terça-feira, 30 de junho de 2015

Dias cinzentos para o Governo Português

Guardo sábias palavras na minha memória. Uma das que mais fazem sentido, nos dias de hoje, são certamente as de Ricardo Araújo Pereira: «Eu prefiro não ser racional no futebol, não o sou de todo, mas sou-o na política. Sou muito racional. Vejo as coisas imparcialmente e contesto o que está mal. Agora, não me peçam é para defender custe o que custar um partido, uma cor partidária.».

O coligação PSD-CDS tem passado, nos últimos dias, um período menos reluzente no seu percurso governativo, claro que, com isso, supõe-se que algum dia foi passado assim. Façam vocês as vossas suposições.

i. O Tribunal de Contas pronuncia-se, em pleno dia de sol, quanto à privatização da EDP e da REN. O governo não «acautelou os interesses estratégicos do Estado Português após a conclusão do processo de privatização.»

E aí está: eis como destruir num ápice toda uma crença abléptica dos simpatizantes deste governo e da sua política de privatizações. Mas não façamos por menos, desde já ressalvando o papel fulcral da Parpública em todo este processo: permitiu, em todo o caso, que o BESI (Banco Espírito Santo Investimento) fosse avaliador do Estado, inicialmente, e fosse, à posteriori, consultor das empresas que manifestaram interesse no negócio.

Não se comecem já a rir. Contenham-se mais uma bocado, por favor. Vamos supor que o BESI foi honesto e não proporcionou conflitos de interesses nesta matéria, parece menos grave a coisa? Parece-me que sim, eu também concordo; mas revertam o sentido disso: vamos agora supor um cenário hipoteticamente mais drástico: que a CTG e a State Grid não cumprem o acordo... Pasme-se, o governo não colocou qualquer cláusula no contracto em caso de incumprimento!
(Agora sim, partam-se a rir...)

ii. Por cá, já estamos habituados a uma particularidade de Portugal aquando que comparado com outros países da União Europeia: quando se trata de progresso, desenvolvimento na estrutura produtiva e do tecido empresarial, redução da despesa do país ou crescimento económico mantemos a fasquia no lixo; em contrário, se estiver a ser avaliado os níveis de desemprego, de fuga de impostos, de corrupção..., aí já somos colocados na ribalta.

Hoje foi o dia de nos lavarem o rosto impregnado de mentiras: Portugal tem níveis de desemprego nos 13,2%, ficando assim no 5º lugar dos países com mais desempregados da UE; já no desemprego jovem, subimos mais uns pontos, ficando assim com o 4º lugar dos países com mais jovens desempregados (33,3%).

Em suma, apesar de certos indivíduos não terem qualquer consciência do estado em que realmente está o nosso país, os dados continuam, diariamente, a prová-lo em contrário. Esperemos avidamente pelos sorrisinhos de Paulo Portas e de Passos Coelho.

Álvaro Machado
 - 21:19 - 30-06-2015

domingo, 28 de junho de 2015

Contra tudo e contra todos.

O mundo é feito de dualidade de critérios, umas vezes chocam-se sem motivo, outras tornam-se passivos com o turbilhão que surge.

Agora o tema reside no referendo que a Grécia decretou para o povo decidir sobre o seu futuro. A Grécia, berço da democracia, não poderia deixar de a exercer em todo o seu esplendor.
Ora, eis que aqui surge a tal dualidade de critérios: espantam-se, alguns, por um governo eleito democraticamente exercer um mecanismo democrático como é o referendo, mas creio que esse espanto advém todo do anti-grécia que inocentemente se tem incentivando; mantêm-se indiferentes, outros, quanto ao referendo inglês no que toca à permanência ou não permanência da Inglaterra na União Europeia.

Aproveito para evidenciar factos também:  um governo de esquerda (que tantas vezes é rotulado de extremismo puro na verdadeira concepção da palavra) tem levado as negociações por bem, moderadamente, sem adoptar nenhuma posição mais violenta que rompa de vez com a permanência grega no euro e, além do mais, se mantém ao longo destes 5 meses no Eurogrupo com as ideias bem fincadas, com uma agenda própria e repleta de propostas que vão noutro caminho que não o da austeridade.

Por isso, deixem-se de guerrinhas quando nem tampouco sabem quem são os verdadeiros oponentes.

Álvaro Machado - 02:03 - 28-06-2015

sábado, 27 de junho de 2015

Indignação popular: morreu um gato.

