quarta-feira, 8 de maio de 2013

A Gaitada da Decadência - Um Marco de Letras?




Super Bock e os finalistas.
Ovos com favas e chouriço acompanhados de um absinto digno de Baudelaire, o flâneur e cretino!
Um Marco de Letras? Onde?


            Ora viva, caro leitor amigo, por onde tens andado? Que tens lido? Que museus, mesmo online, tens visitado? Que maestros tens ouvido? Não me faças perguntar-te que revistas cor-de-rosa tens lido nem que novelas ou reality shows andas a ver! Como vais? Bem, assim o esperamos!
            Ah! A maravilha que são estas semanas de Maio por este bendito país, de Norte a Sul, pois são semanas repletas de folguedo, boémia, Super Bock, música, Super Bock, tunas, Super Bock, queima do grelo e das fitas, Super Bock, e, não podíamos esquecer, cerveja! Ou Super Bock? Bem, esta parece ser a imagem geral, digamos, o apanhado do que é a semana da Queima das Fitas, em Coimbra, e das festas académicas, no resto do país.
            Desculpa este nosso elitismo pseudo-alcoólico-parolo-académico, pois parece-nos que setecentos e vinte e três anos de história e cento e vinte e seis anos de tradições académicas, fazem-nos falar só da realidade por nós conhecida, pois é em Coimbra que estas mãos calejam, sendo nutridas amavelmente pela ALMA MATER da faculdade e da Universidade.
            Mas a vida académica também tem destas coisas! Há que haver folguedo e boémia e estroinice! Basta relembrarmos Eça de Queirós em “Um Génio que era um Santo” para vermos como Coimbra e a vida universitária não era só calhamaços e “sebentas” vomitadas pelo alto da cátedra dos doutos professores!
            Independentemente de toda essa festança, há quem ainda estude, há quem esteja preparado, pois vejamos os prémios que estas Faculdades têm ganho a nível europeu e internacional! Ainda há pouco a revista Time considerou a Faculdade de Letras como a melhor da Europa.
            Ora, algo vai mal então! Ou há muita estroinice e ovos com chouriço e massa cinzenta à mistura, ou então há massa cinzenta a pensar, sem ovos nem nada, o que é pena, isolada do mundo académico, fechada, perdendo importantes momentos da sua vida, pois “não deixes para amanhã o que podes queimar hoje” anuncia a entrada do Parque da Canção embalado pelo Mondego.
            Mas chega de tanta publicidade, de tanta propaganda aos universitários e à Academia! Todos eles são uns burros, uns parolos! Todos eles têm a mania que sabem muito, que são os maiores. O que eles têm a mais em mania perdem-no em humildade! Será? Será, leitor fiel e benévolo? Que geração neste país está tão bem apetrechada para o Futuro como esta? Que geração outra melhor que esta para mudar o país? O acesso à cultura é imenso e universal, é certo, mas isso não quer dizer que saibamos mais hoje do que sabia Aristóteles! Nada disso! Há ainda muitas cavalgaduras e pedras com olhos por esta cidade, por este país e por esse mundo! Mas a humildade, a humildade é que se perde em todo o lado! Já dizia um professor destas mãos: “Só a humildade traz a segurança e a confiança”. E a verdade é que a voz que profere estas palavras é um dos maiores especialistas em Camões! Um dos discípulos de Vítor Manuel de Aguiar e Silva! Vejam lá a falta de humildade deste homem! De tão prestável e atencioso que é com os alunos e colegas perdeu toda a humildade, pois foi corrompido por esta geração sem futuro, ignorante, convencida e nada capaz de mudança! Oh Elegíacas odes de Horácio! Oh Estóicas palavras de Ricardo Reis ao pé desse rio que é a vida! Tanta coisa para quê?
            Parece-nos que estamos a fugir do tema a que nos propusemos e a hora vai adiantada, pois há um prato de ovos escalfados com favas e uma caneca de traçadinhoà nossa espera!
