quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um breve dizer, um longo sacrifício

Lembro-me que há dias sua santidade havia dito que os homens tinham arranjado um eufemismo para a morte dos idosos, para a razão de todo aquele doloroso sofrimento. Essa palavra seria nada mais do que «eutanásia».

O mesmo poder-se-á aplicar aos nossos políticos e aos que fervorosamente lhes mantêm apoio incondicional. O que temos assistido, neste últimos anos de governação PSD/CDS, é a um aproximar flagrante do abismo, onde os sacrifícios exigidos aos portugueses foram tomados em vão, ou não será do vosso entender que o desemprego de milhares de nós, a fome galopante que os interesses económicos e o sector bancário impingem, a completa estagnação da economia e a queda livre do investimento nos tornam um país pior?

Como podemos dar uma chance ao mesmo Passos Coelho que disse que o «estar desempregado era uma oportunidade»? Como o podemos dizer aos contribuintes que investiram na educação e na formação dos jovens dos dias de hoje que foi tudo em vão? Afinal de contas, emigraram mais de 165 mil jovens. Os beneficiados, como sempre, são os países que os receberão: não lhes sendo dispendiosa a formação, é com bom grado que recebem jovens qualificados para desenvolver os sectores mais diversos.

Ah, um momento. Esqueci-me que estão em preparação de eleições e portanto o país tem estado melhor. Já se adoptam palavras como «crescimento» e «emprego» ao invés da já referida estagnação e desemprego; o que se esquecem de dizer é que, e permita-me o senhor tal franqueza momentânea, esses dados estatísticos não passam de pura demagogia. Senão reparemos: os níveis de desemprego em Portugal descem porquê? Porque a classe média e os recém-formados emigram, bem como os que não estão inscritos no centro de emprego, e é por isso que, não sendo contabilizados, o desastre passa de uma hipérbole para um eufemismo.

Continuam a esquecer-se do essencial. Continuam a passar despercebidos ao facto de sermos um país sem uma agricultura sustentável onde importámos mais de 60% da alimentação; onde os nossos barcos são essencialmente artesanais e, por isso, não rentáveis para as pescas num mar longínquo em que a refrigeração é crucial; onde o interior é desertificado, sem nenhum investimento, sem nenhum incentivo que potencialize a entrada de novas empresas para desenvolver essas regiões fantasma…
Tentam convencer-nos que as exportações tendem a aumentar. O que não esmiúçam é que, efectivamente, exportar demasiado nem sempre é sinal de ‘peso’ na economia. Somos um país que depende em mais de 60% do turismo e onde as exportações não têm um valor acrescentado forte e capaz de competir no mercado internacional. Exportar têxteis e vinho não é suficiente. Falemos da Alemanha e tiremos dos alemães os bons exemplos: refiro-me a um país que não tem quase nenhuns recursos no solo, mas que, ainda assim, é dos países com a indústria pesada mais forte, que transforma, p.e, o cobre em produtos de grande valor acrescentado no mercado; ou então falemos da indústria automóvel, que exporta quantidades bíblicas de Mercedes para os EUA. E é por acaso que isto acontece, meus amigos? Não, não é. Tiveram e têm uma grande visão para o seu país e sabem aquilo que realmente querem. Só isso.

Mas não me venham com ilusões. Uma breve palavra como «flexibilização» é só um eufemismo barato que um ignóbil qualquer usa no parlamento, vamos lá ver, até soa bem.
Como a eutanásia encobre a morte, a flexibilização encobre a degradação das condições dos portugueses como nunca antes se viu. Essa é a verdade. Nua e crua.

Álvaro Machado – 02:26 – 28-03-2015

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