O país está ao rubro. Enquanto os gregos continuam a ser, ao olho dos credores, os inesperados convidados para uma festa de um amigo milionário, em Portugal a coisa está um tanto mais agitada: o Chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, é distinguido como embaixador da juventude ibero-americano e um gato queimado vivo em Mourão gera uma massiva indignação pelas redes sociais.

Quanto ao primeiro tema, creio haver muito pouco a dizer. Conhecemos Cavaco Silva há demasiados anos e todos sabemos da sua afincada luta ao lado dos mais jovens nas mais diversas situações - manifestações, festas, até mesmo na proximidade que lhes nutre aquando da sua visita ao ensino superior. O muito estranho desta situação, e vós certamente já deste conta disso, é o atraso da tal distinção.

Agora quanto à reminiscência dos tempos da inquisição tidos em Mourão já tenho um pouco mais a dizer. Desde já, repugnar veemente tal acto. Um povo que dadas todas as circunstâncias e todas as histórias do seu país continuar a cometer atrocidades com tamanha irresponsabilidade é intolerável.
Todavia, uma notícia repugnável transportou-se, seguidamente, para uma avalanche de enxovalhos nas redes sociais e, como é sabido, quando é o zé povinho a lançar críticas aos infractores a coisa passa a ser um tanto desajustada aos padrões de racionalidade e de realidade. Passou de um simples acto reprovável para um amontoar de vozes que lançaram injúrias pesadas - até mesmo a morte e o sofrimento impiedosos - aos ditos 'assassinos'.

Ora, pois bem, não se esquecem essas pessoas de outro tipo de crimes bem mais graves do que a morte de um gato? Por exemplo, a escravidão laboral que assistimos reconfortadamente na China? Onde os ditos 'trabalhadores' de todas as gerações, pois é de pequenino que se torce o pepino e por isso hão-de logo trabalhar exaustivamente, se mantém em pé e a trabalhar para além das 16 horas diárias?
Ou não será um tanto mais chocante os sucessivos bombardeamentos e guerras civis no Médio Oriente onde morrem milhares de inocentes e onde a outra metade se refugia para países que certamente serão tudo menos acolhedores na sua chegada? São questões um tanto complexas que a maioria tende por ignorar, visto tratar-se de uma notícia com mais caracteres do que aquelas a que hão-de estar habituados.

O que quererei eu dizer-vos com isto? Creio que nada, ou quase nada. Apenas uma chamada de atenção: quando decidirem criar petições online sobre a morte de um gato, pensem primeiro em criar petições online onde se insurjam contra a frequente violação dos direitos humanos um pouco por todo o mundo, onde os SERES HUMANOS sofrem exploração, onde vivem em condições degradantes e onde muitos outros morrem porque um doido de um autoritário qualquer lhes bombardeou a casa e a família.
Os animais também têm as lutas deles na selva, e os «mais indefesos», como li por alguns comentários online, são presas fáceis para os grandes predadores. Quererão criar outra petição contra a lei da natureza?

Não se acomodem com o que foi feito ao gato, mas também não se tornei histéricos crónicos quando no vosso mundo o que mais há é gente a sofrer sem nunca ter feito mal a ninguém.

Álvaro Machado - 00:19 - 27-06-2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

«A nossa proposta é simples, eficaz e mutuamente vantajosa.»


Ler documento na íntegra


Tenho pena. Pena que os meus governantes insurjam as suas vozes inócuas contra os que transpõem o verdadeiro conceito de democracia, que elevam a sua força além e que não se submetem a um injustificável e redondo não.

E sobretudo é de admirar o gesto nobre com que Varoufakis reconhece os erros do seu país no passado, reconhece que é necessário um conjunto de reformas estruturais para incutir nos gregos uma maior responsabilidade. Tudo isso é possível, mas sem destruir as vidas que estes credores tão massivamente destroem.

Está aqui tudo. Todo o percurso do novo governo grego está, em linhas gerais, nesta publicação de Varoufakis. Como disse, não se escondem nas traseiras da covardia, não se mantêm inertes na demagogia, antes se impregnam de propostas e de vida nova para a União Europeia.
Têm todo o meu apoio. Enquanto alguns lutam pelo seu povo, o meu Chefe de Estado, de nome Cavaco Silva, diz numa visita à Roménia: «Façam um bom oó».

A diferença reside num homem que de político nada tem e que da política nada quer, para um ignóbil que fez do seu percurso politiquice e sempre em interesse e beneficio próprio.