            Ora, o que interessa é que esses finalistas, a maior parte deles merecedores e portadores de bolsas académicas de mérito e louvor, festejam agora pelas ruas das cidades do país, bebem e cantam! Mas fazem mal! Muito mal! Não é agora que devem fazer essas “figuras tristes”. Devem fazê-las quando estiverem instituídos e forem capazes de proferir sábias(?) palavras sobre tudo e nada. E quando tiverem um emprego, aí sim, que se embriaguem, que cheguem atrasados ao trabalho, que percam toda a humildade que ganharam em casa, ao longo dos anos e com os professores, pois esse é o momento ideal para a estroinice, não as festas feitas propositadamente para a estroinice e a celebração do final de uma importante etapa da vida académica, familiar e pessoal de cada um. Ou então, virem políticos! Não precisam de um curso superior, ganham bem, podem dizer o que bem lhes apetece e ainda são aplaudidos! Ou então, intelectuais de bolso!
            Coa breca, leitor amigo! Hoje estamos tão moralistas! Parece-nos que, em vez de uns monóculos snobs, que são os nossos, e do ar convencido que temos por hábito usar, preferimos uma batina e um púlpito para declamar, qual Vieira! Mas Padre António Vieira está morto. O imperador da Língua Portuguesa já lá vai.
            Ficaram os livros e as bibliotecas atoladas desse pó de séculos que de nada e para nada serve! Para que serve a Literatura? Mas, porque falamos em livros, não nos podemos esquecer da inesquecível e inolvidável feira do livro de Marco de Canaveses! Oh delícias estético-literárias! Oh provinciana mentalidade que te julgas tão alta e sabedora! Oh obscurantismo quase semi-diletante e saloio! Oh dicionário do qual vamos ter necessidade e tivemos para saber o significado das palavras! Não o da língua, o da vida!
            Quanta Literatura se viu por lá! Quantas personagens! De ficção ou da realidade? Ou da falta dela? A delícia que era deambular e vaguear, qual flâneur baudelaireano, pelas tendas ou lá o que era aquilo, em busca de livros! Que verdadeira Demanda! Não do Santo Graal! Antes do Livro. O suor desperdiçado, em conjunto com os minutos de vida, por aquelas barracas, na tentativa de encontrar um Eça, um Pessoa, um Camilo Pessanha, um António Nobre, um Proust, um Kafka, enfim, um escritor! De quando em vez, lá encontrávamos, por entre o entulho em forma de páginas de papel com palavras um ou outro grande escritor e grande livro, mas coitados! O que esses sofriam! Ninguém os queria, ninguém os segurava na mão para sentir a suavidade das suas palavras; ninguém os acariciava nem comprava! Eram livros órfãos, aqueles únicos que devíamos ler! Já o entulho era uma maravilha! Muitas cores e títulos espectaculares e estrondosos! Eram livros sobre a vida dos outros, como emagrecer em dois meses. Parece-nos que até havia livros que ajudavam a pensar. Mas tudo era maravilhoso e fantástico! Nem um Edgar Allan Poe conseguiria escrever um conto tão fantasioso e esplêndido. As pessoas pareciam ter medo dos livros e da cultura! Pareciam mesmo! Olhavam de lado para aqueles pequenos grandes órfãos com medo que eles mordessem e magoassem. Quem disse que a Literatura não é nociva? Quem disse que não é necessário partir pedra para entendermos um Livro?
            Pelo cão, amigo leitor! Agora passamos de orador a retórico! Como isto anda, fiel leitor, como isto anda!
            O que parece não andar é a Cultura, e, neste caso, a Literatura, por marcoenses terras, pois todos tinham medo daqueles livros, mas todos deliciavam-se com coisas outras que não a Literatura ou a Cultura ou a Arte! É com humildade que escrevemos estas palavras, pois as nossas mãos também vadiaram por essa “feira do livro”. E gaitamos esse "Marco de Letras "?porque esteve parado e acomodado, quando houve sugestões e iniciativas outras que não as não-iniciativas que houve! Mas calemo-nos! Calemo-nos! Calemo-nos, irra! Escutemos o choro, o pranto dos poetas e escritores que por lá andavam, presos nos livros, claro está, pedindo água e liberdade e um pouco de luz para a cidade e concelho de Marco de Canaveses, não esqueçamos NUNCA!, com orgulho e amor, o 12º pior concelho do país para se viver! Um Marco de Letras? Onde?
            Vamo-nos rir, ou vamos revelar, todos juntos, a Arte e a Literatura pela nossa terra?
            Depois, fazemos essa coisa da Arte e essas tretas que para nada servem e das quais nada sabemos nem entendemos.
            Por agora, vamo-nos rir, pois!

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