o que está mal pode mudar.

Luís Soares
(Independente partidário, relativamente dependente das vitórias do FCP)  

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