Álvaro Machado - 00:47 - 22-06-2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Não nos rendemos.



Uma palavra de apreço a estes dois senhores que têm lutado pelos seus cidadãos, pelos interesses do seu país e sempre com a intenção de fazer um acordo com os parceiros internacionais.

Recusam a austeridade e recusam-na afincadamente, apesar de terem cedido em algumas das exigências europeias (porque numa união verdadeira há-que saber exigir e ceder no tempo adequado). A austeridade provou-nos como tornar um país já de si vulnerável ainda mais desprotegido, com mais assimetrias e sem mais nenhuma alternativa senão cortes em sectores sensíveis como o são as pensões.

Força. Não cedam perante pressões e interesses económicos. Se o impasse são 2 mil milhões de euros, batam-se de frente, com propostas além-austeridade e não pré-concebidas, porque uma união é mais do que credores, economistas e moralizadores. Uma união é ajudar os que estão no chão a erguer-se novamente, plenos de vitalidade.

Álvaro Machado - 01:20 - 19-06-2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Jorge Jesus: o mito é o nada que é tudo

Num tom menos controverso e menos populista, venho também eu falar do tema que em todos nós causou uma dose de perplexidade desmedida: Jorge Jesus no Sporting, Marco Silva em lado nenhum.

Como um poeta disse outrora: «O mito é o nada que é tudo». Pois bem, é assim que vejo Jorge Jesus: um mito. Apesar de lhe reconhecer mérito enquanto treinador, pois considero-o um excelente profissional com toda uma metodologia que lhe é bastante característica, o facto é que os seis anos passados no Benfica não lhe são assim tão louváveis quanto isso: venceu três campeonatos, cinco taças da liga e uma taça de Portugal, mais nada, absolutamente mais nada (não, desculpem, mas duas finais europeias onde foram DERROTADOS não conta para o palmarés).

Terminou o contracto e, por isso, tinha toda a legitimidade para sair 'glorioso' desta aventura pela capital. Porém, não reconhecendo ao Jesus uma capacidade cognitiva especialmente dotada no que toca a decisões sobre a sua carreira futebolística, eis que choca tudo e todos com um pequeno salto para Alvalade, para o Sporting Clube de Portugal.

Um treinador com um ego assinalável junta-se a um presidente já de si egocêntrico, num clube feito para apostar na academia, mas que agora está de mãos dadas com um fanático por jogadores tudo menos portugueses.

Agora, perguntam vocês e bem, onde fica Marco Silva no meio desta azáfama toda? Sinceramente, creio que nem o próprio nos saberia responder com precisão.
Olhando para os factos, o ex-leão venceu a Taça de Portugal e acabou em 3º lugar no campeonato com um orçamento bem inferior face aos rivais directos, não esquecendo que coabitar com Bruno de Carvalho sensivelmente um ano poderá trazer danos irreversíveis para o seu bem-estar. Mas será isso tão pouco num ano clubístico, primeiro ano como um «grande»?

Marco Silva, que sempre tivera ética e carácter bem definidos, que sempre mostrara disponibilidade para continuar o percurso no Sporting, vê o seu contracto de três anos rasgado e, mais do que isso, sente o veneno que contagia o futebol lentamente entrar-lhe no corpo (sim, o dinheiro, o raio do dinheiro!) sem avisar.

Afinal, o futebol é feito de mudanças trágicas no permeio da podridão antidesportiva. E há sempre os que, ainda inocentes, são apanhados desprevenidos no meio dela.

Álvaro Machado - 01:34 - 05-06-2015

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Marco de Canaveses, um concelho (s)em movimento

Há uns dias, numa reunião do Conselho Municipal da Juventude, que surpreendentemente me pareceu deveras positiva e produtiva, o presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses cita a determinada altura o antigo/atual/futuro(?) slogan do Marco: "porque somos um concelho em movimento". Perdoar-me-á o senhor presidente, mas o que me ocorreu quando lembrou esse slogan foi: 
Hipótese 1 - É ironia autoinfligida.
Hipótese 2 - É o movimento dos que não têm oportunidade de trabalhar/viver no Marco.
Hipótese 3 - É o movimento dos concelhos vizinhos a alta velocidade quando passam por nós.

Não fico feliz em notar que o Marco se contenta com pouco. Não fico feliz em notar que o executivo da Câmara ainda não encontrou uma linha de comunicação que faça passar a identidade do concelho, que promova o Marco fora dos seus limites territoriais.
Mas vá, ainda acredito. Haja esperança.